Crime ocorreu na manhã de segunda-feira em Barão Geraldo; mulher tentou cometer suicídio na sequência e hipótese é de surto por depressão pós-parto
A criança morava com a mãe e passava os finais de semana com o pai, que estava chegando ao trabalho quando foi avisado da ocorrência; ele disse à Polícia que nunca imaginou que a esposa pudesse fazer o que fez (Rodrigo Zanotto)
Um menino de seis anos foi morto com cerca de 30 facadas no início da manhã de segunda-feira (11), no distrito de Barão Geraldo, em Campinas. A principal suspeita do crime é a madrasta, uma analista financeiro de 37 anos. Ela tentou cometer suicídio na sequência. A mulher teve um surto psicótico por conta de depressão pós-parto – ela tem uma bebê de quatro meses – e foi socorrida e levada pelo Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu) à Casa de Saúde, onde passou por cirurgias e segue internada em estado grave. A criança chegou a ser levada pelo pai ao Hospital de Clínicas (HC) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), mas não resistiu aos ferimentos. Em apenas uma semana, é o segundo caso em Campinas com morte de crianças envolvendo pessoas que se relacionavam amorosamente com um dos pais.
O crime é investigado na Delegacia de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP) e foi registrado como homicídio. O delegado Rui Pegolo tomou depoimento da mulher no hospital e disse que ela alegou não se lembrar do que aconteceu. Ela foi relacionada no registro da ocorrência como averiguada, mas será responsabilizada pelo crime, já que ninguém foi visto entrando no imóvel.
De acordo com Pegolo, o crime aconteceu por volta das 7h30, cerca de meia hora depois que o pai da criança, um vendedor, saiu para o trabalho. O casal está junto há cerca de dois anos e meio e mora em uma edícula nos fundos da casa da mãe dele. Há quatro meses eles tiveram uma filha.
Na manhã de segunda-feira, segundo relatos da avó paterna da vítima, a madrasta, a bebê e a vítima estavam na casa quando a avó ouviu gritos na edícula e foi verificar. “A avó foi a primeira que chegou na casa e a viu (a madrasta) na cozinha já se autolesionando”, contou Pegolo. “Ela está passando por um processo de depressão e está tomando remédios. A família sabe da depressão e está ajudando ela. Infelizmente é um caso muito triste e ela vai ser responsabilizada pelo crime”, explicou o delegado.
A mulher se lesionou em diversas partes do corpo e precisou passar por cirurgia. Segundo Pegolo, ela apresentava confusão mental.
A Polícia Técnico-Científica esteve no imóvel também. O delegado aguardará laudos do Instituto Médico Legal (IML) para concluir o caso.
A criança morava com a mãe na região do Campo Grande, mas passava os finais de semana com o pai devido às aulas de natação que fazia em Barão Geraldo. O pai o levava nas segundas-feiras, no período da tarde.
“O pai disse que nunca imaginou que ela (madrasta) poderia fazer o que fez. Ele chegava ao trabalho quando foi avisado que o filho tinha sido esfaqueado e voltou para socorrer o filho”, contou Pegolo.
A reportagem não conseguiu localizar a mãe da criança. O pai e a avó paterna também não quiseram comentar o caso. Vizinhos da família ficaram em choque, já que conheciam todos. Uma moradora que não quis ser identificada disse que sempre via a madrasta passeado com a bebê no carrinho e o enteado.
Até às 17h de segunda-feira o corpo da criança ainda aguardava liberação na Unicamp para ser encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML), no Cemitério dos Amarais, para necrópsia.
ANÁLISE
Para a delegada aposentada, e professora da Academia da Polícia Civil, Teresinha Carvalho é difícil analisar o crime cometido pela madrasta sem conhecer todas as circunstâncias que envolvem o caso, mas seria difícil a absolvição, a menos que se comprove uma certa insanidade mental decorrente da gravidez. Dessa maneira, ela poderia ser submetida a algum tratamento e ser considerada “incapacitada mentalmente”.
“Na gravidez, o corpo da mulher passa por muitas transformações, o que obviamente afeta até mesmo a capacidade mental de conhecer essa nova situação. A literatura registra vários casos de crimes que as mulheres cometem neste período. Diz a literatura que o estado puerperal dura por volta de seis a oito semanas, em torno de dois meses, mas há casos em que pode haver um quadro de depressão que se prolonga”, disse Teresinha.
Para a delegada aposentada, a família tem que dar apoio total à mulher durante o período do puerpério e também ter ajuda de outras mulheres. “A emoção de ser mãe é muito forte, então é preciso muito cuidado, muita atenção. Geralmente a mulher tem que estar cercada de carinho, de pessoas que a fortaleçam. Ficar com uma criança de seis anos pode ter sido muito ruim, porque ela não conseguiu dominar suas emoções e sabe-se lá os sentimentos que passaram”, avaliou.
Segundo Teresinha, será essencial saber o histórico da relação dela com a criança neste caso, já que pode haver uma relação com crime de ódio contra o enteado. “Geralmente as mulheres que praticam crimes em estado puerperal praticam crimes contra os filhos, com a criança que acabou de nascer. Então, não sei se ela já vinha de algum casamento conflituoso, se esse enteado não representava para ela uma ameaça ao amor que ela ia ter com a filha, mas, veja, ela atentou contra a própria vida também. É muito triste esse caso, mas ele acontece”, disse.
OUTRO CASO
No último dia 5, um desempregado de 23 anos foi preso por maus-tratos com resultado de morte. Ele era o principal suspeito de matar o enteado de oito meses. A mãe, uma cabeleireira e freelancer de eventos de 19 anos, é investigada para verificar se também praticou maustratos contra o bebê. A criança morreu por traumatismo craniano e o homem confessou que deixou o bebê cair da cama. O menino tinha mordidas na barriga e diversos hematomas no corpo.
No dia do crime, a mãe estava no trabalho e quando chegou encontrou o filho dormindo. O padrasto estava desempregado há dois meses e cuidava do bebê.