Heloísa Alves de Oliveira formalizou um boletim de ocorrência na Polícia Civil contra dois alunos Um motorista de 49 anos se enfureceu ao ser intimado pela Justiça para pagar a pensão de seu filho de 13 anos, resultando no ato
Heloísa Alves de Oliveira: “Não aguento mais ver minha filha sofrendo com este tipo de preconceito" (Divulgação)
Em um ato de desespero, uma vendedora de 27 anos usou as redes sociais para denunciar o preconceito praticado por alunos da Escola Estadual Professor Alberto Medaljon, situada na Vila Brandina, em Campinas, contra sua filha de 10 anos. A criança, que fez aniversário no mês passado, tem cabelos afro, sendo alvo de apelidos depreciativos como "cabelo de bombril", "cabelo de bucha" e "cabelo duro" por parte de seus colegas. Por conta disso, Heloísa Alves de Oliveira formalizou um boletim de ocorrência na Polícia Civil contra dois alunos.
"Pedi ajuda na escola, mas o diretor me mandou parar para pensar e ver minha atitude diante da sociedade. Como assim? Minha filha está apresentado problemas psicológicos e eu tenho que pensar? Não aguento mais ver minha filha sofrendo com este tipo de preconceito", desabafou Heloísa, que também é mãe de uma menina de seis anos, que tem cabelo encaracolado e está grávida de quatro meses de outro filho.
Segundo Heloísa, a filha enfrenta o preconceito racial desde os dois anos, quando frequentava uma creche municipal no bairro. Naquela época, uma professora mudava o penteado da criança, e quando a vendedora indagou a filha sobre o motivo da mudança, ela teria revelado que a "tia" afirmava que seu cabelo era feio. "Mandei recado no caderno para que a 'tia' não mexesse no cabelo da minha filha, mas ela mexeu. Fui na escola e reclamei e levei o caso adiante. A professora foi demitida e mudaram a direção. A nova equipe acolheu minha filha que ficou até ir para o 1º ano", contou.
A garotinha está matriculada na Escola Estadual Professor Alberto Medaljon desde a 1ª série, e os desafios enfrentados por ela começaram há, no mínimo, um ano. Heloísa afirma ter procurado a direção da escola para relatar casos de bullying, porém, segundo ela, nenhuma medida teria sido tomada. "Minha filha chora e não quer ir na escola. Neste período de calorão, ela estava indo de blusa de frio e com capuz para cobrir o cabelo, pois dizia que os colegas falam do cabelo dela", relatou.
Conforme a vendedora, em uma ocasião, a filha se queixou a um professor negro sobre os ataques dos colegas, mencionando um dos meninos, que foi repreendido pelo educador. Naquele momento, o garoto chegou a se desculpar com a vítima, mas recentemente retomou as atitudes hostis. O último episódio protagonizado por esse aluno contra a garotinha ocorreu em 28 de novembro, quando, a caminho de casa, ela alertou um menino do grupo a desviar de uma "sujeira" no chão. "Pedi para ele não pisar, e o menino que sempre me chama de 'cabelo de bucha' me chamou de 'cabelo de bombril'", relatou a criança em um vídeo, com os olhos marejados.
Em nota, a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (Sedu-SP) declarou repúdio a qualquer forma de discriminação, dentro ou fora das escolas. A equipe gestora da escola se reuniu na quarta-feira (29) com a mãe da estudante, abordando ações relacionadas ao antirracismo e prevenção de violências na rede estadual. A Secretaria destacou que a equipe regional do Programa de Melhoria da Convivência e Proteção Escolar (ConvivaSP), juntamente com o psicólogo da unidade, está acompanhando o caso para promover a conscientização entre alunos e professores, assegurando o acolhimento da estudante no ambiente escolar. "A Diretoria de Ensino Campinas Leste segue à disposição dos responsáveis para esclarecimentos", frisou.
Heloísa disse que na manhã de quinta-feira (30) recebeu um vídeo de uma aluna da escola que mostra que o diretor fez reunião com os alunos e falou sobre o caso, mas por outro lado ele a criticou. "Ele fala 'o que essa mãe quer que eu faça? Que expulse crianças de dez anos por chamar outra de cabelo duro? O que eu chame a polícia para as mães irem presas?'. Eu só quero que minha filha seja respeitada e não seja tratada como está sendo por esses meninos. Que eles aprendam a respeitar", disse. O caso será investigado pelo 13º Distrito Policial (DP), localizado no bairro Cambuí, que responde pela região da Vila Brandina.
Siga o perfil do Correio Popular no Instagram.