DESAPARECIDO HÁ 17 DIAS

Pai de santo acusado de abuso sexual tem prisão decretada

Religioso pode ser considerado foragido caso não se entregue à Polícia Civil

Rodrigo Piomonte
16/08/2022 às 09:00.
Atualizado em 16/08/2022 às 09:00
Altar da Associação Espiritual de Umbanda Pai Tajubim (AEUPT), casa de oração onde o líder espiritual Domingos Forchezatto ocupou o principal posto da entidade durante 30 anos (Arquivo)

Altar da Associação Espiritual de Umbanda Pai Tajubim (AEUPT), casa de oração onde o líder espiritual Domingos Forchezatto ocupou o principal posto da entidade durante 30 anos (Arquivo)

O líder espiritual, Domingos Forchezatto, 68 anos, desaparecido misteriosamente há 17 dias, teve na segunda-feira (15) a prisão preventiva decretada pela Justiça. Ele está sendo investigado por denúncias de violência sexual que teria praticado contra mulheres frequentadoras da casa de oração Associação Espiritual de Umbanda Pai Tajubim (AEUPT), da qual era diretor. Domingos pode ser considerado foragido caso não se apresente à Polícia Civil de forma espontânea nos próximos dias ou permaneça desaparecido.

Com requintes de seriado da Netflix, o caso envolvendo o pai de santo tem intrigado os policiais que investigam o caso. Primeiro por conta de um desaparecimento misterioso a partir de um ritual realizado em uma área de mata fechada às margens do Rio Atibaia, que é acessado pela chácara que o religioso residia. Depois, por conta do descobrimento de um Boletim de Ocorrência registrado pelo próprio pai de santo, um dia antes do episódio do desaparecimento relatando a perda e o extravio de documentos.

O religioso era aguardado para prestar depoimento em um inquérito na 1ª Delegacia da Mulher (DDM) que investiga os casos envolvendo os supostos crimes de assédio sexual até ser visto pela última vez na madrugada do dia 29 de julho, durante a realização justamente desse trabalho espiritual às margens do Atibaia. A Polícia Civil tenta entender se há alguma relação entre o desaparecimento e o registro do Boletim de Ocorrência. No boletim, Domingos descreve a perda ou extravio de documentos referentes, justamente, à propriedade situada na rua Amélia Rodrigues de Figueiredo, no bairro Vale das Garças, no Distrito de Barão Geraldo, local onde residia e endereço do fatídico sumiço.

O endereço, inclusive, era usado costumeiramente para a realização de atividades espirituais pela comunidade da Umbanda quando Domingos era diretor. Além de documentos da casa, no Boletim de Ocorrência Domingos também descreve a perda ou extravio de certificados de cursos que teria realizado durante sua vida profissional. Domingos atuou por cerca de 30 anos no maior posto da Umbanda na Associação Pai Tajubim (AEUPT), em Campinas. E foi no decorrer dessa trajetória que teriam ocorridos os supostos crimes de violência sexual contra mulheres do qual é investigado. 

A Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Campinas, vinculada ao Departamento de Investigações Criminais (Deic), iniciou uma investigação para apurar o paradeiro do pai de santo, mas até agora ainda segue sem pistas. O delegado divisionário do Deic, Oswaldo Diez Jr., confirmou que a partir da prisão preventiva decretada, ele pode ser considerado foragido se permanecer desaparecido. "A partir da formalização do cumprimento de mandado de prisão a polícia tenta localizar o investigado. Caso ele não se entregue ou nãos seja localizado é considerado foragido" explica.

O pedido de prisão preventiva partiu da 1ª Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Campinas, local por onde tramita o inquérito que investiga as denúncias. Durante a apuração dos fatos, houve relatos de vítimas que contaram ter passado por situações em que o líder religioso exigia que elas tirassem as roupas para dar sequência aos "atos religiosos".

Ainda conforme os relatos à polícia, as vítimas citam situações de forte pressão psicológica exercida pelo religioso e contam que Domingos cometia os abusos enquanto dizia a elas que precisavam da sua 'energia espiritual'. Nas denúncias, as mulheres acusam o religioso de introduzir o órgão genital nelas sob a alegação de que aquele ato, supostamente espiritual, ajudaria no relacionamento delas com os respectivos maridos, já que Exu, segundo os relatos, trabalharia com energia sexual, que é matéria, e, por isso, a necessidade do sexo ser presente nos rituais, que aconteciam sempre quando Domingos estava a sós com as vítimas.

O advogado do líder espiritual, José Pedro Said, tem reiterado não ter notícias de Domingos e a preocupação da família com o desaparecimento. "Não sei o que pode ter acontecido. A esposa e a filha estão desesperadas com o desaparecimento", disse. Na ocasião do sumiço, o pai de santo pediu para ficar sozinho na realização do trabalho espiritual que realizava às margens do rio acessado pela chácara que residia. Duas pessoas acompanhavam o religioso na ocasião e confirmaram à polícia o episódio.

O desaparecimento foi constatado pelas próprias duas testemunhas após a demora do término da atividade religiosa. O comunicado à Polícia Civil foi realizado pela esposa de Domingos, Silvana Maria Porto, 62 anos, no dia seguinte, durante o dia. Equipes do Corpo de Bombeiros chegaram a fazer buscas no rio e na mata, mas nada foi encontrado, apenas os documentos pessoais do pai de santo.

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