Viatura da Polícia Militar permaneceu estacionada na saída do hospital aguardando a liberação da psicóloga para cumprir a ordem de prisão em flagrante determinada pela Justiça (Divulgação)
A Justiça de Campinas converteu na quinta-feira (6) a prisão em flagrante para preventiva da mãe que ocultou o corpo do recém-nascido em uma mala, mantendo-o escondido em um guarda-roupa por mais de quatro dias. A psicóloga, de 31 anos, foi transferida para uma unidade prisional após permanecer internada no Hospital e Maternidade São Luiz, em Campinas. Ela foi levada pela família ao hospital na última terça-feira, juntamente com o bebê falecido. A Secretaria de Segurança Pública registrou o caso como aborto provocado pela gestante e ocultação de cadáver. No entanto, o advogado de defesa, Raph Tórtima Filho, alega que se trata de uma "provável psicose puerperal".
Até a tarde de quinta-feira, a psicóloga, residente na cidade de Itu, a cerca de 55 quilômetros de Campinas, estava internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do hospital, passando por exames, incluindo os psicológicos. A Polícia Militar, que a acompanhava no hospital, afirmou que ela seria presa assim que recebesse alta e deixasse a instituição hospitalar, o que de fato ocorreu. O bebê, do sexo masculino, pesando 3,7 kg e medindo 50 cm, apresentava "sinais evidentes de morte e rigidez", indicativos de um óbito ocorrido há mais de um dia.
Em comunicado à imprensa, Tórtima afirmou que o caso envolve uma "provável psicose puerperal", um transtorno pós-parto, e que a prisão da mãe era considerada "injustificável". Ele destacou que a gravidez foi planejada e desejada, com acompanhamento médico especializado. "Infelizmente, a criança faleceu, estando a mãe extremamente abalada emocionalmente e sob cuidados médicos". A nota enfatiza que qualquer atitude dela, possivelmente decorrente da psicose puerperal, deve ser compreendida e acolhida. O advogado concluiu a nota destacando que a situação pode levar a estados agudos de ruptura com a realidade.
A Polícia Militar realizou o primeiro atendimento e posteriormente acionou a Polícia Civil, que está encarregada da investigação do caso. Inicialmente, a psicóloga informou aos policiais militares que ocultara a gravidez de seus pais, afirmando ter sofrido um aborto espontâneo. O parto teria ocorrido na residência de sua mãe entre os dias 30 de novembro e 1º de dezembro. Embora as informações iniciais indicassem que o bebê nascera no último sábado, sugerindo uma ocultação de 36 horas, o boletim de ocorrência registrado no 1º DP de Campinas ressalta que, segundo ela, a criança nasceu com vida na madrugada de sextafeira, mas veio a falecer logo em seguida.
Na investigação conduzida pela Polícia Civil, a mãe alegou ter escondido a gravidez dos pais devido ao temor de possíveis "represálias", dado que o namorado já é pai de três filhos. Entretanto, informações divulgadas à imprensa indicam que o pai da criança estava ciente da gestação.
A avó relatou à Polícia Civil que, embora desconfiasse da gravidez da filha, não imaginava que ela estivesse ocultando seu estado, até que, durante a noite, deparou-se com o feto morto no armário da filha, conforme mencionado no boletim de ocorrência.
A psicóloga Luciene Cristina Rosseto, com base nas informações iniciais, sugere que a ocultação da gravidez pode indicar um processo de negação da gestação, associado a um possível quadro depressivo. A profissional também avalia que a morte do recém-nascido pode ter desencadeado um surto de psicose puerperal (psicose específica do pós-parto e gestacional). Nesse contexto, os sintomas podem incluir delírios, alucinações, confusão mental e até perda da noção temporal, o que explicaria as discrepâncias nas informações sobre o dia do parto.
Luciene ressalta que ainda há muitos aspectos a serem esclarecidos e compreendidos, mas, em princípio, a ocultação da gravidez dos pais sugere um estado depressivo, agravado por um possível surto de psicose puerperal. O Hospital São Luiz, onde a mãe esteve sob cuidados, optou por não comentar o caso, destacando o respeito ao sigilo médico/paciente.
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