Bandidos movimentaram quase R$ 70 milhões nos últimos três anos
Na casa do líder do grupo, em Jandira, policiais federais apreenderam uma Ferrari avaliada em R$ 3 milhões (Divulgação PF Campinas)
A Polícia Federal (PF) de Campinas desarticulou dois "braços" de um grupo criminoso especializado em roubos de cargas e caminhões, que movimentou quase R$ 70 milhões nos últimos três anos. A organização, composta por ao menos 30 integrantes, agia em todo o Estado de São Paulo, inclusive na região de Campinas e Sul de Minas Gerais. Em um período de três anos e dois meses, a quadrilha praticou 49 roubos. A investigação apontou que os criminosos tinham padrão de vida luxuoso. A apuração teve apoio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP).
O grupo criminoso agia desde março de 2021 e usava de violência para atacar caminhoneiros, que, em alguns casos, eram abordados enquanto repousavam em pátios de posto de gasolinas. A associação é investigada pelo grupo especializado em repressão a crimes de roubo de cargas e caminhões da PF de Campinas desde 2023. Desde então, ao menos 15 integrantes já foram identificados e presos, em duas outras operações, a Aboiz (2023) e Carcaria (2024).
Nesta nova etapa da investigação, os policiais desmontaram um braço da quadrilha que atuava com o desmanche e receptação de caminhões roubados. Nela, os agentes federais constataram que os veículos eram levados para desmanches em Osasco, onde eram divididos em três partes: chassi, cabine, motor e peças.
Após o desmembramento, as peças e o chassi eram enviados para o Rio Grande do Sul, Paraná e Rondônia, onde os receptadores adquiriam e pulverizavam no comércio como se fossem legais. Os chassis eram adulterados para serem comercializados no mercado negro.
De acordo com o delegado chefe da PF em Campinas, Edson Geraldo de Souza, as peças e chassis eram comercializadas em lojas de autopeças novas e usadas, além de funilaria e mecânica. "As pessoas envolvidas na recepção estão no ramo, que inclusive, que compram veículos salvados, que são aqueles decorrentes de acidentes, de leilão", comentou Souza.
Na investigação, os policiais federais constataram também que em alguns ataques, os criminosos abandonavam certos caminhões alvos do grupo devido ao fato deles terem uma nova tecnologia que impede a interferência do jammer, equipamento usado pelos bandidos para bloquear o rastreamento do caminhão por empresas de monitoramento. Quando eles detectavam a existência dessa tecnologia, abandonavam os veículos para não serem rastreados e identificados.
A quadrilha encomendava roubos específicos com o modelo de carreta que desejavam. O foco eram marcas suecas, como Volvo e Scania, inclusive, o nome da operação deflagrada ontem é "Hammare", que significa martelo, em sueco, uma referência ao principal instrumento do grupo para acesso aos veículos.
Para lavar o dinheiro angariado com o comércio ilegal, segundo o delegado-chefe da PF, os chefões investiam na aquisição de carros de luxo como Ferrari, Lamborghini, lanchas, jet sky e imóveis de alto padrão em condomínios de luxo, além de marcar presença em camarotes vips de shows e eventos.
Na casa do líder do grupo, em Jandira, os policiais federais apreenderam uma Ferrari avaliada em cerca de R$ 3 milhões e R$ 534,8 mil em notas de R$ 100 e R4 50 em maços dentro de caixas que estavam em um cofre localizado no fundo falso do guarda-roupa da casa do investigado, que tem ao menos 21 passagens criminais entre roubos, receptação e furtos. Apesar de a PF não divulgar o nome do homem, a reportagem apurou que se trata de Fabricio Pimentel Azevedo Silva, de 39 anos. "Foi uma surpresa encontrar um carro na residência, pois geralmente não fica. Mas é que eles estavam muito tranquilos e à vontade com a atividade porque já estavam atuando há um certo tempo. Então eles acreditavam que não passaria disso", comentou o delegado.
No total, foram expedidos pela 1ª Vara Judicial Criminal da Comarca de Cajamar, 17 mandados de prisão temporária e 24 de busca e apreensão em municípios de São Paulo, Paraná, Rondônia e Rio Grande do Sul. Pelo menos 110 policiais federais e 100 policiais militares rodoviários estavam envolvidos na força-tarefa. A Justiça autorizou, ainda, o sequestro de bens e valores ligados à organização criminosa que totalizam R$ 70 milhões.
Além do líder do grupo, outras 15 investigados foram presos temporariamente por 30 dias, prorrogáveis por mais 30, entre os quais dois fazem parte do grupo de roubos e já estavam presos pelo crime e receberam a nova ordem de prisão ontem, nove ligados a desmanches - uma mulher não foi localizada -, e cinco receptadores. Durante o cumprimento de mandado de buscas em um endereço em Osasco, foi encontrada uma arma de fogo 9mm de calibre restrito, o que levou a prisão em flagrante do alvo pelo delito de posse ilegal de arma de fogo.
Segundo Souza, o próximo passo da investigação é rastrear todos os bens dessa organização criminosa para descapitalizá-la ao máximo e reunir o máximo de provas, inclusive de outros roubos que ainda não chegaram ao conhecimento da PF. "Nosso primeiro trabalho com esse grupo criminoso foi em cima dos roubadores para desarticular a linha de frente e conseguimos diminuir e impactar essa atividade criminosa. Percebemos que enquanto nós nos aplicamos aos roubadores eles continuaram tranquilamente acreditando que a operação não iria se dobrar ou se desmembrar para níveis mais altos. Mas a Polícia Federal levou com tranquilidade e serenidade e pudemos trabalhar na análise de dados telemáticos, bancários, financeiros e de toda a relação para identificar com exatidão quem eram os integrantes desses dois outros níveis, que movimentavam muito dinheiro", ressaltou o delegado-chefe.
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