EM HORTOLÂNDIA

Irmãos do ganhador da Mega mudam de casa após o crime

Polícia Civil divulga fotos de dois suspeitos de terem assassinado Jonas Lucas

Alenita Ramirez/ [email protected] e Isadora Stentzler/ [email protected]
23/09/2022 às 09:08.
Atualizado em 23/09/2022 às 09:08
Casa no Jardim Rosolém, em Hortolândia, onde o ganhador da Mega-Sena assassinado Jonas Lucas Alves Dias vivia com os irmãos, que decidiram sair do bairro para local ignorado (Gustavo Tilio)

Casa no Jardim Rosolém, em Hortolândia, onde o ganhador da Mega-Sena assassinado Jonas Lucas Alves Dias vivia com os irmãos, que decidiram sair do bairro para local ignorado (Gustavo Tilio)

Uma semana após o ganhador da Mega-Sena, Jonas Lucas Alves Dias, de 55 anos, ser encontrado morto, os moradores do bairro Jardim Rosolém, em Hortolândia, onde ele vivia com os irmãos, seguem apreensivos. Segundo eles, os familiares da vítima deixaram o bairro como medida de segurança devido à repercussão causada pelo crime e não informaram para onde foram. Na quinta-feira (22), a Polícia Civil de Piracicaba divulgou o rosto de mais dois suspeitos de terem participado do assassinado de Dias e que estão foragidos.

Apesar da bolada de R$ 47 milhões que ele recebeu em 2020, após acertar as seis dezenas do sorteio, Dias, um sujeito simples e humilde, decidiu manter o mesmo estilo de vida no bairro onde vivia em Hortolândia. Na rua onde Dias morava, o clima era de medo, quinta-feira, mesmo uma semana após o assassinato. Poucos vizinhos aceitavam dar entrevistas ou comentar sobre o ocorrido. "Os irmãos sumiram e fizeram o certo. Eles precisam viver o luto e eu respeito", disse um dos moradores, que pediu para ter a identidade preservada, sobre os irmãos de Dias que viviam com ele numa casa amarelada.

Quem falou à reportagem disse ser amigo íntimo de Dias, referindo-se a ele como "Luquinhas", como era chamado no bairro. No ano de 2020, quando Dias ganhou na Mega-Sena, este vizinho disse que ele o procurou para contar a novidade. "Ele se encostou no muro de casa e me falou que havia ganhado R$ 47 milhões. Eu achei que ele estava brincando. Quando vi que era sério perguntei o que é que ele ainda estava fazendo aqui", recorda-se.

O medo, no entanto, o acompanhava desde então, sobretudo pelo outro irmão de Dias, quem detinha a conta na qual o valor foi depositado. "Um dia saí com ele e fiquei preocupado. Sempre havia um medo do que poderia acontecer", citou. Nos dias anteriores à morte, este vizinho disse que Dias falava em comprar uma chácara, para onde já planejava pescarias e encontros com amigos. "E eu não me conformo. Mataram um inocente! Um inocente! Quem for para a cadeia ficará pouco tempo e a vida do Luquinhas jamais voltará", desabafou, permanecendo um pouco em silêncio para chorar.

Outro vizinho que pediu para ser identificado apenas pelo primeiro nome, João, corrobora com as versões já contadas de que Dias era um homem de vida simples e calmo. Para ele, a saída dos irmãos da rua é uma medida de proteção importante após o ocorrido. "Eu não vi ninguém mais. E isso é medo, quem que não tem medo? E se chegar alguém na casa que pode acabar com a família? Eles fizeram o certo. Saíram sem avisar ninguém", disse.

Foragidos

Na tarde de quinta-feira (22), a Polícia Civil de Piracicaba divulgou as fotos dos dois suspeitos de terem participado da morte de Dias. Marcos Vinicyus Sales de Oliveira, de 22 anos, e Roberto Jefferson da Silva, de 38 anos, são apontados como os homens que dirigiram os carros usados na ação.

