NA VILA BRANDINA

Mãe denuncia preconceito racial contra filha em escola

Heloísa Alves de Oliveira formalizou um boletim de ocorrência na Polícia Civil contra dois alunos Um motorista de 49 anos se enfureceu ao ser intimado pela Justiça para pagar a pensão de seu filho de 13 anos, resultando no ato

Alenita Ramirez/ [email protected]
01/12/2023 às 09:38.
Atualizado em 01/12/2023 às 09:38
Heloísa Alves de Oliveira: “Não aguento mais ver minha filha sofrendo com este tipo de preconceito" (Divulgação)

Heloísa Alves de Oliveira: “Não aguento mais ver minha filha sofrendo com este tipo de preconceito" (Divulgação)

Em um ato de desespero, uma vendedora de 27 anos usou as redes sociais para denunciar o preconceito praticado por alunos da Escola Estadual Professor Alberto Medaljon, situada na Vila Brandina, em Campinas, contra sua filha de 10 anos. A criança, que fez aniversário no mês passado, tem cabelos afro, sendo alvo de apelidos depreciativos como "cabelo de bombril", "cabelo de bucha" e "cabelo duro" por parte de seus colegas. Por conta disso, Heloísa Alves de Oliveira formalizou um boletim de ocorrência na Polícia Civil contra dois alunos.

"Pedi ajuda na escola, mas o diretor me mandou parar para pensar e ver minha atitude diante da sociedade. Como assim? Minha filha está apresentado problemas psicológicos e eu tenho que pensar? Não aguento mais ver minha filha sofrendo com este tipo de preconceito", desabafou Heloísa, que também é mãe de uma menina de seis anos, que tem cabelo encaracolado e está grávida de quatro meses de outro filho.

Segundo Heloísa, a filha enfrenta o preconceito racial desde os dois anos, quando frequentava uma creche municipal no bairro. Naquela época, uma professora mudava o penteado da criança, e quando a vendedora indagou a filha sobre o motivo da mudança, ela teria revelado que a "tia" afirmava que seu cabelo era feio. "Mandei recado no caderno para que a 'tia' não mexesse no cabelo da minha filha, mas ela mexeu. Fui na escola e reclamei e levei o caso adiante. A professora foi demitida e mudaram a direção. A nova equipe acolheu minha filha que ficou até ir para o 1º ano", contou.

A garotinha está matriculada na Escola Estadual Professor Alberto Medaljon desde a 1ª série, e os desafios enfrentados por ela começaram há, no mínimo, um ano. Heloísa afirma ter procurado a direção da escola para relatar casos de bullying, porém, segundo ela, nenhuma medida teria sido tomada. "Minha filha chora e não quer ir na escola. Neste período de calorão, ela estava indo de blusa de frio e com capuz para cobrir o cabelo, pois dizia que os colegas falam do cabelo dela", relatou.

Conforme a vendedora, em uma ocasião, a filha se queixou a um professor negro sobre os ataques dos colegas, mencionando um dos meninos, que foi repreendido pelo educador. Naquele momento, o garoto chegou a se desculpar com a vítima, mas recentemente retomou as atitudes hostis. O último episódio protagonizado por esse aluno contra a garotinha ocorreu em 28 de novembro, quando, a caminho de casa, ela alertou um menino do grupo a desviar de uma "sujeira" no chão. "Pedi para ele não pisar, e o menino que sempre me chama de 'cabelo de bucha' me chamou de 'cabelo de bombril'", relatou a criança em um vídeo, com os olhos marejados.

Em nota, a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (Sedu-SP) declarou repúdio a qualquer forma de discriminação, dentro ou fora das escolas. A equipe gestora da escola se reuniu na quarta-feira (29) com a mãe da estudante, abordando ações relacionadas ao antirracismo e prevenção de violências na rede estadual. A Secretaria destacou que a equipe regional do Programa de Melhoria da Convivência e Proteção Escolar (ConvivaSP), juntamente com o psicólogo da unidade, está acompanhando o caso para promover a conscientização entre alunos e professores, assegurando o acolhimento da estudante no ambiente escolar. "A Diretoria de Ensino Campinas Leste segue à disposição dos responsáveis para esclarecimentos", frisou.

Heloísa disse que na manhã de quinta-feira (30) recebeu um vídeo de uma aluna da escola que mostra que o diretor fez reunião com os alunos e falou sobre o caso, mas por outro lado ele a criticou. "Ele fala 'o que essa mãe quer que eu faça? Que expulse crianças de dez anos por chamar outra de cabelo duro? O que eu chame a polícia para as mães irem presas?'. Eu só quero que minha filha seja respeitada e não seja tratada como está sendo por esses meninos. Que eles aprendam a respeitar", disse. O caso será investigado pelo 13º Distrito Policial (DP), localizado no bairro Cambuí, que responde pela região da Vila Brandina.

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