Tradicionalmente conhecidos pela vida pacata, Sousas e Joaquim Egídio enfrentam uma onda de violência (Rodrigo Zanotto)
Considerados até então redutos bucólicos, os distritos de Sousas e Joaquim Egídio, em Campinas, com uma população de aproximadamente 25 mil habitantes, tornaram-se recentemente foco de discussões entre moradores e comerciantes, que, por longos anos, não experimentavam a ameaça da violência extrema que agora assola a região. A tradicional sensação de segurança que reinava nos dois distritos foi abalada no assalto perpetrado contra o empresário Vanderlei Mendes, de 58 anos, ocorrido no último dia 29. Em meio ao clima de terror e medo que toma conta da população, a delegacia local segue funcionando apenas em horário comercial, contrariando o desejo da comunidade local que reivindica plantão 24 horas.
A crueldade empregada pelos criminosos, notadamente adolescentes, durante o assalto instigou uma alteração de hábitos entre alguns moradores próximos à residência da vítima, que passaram a adotar precauções adicionais movidos pelo receio de também se tornarem alvos da criminalidade. Muitos passaram a redobrar a atenção ao sair de casa para compromissos, trabalho ou mesmo para atividades físicas.
"Resido aqui há 30 anos, e Sousas sempre foi uma localidade bastante tranquila. Embora houvesse furtos e roubos menores, nada se comparava ao ocorrido com o senhor Mendes. Estamos extremamente assustados, mas a vida precisa continuar. Contudo, agora saímos com mais receio. Hoje mesmo, ao ir à padaria, usei um boné, algo que raramente faço ao sair, e ao retornar, minha vizinha assustou-se, quase entrando apressadamente em sua casa, até que a alertei de que era eu", relatou Carlos Alberto, um cozinheiro de 37 anos que reside na mesma rua do empresário.
De acordo com ele, desde o dia do incidente, os vizinhos passaram a observar a rua antes de abrir o portão. Outra medida adotada foi a limpeza de folhas e galhos de árvores próximas ao muro, visando proporcionar maior visibilidade e reforçar a sensação de segurança. Informações provenientes de moradores mais próximos da família do empresário indicam que Mendes permanece internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da Unicamp, mantendo um estado de saúde estável.
Para alívio dos residentes, na madrugada de terça-feira (4), a Polícia Militar (PM) apreendeu mais um suspeito envolvido na tentativa de latrocínio, totalizando três indivíduos sob custódia, restando apenas um, o autor do disparo contra a vítima. No dia do crime, quatro assaltantes abordaram o empresário enquanto ele manobrava seu veículo, um Fiat Uno Vivace, junto ao portão de sua residência. Diante da abordagem, o empresário, assustado, acelerou o carro, que se encontrava engatado na marcha à ré. O adolescente armado disparou, atingindo a vítima na cabeça.
O terceiro detido é um adolescente de 17 anos, localizado durante o patrulhamento de uma equipe policial no condomínio Itaiú, invadido há anos. Os agentes dispunham de informações indicando que um dos suspeitos residia naquela região. Inicialmente, o indivíduo se apresentou como irmão gêmeo, mas acabou confessando sua participação no crime. Ele permanece sob custódia, encaminhado para a Fundação Casa.
"Sousas era uma região tranquila onde todos se conhecem. Mas nos últimos tempos está vindo gente de fora para circular por aqui e com isso começaram alguns crimes. Apesar do receio e do medo, nossa rotina segue", disse o autônomo Roberto Carlos Martins, de 58 anos, que diariamente se reúne com sete amigos idosos para jogar truco na praça da Vila Santana, a algumas quadras do local do assalto.
Viviane e Arnaldo Morelli, um casal de aposentados que reside há mais de duas décadas no distrito de Sousas, sempre consideraram a região pacata. No entanto, nos últimos seis meses, observaram um aumento nos furtos em estabelecimentos comerciais e roubos de celulares nas ruas. "A gente sai todos os dias para caminhar, mas não estamos carregando mais nada. Além disso, sempre olhamos na rua antes de sair. Tomamos alguns cuidados", comentou Viviane.
O comerciante Francisco Praxedes da Rosa, 82 anos, já ouviu inúmeros relatos de furtos em estabelecimentos, mas sente-se protegido por Deus em seu local de trabalho. "Sim, há muitos furtos, e confesso que sinto medo, mas graças a Deus ninguém nunca mexeu comigo", afirmou.
O comerciante Francisco Praxedes da Rosa, 82 anos, já ouviu inúmeros relatos de furtos em estabelecimentos, mas sente-se protegido por Deus em seu local de trabalho. "Sim, há muitos furtos, e confesso que sinto medo, mas graças a Deus ninguém nunca mexeu comigo", afirmou.
Mais próximo ao centro de Sousas, os comerciantes relatam uma incidência considerável de furtos nos estabelecimentos durante o período noturno. Alguns locais foram alvo mais de duas vezes. "Roubos não são tão frequentes, exceto no ano passado, quando ocorreram alguns assaltos a condutores de caminhonetes. Mas furtos são bastante comuns", comentou Wanderley Calef, comerciante local.
Dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP) indicam que, entre janeiro e agosto deste ano, a região de Sousas registrou 103 ocorrências de furto geral e 13 de veículos. No mesmo período, foram contabilizados 15 roubos em geral e dez de veículos. "Todos os crimes são investigados. No caso dos furtos, a maioria já foi esclarecida e os autores identificados e alguns até presos, mas saíram na audiência de custódia", explicou o delegado José Roberto Rocha. Segundo o delegado, dos 103 registros de furto, 40 foram erroneamente categorizados via delegacia eletrônica, pois se tratavam de perdas e não furtos.
O presidente do Conselho de Segurança local (Conseg), Otávio Bortolloto, afirmou que, nos últimos tempos, os distritos registraram algumas situações preocupantes, mas que foram isoladas. O último evento, no entanto, gerou apreensão entre os moradores. "Trabalhamos em parceria com as forças de segurança locais, e a questão que enfrentamos é a falta de efetivo. Estamos reivindicando junto ao estado. Os dois distritos têm uma área extensa, mas pouco densa, e precisam de mais efetivo das forças de segurança aqui", comentou. Bortolloto enfatizou que o Conseg é ativo, realizando diversos trabalhos voltados para a segurança primária dos moradores nos locais.
A Polícia Militar (PM) e a Secretaria de Segurança Pública (SSP) foram contatadas para comentar sobre patrulhamento e a viabilidade de os distritos contarem com uma delegacia funcionando 24 horas, mas não houve retorno até o fechamento desta edição.
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