Mateus Henrique, dono do perfil ‘FamíliaCity019’ no Instagram, tenta se justificar diante da tragédia
Motocicletas envolvidas em acidente que resultou na morte de 3 pessoas na Rodovia Santos Dumont (Divulgação)
Um evento denominado "rolezinho", na madrugada de sábado em Campinas, resultou em uma tragédia com a morte de três participantes e 27 feridos. Na sequência, o motoboy Mateus Henrique, de 21 anos, dono do perfil "FamíliaCity019" no Instagram, alegou que o evento era um protesto buscando um espaço adequado aos entusiastas e praticantes do malabarismo e "equilíbrio" em uma roda de motocicleta, onde pudessem treinar e praticar o "esporte radical". Contudo, ele também fez uma grave acusação, sem apresentar provas ou evidências, afirmando que o acidente teria sido uma retaliação da Polícia Militar Rodoviária (PMR). Segundo sua versão, a PMR estava com duas viaturas acampadas no acostamento da rodovia e teria ido de encontro ao grupo no sentido contrário. Ele é natural de Nova Odessa e afirmou que tem participado do movimento há pelo menos cinco anos. No entanto, ele não se identificou como um organizador oficial do rolezinho. A Secretaria de Segurança Pública (SSP) afirmou que não teve acesso às imagens que corroborariam essa versão do motociclista sobre a autoria do acidente.
O 9º Distrito Policial (DP) de Campinas registrou o caso como lesão corporal e homicídio culposo na direção de veículo automotor, e todas as circunstâncias do ocorrido estão sendo investigadas. A SSP também informou que a equipe da unidade está identificando os organizadores do evento e investigando a legalidade do mesmo.
Mateus Henrique defendeu a prática do empinar motos, apesar de ser considerada uma infração de trânsito, argumentando que os participantes a veem como uma arte, esporte e forma de lazer. Ele ressaltou que essa atividade tem impacto positivo na vida de muitos jovens, afastando-os do mundo das drogas. Henrique também expressou o desejo de que os prefeitos e vereadores proporcionem um espaço dedicado a essas manobras, citando Belo Horizonte como a primeira cidade no Brasil a destinar uma área exclusiva para tais eventos.
O engarrafamento ocorreu por volta das 2h, na altura do km 72 da Rodovia Santos Dumont (SP-075), no sentido Indaiatuba. Cerca de 200 motociclistas participaram do evento, transitando por diversas avenidas, incluindo o Anel Viário Magalhães Teixeira.
Na madrugada, um comboio formado por motoboys e motociclistas de vários bairros de Campinas, incluindo Santa Lúcia e Castelo Branco, se reuniu para um encontro marcado nas redes sociais, a meia noite. Mateus Henrique, um dos participantes, explicou que o horário foi escolhido para evitar a presença policial e as fiscalizações, pois eles já haviam solicitado autorização e apoio das corporações e municípios anteriormente, mas sempre tiveram seus pedidos negados. A principal demanda do grupo é ter um espaço adequado para praticar sua arte e evitar acidentes fatais. Henrique defende que as punições sejam aplicadas apenas quando houver um local específico para a prática e que os motociclistas não empinem suas motos fora desse espaço.
De acordo com Henrique, aproximadamente 100 mil pessoas em todo o Brasil apoiam a prática do esporte. Os ativistas se organizam em grupos nas redes sociais, incluindo o grupo chamado de "244 artigo", em referência ao artigo 244 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB). O terceiro item deste artigo destaca que "conduzir motocicleta, motoneta e ciclomotor fazendo malabarismo ou equilibrando-se apenas em uma roda é uma infração gravíssima", sujeita a multa de R$ 293,47 e suspensão do direito de dirigir.
O movimento que busca transformar essa prática em um esporte radical já existe há cerca de 25 anos, conforme relatado por Henrique.
O evento resultou em três vítimas fatais identificadas como Bruna Maldonado Martins, de 33 anos, Diogo Henrique Pereira, de 19 anos, e Leonardo Souza Gomes, de 26 anos. O motoboy apela para que a Justiça investigue e responsabilize os culpados por essa tragédia.
Outra perspectiva dos eventos foi compartilhada pela família de uma das vítimas gravemente feridas, com quem a reportagem conversou. O filho, um jovem de 20 anos, não tinha conhecimento nem autorização para participar do encontro de motociclistas. Ele saiu de casa alegando que iria para um evento relacionado a motos e chegou a discutir com sua mãe, que se opunha à sua ida. Apesar disso, o jovem é apaixonado por motocicletas e há algum tempo vinha praticando esse "esporte" radical em uma via sem saída na cidade. Quando ligou para avisar sobre o acidente, sua mãe ficou em estado de choque.
O jovem relatou à família que o acidente ocorreu quando um dos participantes caiu, provocando uma colisão em cadeia. Outra vítima entrevistada pela reportagem disse que não viu o que aconteceu e só percebeu a presença das viaturas após ter sido ferida.
Após a chegada da polícia no local do acidente, o grupo se dispersou e muitos fugiram. Em seguida, um grupo de motociclistas realizou um arrastão em um posto de combustível situado na Rua Louisiana, em Chácaras Campos Elíseos, roubando cerca de R$ 500 em óleo que estavam expostos para os clientes. O posto permanece aberto 24 horas, e alguns membros do grupo distraíram o frentista ao abastecer suas motos, enquanto outros praticaram o furto. O crime só foi descoberto após a saída do grupo, quando o sistema de monitoramento do posto foi revisado. Os produtos roubados foram colocados na mochila de um dos motociclistas, que se passou por entregador.
Em nota, a Guarda Municipal de Campinas lamentou as mortes das pessoas que participaram do "rolê" e informou que, ao ter conhecimento do evento no início, conseguiu dispersar parte dos motociclistas envolvidos. No entanto, devido ao grande número de participantes e a dispersão em diversos pontos, não foi possível ter controle total sobre as ações, especialmente para garantir a segurança das demais pessoas que transitavam pelas ruas. A Guarda Municipal alertou fortemente os motociclistas para não participarem desse tipo de situação, uma vez que envolve muitas pessoas e representa um enorme risco de acidentes, principalmente devido a práticas de direção perigosa, depredação e desrespeito ao próximo.
A Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec) reforçou que o "rolezinho" não era um evento oficial com prévia organização e não apoia eventos que reúnam motociclistas. Quando isso ocorre, especialmente quando organizado por clubes de motociclistas, há uma cobrança por esse apoio e a Emdec discute minuciosamente todos os detalhes. Além disso, apenas na Avenida Prestes Maia, durante o período do "rolê", foram aplicadas 60 infrações por excesso de velocidade.