Segundo a delegada titular da 3ª Delegacia de Homicídios e Proteção a Pessoa (DHHP), ligada à Divisão Especializada de Investigações Criminais (Deic) de Piracicaba, Juliana Ricci, os suspeitos são considerados foragidos desde o último dia 17, quando um dos mandantes foi preso. Ainda conforme a delegada, qualquer informação sobre os investigados pode ser fornecida pelos telefones (19) 3421-6169 da DHPP ou 181, da Polícia Civil, com garantia de sigilo absoluto.

De acordo com as investigações, Oliveira é o homem que aparece nas imagens de um autoatendimento de agência bancária, em Campinas, fazendo saque com o cartão da vítima e utilizando uma Caminhonete S10, de cor prata, que aparece nas imagens de câmeras de segurança. Segundo a delegada, é o mesmo tipo de veículo utilizado no sequestro. Já Silva utilizava um veículo Ford Fiesta preto, também utilizado na ação. Ambos suspeitos tiveram prisão temporária decretada pela Justiça.

Outros dois suspeitos de envolvimento na morte de Jonas foram presos no último final de semana. Rogério de Almeida Spínola, de 48 anos, foi preso no sábado e é considerado o mentor do crime e o mais perigoso do grupo. Ele tem diversas passagens criminais, inclusive por homicídio. O outro preso, capturado no domingo de manhã, é um transexual, Samuel Messias Pereira Batista, de 24 anos, que se identifica como Rebeca. O companheiro dele também foi detido, mas liberado após depoimentos. Os dois negam participação no crime, mas eles tiveram prisões temporárias decretadas para que os policiais da DHPP possam concluir as investigações.

Segundo a polícia, Rebeca é a dona da conta bancária que recebeu a transferência por PIX de R$ 18,6 mil. Segundo a delegada, Rebeca confirmou ser dona da conta e que a teria fornecido para receber benefício do governo, mas não sabia que o dinheiro seria do sequestro mediante a extorsão.

O caso Jonas Lucas Alves Dias, o Luquinhas, foi sequestrado na manhã do dia 13, por volta das 6h30. Naquele dia, ele chegou na padaria por volta das 5h50, tomou café, comprou pão e levou para os irmãos. Jonas morava com um casal de irmãos mais velhos em Hortolândia.

Pelas imagens divulgadas pela Polícia Civil, após deixar o pão para os irmãos, a vítima saiu para caminhar. No trajeto, um carro preto passou por ele e seguiu até uma esquina, no sentido oposto ao seguido por Jonas. Uma caminhonete na cor prata também aparece nas imagens. O carro preto e a caminhonete retornam pela via e a partir de então o ganhador da Mega-Sena desaparece.

Jonas ficou cerca de 20 horas em poder dos criminosos. Neste período, Viny é flagrado pelo sistema de monitoramento de uma agência bancária em Campinas fazendo saques. A polícia ainda relatou que a vítima chegou a enviar mensagens por áudio para a gerente do banco dele agilizar a transferência de R$ 3 milhões.

A família, através da advogada, chegou a registrar boletim de ocorrência de desaparecimento de Jonas, mas ele foi achado desacordado e com marcas de agressão, por volta das 7h30 da quarta-feira, em um trecho de acesso da Rodovia Jornalista Francisco Aguirre Proença à Rodovia Bandeirantes. Funcionários da concessionária AutoBAn levaram a vítima para o Hospital Governador Mário Covas, onde ele chegou a ser atendido, mas não resistiu aos ferimentos.

Jonas era ganhador da Mega-Sena da Independência, de 2020, cujo prêmio foi de R$ 47,1 milhões. Na época, ele trabalhava como vendedor, há pelo menos 16 anos, em uma loja de ferramentas para construção, no Jardim do Trevo de Campinas. Ele pediu a demissão e chegou a abrir uma empresa com dois amigos, mas decidiu sair da sociedade. Mesmo se tornando milionário, Jonas seguiu a vida simples que sempre levou. 

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