Autor dos disparos, de 9 anos, é filho do dono do pesqueiro em que a jovem estava com a família
A mãe da adolescente está muito indignada com o caso e mostra os raios-x do projétil no braço da filha (Rodrigo Zanotto)
A comemoração do Dia das Crianças, na quarta-feira (12), virou um pesadelo para uma família moradora em Campinas, que estava em um pesqueiro na vizinha Indaiatuba. Enquanto os parentes – um total de cinco - descansavam em frente à lagoa, ocorreu um tiroteio provocado por um menino de 9 anos - filho do gerente do local - e uma adolescente de 17 anos, filha de um casal do grupo, que foi atingida no braço esquerdo por uma bala de chumbinho.
A garota foi socorrida pelo pai ao Hospital Augusto de Oliveira Camargo (HAOC), mas a munição segue alojada no corpo da jovem, porque se encontra próxima a uma artéria. O pai do menino prestou depoimento e o caso foi registrado como lesão corporal. A família está revoltada.
“O que era para ser um passeio, tornou-se um pesadelo. Tinha muitas crianças, inclusive de colo, e houve pânico e correria. A gente não sabia de onde estavam vindo os tiros. Até que consegui, com a ajuda de um rapaz que estava lá, entender quem estava atirando. Pedimos que todos deitassem no chão e gritamos para o menino parar”, relatou o motorista José Clóvis da Silva, de 42 anos, tio da adolescente.
O fato aconteceu por volta das 15h, em um pesqueiro na região da Vila Furlan. A adolescente estava com os pais, o tio, o primo de 7 anos, filho de Silva, e a avó, de 72 anos.
A família mora na região do Campina Grande, em Campo Grande (MS) e descobriu o pesqueiro pela internet. “Como gostamos de pescar, decidimos levar as crianças também, pois lá havia espaço para eles brincarem. Almoçamos e fomos para a beira da lagoa. De repente ouvimos tiros. Minha sobrinha falou: ‘Acho que me atingiram’. Olhamos e o braço dela sangrava. Na hora, foi só desespero e correria”, contou o motorista.
Segundo ele, os tiros vinham de uma casa nos fundos do pesqueiro. Ao ir até o local para ver quem atirava, o motorista avistou um menino na varanda de uma casa, com uma espingarda calibre 5,5mm em punho e atirando.
O garoto estava distante cerca de 150 metros. O motorista e um outro cliente gritaram para a criança parar, enquanto a mãe do menino e avó teriam saído e reclamado. “Elas ficaram bravas com a gente e mandaram que reclamássemos com o gerente do pesqueiro, que é o pai do menino. Ele veio falar com a gente. Pediu desculpas e disse que ia pagar tudo. Mas não era uma questão de dinheiro! Ele não quis chamar a polícia, mas nós chamamos”, falou Silva.
A adolescente passou por atendimento no hospital e o raio-X apontou que o projétil estava próximo à artéria e a família foi orientada a levar a jovem a um hospital de Campinas. Ela passou por atendimento no Hospital Ouro Verde, que a encaminhou aos da PUC-Campinas para a remoção do artefato. “Os médicos explicaram que, se na cirurgia um nervo ou a artéria for atingida, ela pode perder o movimento do braço. Então, o caso não é tão simples. Como deixam uma criança brincar com uma arma dessa? Imaginou se tivesse acertado a cabeça de alguém? Uma criança pequena?”, indignou-se o tio.
A Guarda Municipal foi até o hospital e pegou o depoimento da família. Depois, seguiu até o pesqueiro e conduziu o pai do menino até a delegacia.
Na quinta-feira (13) pela manhã, a mãe da vítima passou por uma peregrinação para ajudar a filha. Inclusive, a jovem passou por exame de corpo de delito. A família tem seis meses para representar criminalmente contra o responsável pelo menino. “Minha mãe ouviu de outros clientes do pesqueiro que o menino já atirou contra outras pessoas e uma moça foi ferida no pescoço. Ele atirava em direção às pessoas que estavam no pesqueiro. Nunca mais volto nesse local”, desabafou a vítima.
O pai do menino prestou depoimento na Delegacia de Indaiatuba e a arma e caixa de chumbinho foram apreendidas. “Por ser criança, será instaurado procedimento, que será enviado à Vara da Infância, para que o pai seja chamado e se apure a responsabilidade de um maior por essa lesão que o menino causou nessa menor. O menor não responde diretamente, mas é preciso apurar a responsabilidade direta ou indiretamente do responsável por essa arma de chumbo”, disse o diretor do Departamento de Polícia Judiciária de São Paulo Interior 2 (Deinter), José Henrique Ventura.