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Kief, versão potente da maconha, chega à região de Campinas

Serviço de inteligência do CDP detectou três tentativas de introdução da substância no local em menos de 30 dias

Alenita Ramirez/ [email protected]
18/12/2022 às 10:11.
Atualizado em 18/12/2022 às 10:11
Diretor de segurança e disciplina do CDP Campinas, Autair Carneiro Lima, mostra imagem obtida no exame realizado pelo scanner corporal (Rodrigo Zanotto)

Diretor de segurança e disciplina do CDP Campinas, Autair Carneiro Lima, mostra imagem obtida no exame realizado pelo scanner corporal (Rodrigo Zanotto)

Apesar de ser uma droga antiga, o dry sift ou kief, que, até então era desconhecida nos sistemas prisionais, começa a dar os seus primeiros passos em direção às unidades da região de Campinas. Entretanto, o serviço de inteligência do Centro de Detenção Provisório (CDP) do município detectou três tentativas de introdução do entorpecente no local em um período de menos de 30 dias.

O dry sift, também conhecido como kief ou dry hash, é uma espécie de produto feito à base das folhas da cannabis sativa - a mesma espécie usada na produção de haxixe, porém, transformada em pó e mais forte. Em outras palavras, trata-se de uma resina feita a partir da extração dos tricomas (cristais) das plantas de maconha. Existem várias maneiras diferentes de extrair essa resina, com ou sem solventes, por isso, há tantas variedades de haxixe.

De acordo com a literatura, a diferença entre o cigarro da maconha e o dry está no THC (tetrahidrocanabinol), que é mais forte e concentrado no dry. O THC é mais abundante no topo das flores e nas folhas, onde a quantidade varia de 10-12 % nas flores, 1-2% nas folhas, 0,1-0,3 % nos caules, até 0,03% nas raízes. Ainda conforme as informações sobre essa erva, existem três tipos de produtos derivados da cannabis: a erva (maconha), resina (haxixe) e óleo (óleo de haxixe).

A erva da maconha é composta por flores e folhas secas e carrega em seu ‘DNA’ até 5% de THC. A maconha sem semente é derivada da planta fêmea não-fertilizada e pode ser muito mais potente. A resina da maconha pode conter até 20% de THC. Por fim, o óleo da maconha, é a forma mais potente da maconha e chega a até 60% de THC.

O dry tem esse nome por causa do seu processo de produção. Dry sift, em inglês, significa ‘peneirar à seco’ e é exatamente dessa forma que ele é produzido. Segundo a literatura, a extração a partir da peneira a seco é um método simples e ancestral de fazer haxixe - muito tradicional em países como o Afeganistão e Marrocos - que enriquece da substância em propriedades e sabor. “O dry existe há alguns anos, mas a gente não conhecia. Há mais ou menos seis meses, o nosso serviço de inteligência começou a receber informações sobre a possibilidade dessa droga estar chegando na unidade. Então, buscamos informações e nos preparamos para monitorar esse tipo de entorpecente. Por ser pastosa, ter liga, parecendo uma cera, ela é mais fácil de ser acondicionada em recipientes, roupas e alimentos. Além disso, o material não se espalha e nem tem cheiro, como a maconha”, explicou o diretor de segurança e disciplina do CDP Campinas, Autair Carneiro Lima.

A primeira apreensão do dry aconteceu no último dia 26 de novembro, quando uma mulher colocou a droga junto a uma porção de carne de panela dentro da marmita do companheiro dela.

A suspeita abriu um buraco nos pedaços da carne e introduziu a pasta. Entretanto, o disfarce foi descoberto quando o alimento passou no scanner corporal (body scanner).

No dia 12 deste mês, uma mulher de 19 anos e um rapaz de 18 também foram flagrados tentando levar o dry para dentro do CDP. Na ocasião, a jovem modelou a droga no top usado por ela, colocando a espécie de cera no bojo, em contato com os seios. Ela alegou que levaria o entorpecente para o companheiro.

Já o rapaz, modelou o dry em um fundo falso na cueca, na região do órgão genital. Ele alegou que entregaria o entorpecente ao irmão custodiado. “A equipe de segurança desconfiou e estranhou algo nas vestes dos visitantes. A mulher e o rapaz foram convidados para a revista e levados a salas separadas. Ela passou por uma revista com segurança feminina, quando foi localizada a droga”, contou o diretor.

A suspeita foi interrogada por uma agente e confessou que havia escondido 24 gramas de maconha e 15 gramas dry na calça e no sutiã. O rapaz também admitiu o delito de transporte da droga. Eles foram encaminhados à delegacia e detidos. Além disso, também foram suspensos do rol de visitas.

Por se tratar de um entorpecente de alto valor, seus consumidores, geralmente, integram a classe média alta. O grama dela, em pontos de tráfico na rua, custa em torno de R$ 30. Contudo, dentro de um presídio, o valor pode triplicar, chegando a cerca de R$ 100.

“Foi por meio de um custodiado de poder aquisitivo elevado que tomamos conhecimento dessa droga. Ele foi preso por roubo, mas era usuário dessa droga e descobrimos que ele queria usá-la dentro da unidade. É difícil dizer se, anteriormente a esse caso, a droga teria entrado na unidade. Porém, depois que descobrimos a existência dela, intensificamos o trabalho de vigilância. É imprescindível se manter de olho nas novidades, porque o preso tem 24 horas para pensar em novas formas e drogas para comercializar”, comentou Lima.

Há poucas reportagens que tratam da apreensões de dry no Brasil. A mais recente aconteceu em maio deste ano, em Caraguatatuba, quando um homem foi preso por armazenar dois quilos desse entorpecente em seu apartamento. O texto é muito vago e não traz detalhes do material recolhido.

A reportagem do Correio tentou levantar dados junto à Secretaria de Segurança Pública (SSP) nos últimos dias, sobre as apreensões realizadas pelo CDP, mas a assessoria de imprensa da Pasta informou que os dados somente seriam liberados mediante a Lei de Acesso à Informação, cuja solicitação leva até 20 dias para ser atendida. O retorno da SSP sobre essa possibilidade, inclusive, foi na manhã de sexta-feira, após uma semana de espera.

Em conversas com policiais civis, militares e guardas municipais, a maioria admitiu desconhecer a droga. Outros, afirmaram que, realmente, trata-se de uma droga antiga no mercado, mas desconhecem possíveis apreensões em Campinas.

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