Ela é caçada por todas as forças de segurança do país; nem a Interpol consegue encontrá-la
Maria do Pó (esq) usa oito nomes segundo o Conselho Nacional de Justiça; ela chegou a ser presa, mas conseguiu fugir da cadeia (Pesquisa William Ferreira/Cedoc)
Uma das mais poderosas traficantes de drogas do Brasil, responsável por envolver a Polícia Civil de São Paulo em um dos grandes escândalos da sua história, está foragida há 19 anos. Ela é caçada por todas as forças de segurança do País. E nem a Interpol (Organização Internacional de Polícia Criminal) consegue encontrá-la - ela aparece na lista dos criminosos mais procurados do mundo. Sonia Aparecida Rossi, a Maria do Pó, condenada a 54 anos e oito meses por crimes de tráfico de drogas, associação para o tráfico e lavagem de dinheiro, está na lista do Programa Estadual de Recompensa da SSP (Secretaria da Segurança Pública de São Paulo), onde são oferecidos R$ 5 mil por uma informação.
Maria do Pó é classificada como a maior traficante de cocaína da região de Campinas. Mas teve são e poder comercializando grandes quantidades de cocaína e maconha provenientes de países como Bolívia e Paraguai, conforme apontam as investigações. Antes de sua fuga, em 9 de março de 2006, Penitenciária Feminina de Sant'Ana, no bairro do Carandiru, na Capital paulista, já movimentava um esquema poderoso de venda de drogas.
A fuga custou R$ 80 mil, conforme apontaram as investigações. O dinheiro foi destinado a um funcionário do sistema prisional. É assim que traficante mantém a blindagem de sua fuga há quase duas décadas - há informações que a mulher tem promovido a corrupção a agentes públicos para não ser capturada. O seja, ela pagaria valores altos para não ser encontrada.
Mas há perguntas que as polícias Federal, Civil e Militar tentam responder. Ela fez cirurgia plástica para mudar as características do rosto? Vive em alguma das 20 cidades da Região Metropolitana de Campinas? Mora em algum País do Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai, Venezuela e Bolívia) ou na Europa? Ou já está morta? Essa última possibilidade é enfraquecida pelos rumores e informações anônimas recebidas pelas forças de segurança de que Maria do Pó ainda comanda o comércio de drogas.
"Essa mulher, sim, continua procurada. A Polícia sempre faz buscas periódicas", afirmou o delegado José Carlos Fernandes da Silva, diretor da DEIC (Divisão Especializada em Investigações Criminais) de Campinas. Neste domingo a fuga de Maria do Pó completa exatamente 7.059 dias, 1008 semanas e 235 meses.
Maria do Pó usa oito nomes segundo o Conselho Nacional de Justiça(CNJ): Sonia Aparecida Rossi, Sonia Rossi, Sonia Aparecida Rossi Ferreira, Sonia Aparecida Rossi Ferreira Leite, Sonia Aparecida da Silva, Sonia Regina da Silva Gomes e Roseclea de Almeida Paula. E tem sete apelidos: Maria do Pó, Sandrinha, Professora, Velha, Marcola de Saias, Tatá e Tia.
Informações do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo revelam que seis processos contra a traficante já prescreveram. Existe um mandado de prisão expedido pelo CNJ em 2018, que vale até novembro de 2032. Portanto, ela ainda é alvo de uma verdadeira caçada das forças de segurança pelo menos para os próximos sete anos.
O Correio Popular conversou com policiais que afirmam que Maria do Pó tem lugar de destaque na cúpula do PCC (Primeiro Comando da Capital), a facção criminosa que atua dentro e fora do país. Ela seria a principal responsável pelos negócios envolvendo comércio de drogas e lavagem de dinheiro da organização criminosa. Há suspeitas de que Maria do Pó comprou imóveis, comércios e carros em Campinas para lavagem do dinheiro do tráfico.
Ela é chamada entre criminosos como "Marcola de saias". É uma referênca indireta a Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, apontado como um dos fundadores e a principal liderança da facção.
HISTÓRICO
Maria do Pó foi responsável por um dos maiores escândalos envolvendo a Polícia Civil, que culminou com demissões de delegados e investigadores, além de dois suicídios. Ela foi considerada responsável por revelar a existência de uma "banda podre" na instituição que tinha em sua maioria policiais civis que trabalhavam em Campinas. A versão que a criminosa apresentou em seus depoimentos era de pagamento de propinas para que drogas e traficantes não fossem presos e seus negócios atrapalhados.
Essa mulher ganhou notoriedade em janeiro de 1999, quando 340 quilos de cocaína pura, provenientes, da Bolívia, foram apreendidos em um sítio no limite de Indaiatuba com Itupeva. O marido de Sonia Aparecida Rossi foi preso. Ela também estava na propriedade, foi levada para a Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes (Dise) de Campinas e colocada como testemunha. Portanto, não ficou presa. O marido dela e mais dois homens foram autuados.
Cinco dias depois, toda a droga foi furtada do prédio do IML (Instituto Médico Legal), no complexo da Polícia Civil, na Rua Barão de Parnaíba, no bairro Botafogo. A partir de então, Maria do Pó passou a ser apontada como a responsável por um esquema de corrupção de policiais. Ela teria dado R$ 500 mil para recuperar a droga.
Um ano depois ela foi presa. Em 2000, a Câmara dos Deputados instalou em Campinas uma das fases da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Narcotráfico. Durante uma semana, muitas revelações surgiram acusando a participação de policiais civis em um esquema de vantagens ilícitas, com pagamento de propinas para favorecer a atuação do crime organizado em ações de tráfico de drogas e roubo de carga.
Quase dez anos depois, um dos delegados acusados foi absolvido pela Justiça. A fuga de Maria do Pó em 2006 foi possível, também, pela corrupção de um servidor, segundo as investigações.
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