Fogo quase atingiu o Observatório Municipal Jean Nicolini na segunda-feira; polícia revelou ter evidências contra o acusado, que é morador de Itatiba
Defesa Civil fez ontem um sobrevoo com drone e estimou em 120 hectares a área atingida pelas queimadas, o correspondente a 120 campos de futebol e proporcional a quase metade da Mata de Santa Genebra; embora não tenha sido atingido, o Observatório Jean Nicolini continua fechado para o público (Carlos Bassan)
A Justiça decidiu converter em preventiva a prisão em flagrante do homem acusado de ser o autor de incêndios criminosos que atingiram três cidades da Região Metropolitana de Campinas (RMC). A manutenção da prisão foi definida ontem, após audiência de custódia. Anteontem, investigadores do 12º Distrito Policial (DP) de Campinas identificaram o suspeito de ter iniciado os incêndios, inclusive o de segunda-feira à noite (10) que colocou em risco o Observatório Municipal Jean Nicolini, referência em astronomia no país, e propriedades rurais. Ocorreram casos também em Morungaba e Itatiba, que fazem limite com Campinas. O acusado é o protético Régis Cristian da Silva, 47 anos, morador de Itatiba, que vinha sendo monitorado há dez dias e foi detido próximo a dois novos focos em uma fazenda no distrito de Joaquim Egídio. Com ele, foi encontrado material usado para atear fogo.
De acordo com o delegado titular do 12º DP, José Roberto Rocha Soares, os novos focos não são consequência do incêndio de segunda-feira. No carro do acusado foram encontrados dois sacos de estopa, dois frascos de líquido inflamável, linha e cera usada para fazer tocha.
Os policias acharam ainda uma mecha de estopa pronta para ser usada, semelhante à encontrada no foco de incêndio em uma fazenda de Morungaba há alguns dias. As chamas consumiram a peça, mas um funcionário da propriedade fez fotografias. Ela foi feita com os mesmos materiais encontrados com o acusado. O protético, que não tem passagem pela polícia, negou aos policiais ter causado os incêndios e alegou estar “descontrolado e inconformado” por ter câncer e pela morte do filho único, de 12 anos, vítima de meningite.
Porém, “há evidências, provas, que foi ele o autor”, afirmou ontem o delegado José Roberto Rocha Soares. Após prestar depoimento, Régis da Silva passou por exame de corpo de delito e foi levado para a cadeia pública do 2º DP. O protético foi indiciado por incêndio qualificado, crime previsto no artigo 250 do Código Penal, com prisão prevista de 2 a 8 anos para cada caso em que a autoria for confirmada. A pena pode ser agravada devido aos danos ambientais, pois foram atingidos remanescentes de matas nativas. Outro agravante é se forem confirmadas mortes de animais silvestres. A fauna da área queimada pelas chamas é formada por lobos-guarás, onçaspardas, cobras e outras espécies.
OUTROS CASOS
De acordo com o delegado, Régis Silva foi visto há cerca de dez dias parado às margens da Rodovia Engenheiro Constâncio Cintra (SP-360), que liga Itatiba a Morungaba e onde, posteriormente, foram detectados focos de incêndio. Um policial que passava pelo local considerou a atitude do protético suspeita e fotografou as placas do veículo parado. Imagens de câmeras de segurança de fazendas também mostram que o acusado circulou muito pela região nos últimos dias e passou próximo de locais onde incêndios começaram. Um deles é conhecido como Túnel do Bambu, em Morungaba.
O Corpo de Bombeiros continuava ontem à tarde monitorando o Parque Pico das Cabras diante do risco de reaparecimento das chamas, mas não havia focos ativos em Campinas. Por outro lado, as ações de combate às chamas continuavam em Morungaba e Itatiba, inclusive com a participação do helicóptero Águia da Polícia Militar.
“Nossa grande preocupação é com a divisa dos municípios”, afirmou o coordenador regional e diretor da Defesa Civil de Campinas, Sidnei Furtado. A Defesa Civil fez ontem um sobrevoo com drone e estimou em 120 hectares a área atingida pelas queimadas, o correspondente a 120 campos de futebol e proporcional a quase metade da Mata de Santa Genebra.
O Observatório Jean Nicolini, que não foi atingido pelo fogo, apesar de as chamas terem chegado a cerca de 50 metros, continua fechado para o público. De acordo com a Prefeitura de Campinas, a fumaça provocada pelo incêndio comprometeu gravemente a visibilidade para atividades astronômicas, “tornando inviável a utilização dos equipamentos de observação”. Uma nova avaliação sobre as condições será feita amanhã.
RISCO CONTINUA
A Defesa Civil alertou a população para o risco de incêndios florestais até sábado na região de Campinas. Temperaturas altas, com máximas na casa dos 34˚C, umidade do ar abaixo de 25% e rajadas de vento serão favoráveis para o início espontâneo, propagação e intensificação das chamas. O Mapa de Risco, ferramentas tecnológicas de auxílio no monitoramento de queimadas em vegetação durante o período de estiagem, indica grau máximo de risco em quase todas as faixas do Estado. Em Campinas, a temperatura máxima prevista é de 34ºC.