MAIS UM FEMINICÍDIO

Marido mata esposa e entrega corpo no hospital

Médicos constatam óbito por estrangulamento e chamam a Polícia Militar para prender o assassino

Luis Eduardo de Sousa/ [email protected]
18/05/2023 às 09:22.
Atualizado em 18/05/2023 às 09:22
Hospital Samaritano, para onde o corpo de Dalila Mosciati foi levado pelo marido, que fugiu e depois foi preso (Kamá Ribeiro)

Hospital Samaritano, para onde o corpo de Dalila Mosciati foi levado pelo marido, que fugiu e depois foi preso (Kamá Ribeiro)

No dia em que a influenciadora digital Micaelly dos Santos Lara, de 19 anos, era velada após ser assassinada pelo ex-namorado em Hortolândia, mais uma mulher foi vítima de feminicídio na Região Metropolitana de Campinas (RMC). Dessa vez, a vítima foi a gerente de uma franquia de chocolates finos em Campinas, Dalila Mosciati, que completaria 38 anos na próxima terça-feira (23). Dalila foi estrangulada e levada ao hospital pelo companheiro, que informou aos funcionários da unidade hospitalar que a esposa havia "engasgado". Ao fazer a ficha da vítima, Eduardo Vieira Cintra, que não teve a idade revelada, informou um endereço falso e fugiu. Momentos depois, os médicos do hospital diagnosticaram que Dalila estava em óbito havia pelo menos duas horas.

O caso foi registrado durante a madrugada na 2ª Delegacia de Defesa da Mulher (2ªDDM), na Vila Pompéia, mas transferido para a 1ª DDM na tarde de quarta-feira (17). O foco da investigação policial agora vai ser identificar o que teria levado Eduardo a assassinar a mulher. Colegas de trabalho de Dalila revelaram ao Correio Popular que o relacionamento do casal era cordial e que Eduardo "tratava bem" a vítima. Este é o quarto caso de feminicídio em Campinas neste ano e o décimo na RMC.

As autoridades tomaram conhecimento do crime depois que funcionários do hospital Samaritano, na Vila João Jorge, acionaram uma viatura da Polícia Militar. Quando os agentes chegaram à unidade o suspeito do crime não estava no local, pois já havia fugido. Ainda de acordo com os policiais, ele reapareceu e informou à equipe "que havia ido trocar de roupa por ter feito xixi nas calças". Disse também que, ao notar que a esposa havia engasgado, bagunçou a casa toda para procurar a chave e o celular. Por fim, tentou fazer massagem cardíaca na esposa, que não reagiu e, por esse motivo, foi arrastada até o carro e levada ao hospital. Eduardo foi detido e encaminhado à delegacia.

Nas redes sociais, Dalila se identificava como gerente de uma franquia de chocolates finos. Além disso, ela era sócia de uma empresa que faz estampas de criação própria em roupas e objetos de decoração.

A reportagem conversou com funcionárias da loja de chocolates, que funciona no Campinas Shopping. Colegas de trabalho relataram que Dalila tinha bom relacionamento com todos, inclusive com o marido. "Ele (Eduardo) vinha aqui com certa frequência e tratava ela bem. Nunca deu sinais de agressividade, pelo contrário, sempre foi muito cordial. Conversava conosco e nos tratava bem. Ela (Dalila) também nunca deu sinais de que enfrentava problemas no relacionamento. Os problemas que ela enfrentava eram profissionais, de estresse, de trabalho, normal", conta a vendedora Jéssica Camilo, de 31 anos.

Segundo Jéssica, Dalila gerenciava duas unidades da franquia, sendo que a outra opera em Valinhos. Para a colega de trabalho, a notícia foi um choque. "Nós recebemos a informação e ficamos em choque. Tudo mundo chorou muito e não sabemos o que fazer. É desesperador", conclui Jéssica. Dalila atuava na loja há pelo menos dois anos e herdou o cargo de gerente da irmã, já que o negócio é familiar.

O hospital Samaritano não quis se manifestar sobre o caso e disse que todas as informações serão enviadas com exclusividade à polícia. A unidade apenas confirmou o ocorrido na unidade da Vila João Jorge. Também na rede social, Dalila diz que é formada pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas no curso de administração.

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) informou que a Eduardo teve prisão preventiva decretada ainda na tarde de quarta-feira, mas a defesa não foi identificada. A delegada responsável pela 1ª DDM, Ana Carolina Bacchi, vai ser responsável pelas investigações. O desafio agora é entender o que teria motivado o crime.

Em perfil em uma rede social, Eduardo se identifica também como sócioproprietário da empresa de estampas em que Dalila ocupava mesma posição. Ele não tinha passagens pela polícia.

Abalada, a irmã de Dalila, Tanita Mosciati, de 40 anos, disse que vai fazer o que for preciso para que Eduardo pague pelo crime e "não saia nunca mais da cadeia". "Ele é viciado em cocaína e outras coisas, não tem nenhuma ocupação e vivia nas costas dela. Todo mundo falava para ela, mas levou até as últimas consequências", lamentou a irmã. A Serviços Técnicos Gerais (Setec) informou que o corpo estava no IML e, em seguida, seria encaminhado para as tratativas de velório. Não houve atualização até o fechamento desta edição.

EPIDEMIA

O caso foi pelo menos o décimo registrado na RMC desde o início do ano. Ainda na quarta-feira a região amanheceu com a notícia do assassinato da influenciadora digital Micaelly dos Santos Lara, de 19 anos, encontrada morta junto ao ex-namorado dentro do carro dele em Hortolândia. Em Campinas, são pelo menos quatro registros desde o início do ano. As vítimas foram Regina Lima da Silva Costa, 40 anos, Georgeliana de Lima, 39 anos e Roberta Rodrigues dos Santos Correia, de 30 anos, além de Dalila.

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