HORTOLÂNDIA EM CHOQUE

Homem é acusado de matar esposa e filha a golpes de faca

Depois de tentar o suicídio, assassino apresentou versões contraditórias e confusas na delegacia

Alenita Ramirez alenita.ramirez@rac.com.br
14/12/2023 às 08:58.
Atualizado em 14/12/2023 às 08:58

Policiais trabalham na cena dos crimes ocorridos na residência do casal, situada no mesmo terreno dos pais, no bairro Campos Verdes (Alenita Ramirez)

Um ato hediondo que envolveu um casal e sua filhinha de apenas um ano e oito meses abalou a cidade de Hortolândia na manhã de quarta-feira (13). A mãe e a filha foram encontradas brutalmente esfaqueadas e mortas, entre a sala e a cozinha de sua residência. O marido, apontado como o principal autor dos crimes, foi localizado caído na cozinha, também ferido por golpes de faca, sendo prontamente socorrido ao Hospital Mário Covas, onde passou por uma cirurgia. No entanto, informações sobre seu estado de saúde não foram divulgadas pela prefeitura, em conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). A terrível tragédia foi classificada como feminicídio, homicídio e tentativa de suicídio. O marido foi detido em flagrante e permanece hospitalizado sob escolta policial.

Segundo o delegado titular da Delegacia da Defesa da Mulher (DDM), José Regino Melo, o operador de produção Daniel Dudas Soares Sobrinho, de 28 anos, apresentou versões contraditórias e confusas dos eventos. Inicialmente, alegou que sua esposa, a dona de casa Alice Cristina Dudas Soares, de 23 anos, teria tentado assassinálo, resultando posteriormente na morte da filha, Eloah Dudas Soares. Para se defender, ele afirmou ter retaliado e a matado. No entanto, uma segunda versão foi apresentada, na qual acusou a esposa de traição, alegando que, em um momento de fúria, tomou a faca dela e a matou.

O delegado Melo destacou que a segunda versão não condiz com os depoimentos fornecidos pelos membros da família, uma vez que todos afirmam que o casal vivia em harmonia e que Alice jamais trairia o marido, dado que se dedicava aos cuidados da filha e ao lar. Ele ressaltou que o acusado estava sob tratamento psiquiátrico e que, cerca de dez dias antes do ocorrido, havia tentado suicídio.

Não foram divulgadas informações sobre a quantidade de golpes desferidos e os locais atingidos nas vítimas. O laudo da Polícia Científica, que detalhará os aspectos relacionados aos ferimentos, estará disponível em aproximadamente dez dias. No entanto, o delegado Melo adiantou que Alice apresentava lesões nos punhos. Daniel alegou que ela teria tentado se suicidar alguns dias antes, uma versão contestada pela família da jovem, que a encontrou durante o dia da terça-feira.

A tragédia ocorreu na residência do casal, situada no mesmo terreno dos pais dele, onde existem outras casas compartilhadas, no bairro Campos Verdes.

O casal era descrito como unido, apaixonado e sem histórico de conflitos. Daniel e Alice se conheceram pela internet há pelo menos quatro anos e viviam juntos há cerca de dois anos e meio, quando ela engravidou de Eloáh. A jovem era caracterizada como tímida, caseira e dócil, tanto pela família dela quanto pela dele, e tinha planos de abrir uma loja.

Daniel era descrito como reservado e calado, mas muito prestativo, envolvendo-se ativamente nos cuidados da família e até mesmo auxiliando vizinhos. "Ninguém desconfiava de nada. Estamos todos em estado de choque", expressou a irmã dele, Eliane Dudas. "Ela era como minha sobrinha, tínhamos uma amizade muito próxima", acrescentou.

Apesar de a casa estar localizada no mesmo quintal dos pais, ninguém relatou ter ouvido qualquer tumulto, conforme informou Elaine, que reside em Várzea Paulista e se deslocou imediatamente para Hortolândia ao tomar conhecimento da tragédia.

Uma alegada discussão teria iniciado por volta da 1h da madrugada, conforme relatou um primo de Alice. Segundo esse parente, a mãe de Alice despertou por volta das 5h da manhã e notou em seu celular diversas chamadas perdidas da filha, variando entre seis e dez tentativas. No entanto, não conseguiu ouvir nenhuma delas. Ao retornar as ligações para a filha, sem sucesso, a sogra decidiu contatar o genro, que supostamente atendeu, proferindo palavras incoerentes antes de desligar. "Mais tarde, ele ligou novamente, afirmando que estava tudo bem, que Alice o havia esfaqueado, mas que estava tudo sob controle. No entanto, como ele já havia tentado se suicidar algumas semanas antes, e o encaminhamos ao hospital, ficamos alarmados e dirigimos-nos até a casa dele", relatou o primo da vítima, identificado como Felipe Freitas Mateus.

Antes da chegada da família de Alice, por volta das 4h30, Daniel fez uma chamada de vídeo para uma irmã mais velha, confessando ter cometido uma "besteira" e que precisava dela. Entretanto, a irmã estava a caminho do trabalho em um ônibus fretado e orientou-o a se acalmar, comprometendo-se a enviar seu marido até o local.

Ao chegarem, os familiares de Daniel constataram a cena trágica e acionaram imediatamente a Polícia Militar (PM), que solicitou o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Os paramédicos socorreram Daniel e confirmaram os óbitos da mãe e da filha. "Eles tinham uma relação perfeita. Nunca presenciamos brigas. Mesmo sendo reservado, sabíamos que ele era bom; ele frequentemente levava Alice à casa dos meus tios e retornava à sua residência. Era bastante caseiro, mas sempre disposto a ajudar os outros", compartilhou Felipe.

O local do crime rapidamente se tornou o epicentro das investigações policiais, com a presença de viaturas das polícias Militar, Civil e Científica. Parentes, vizinhos e conhecidos da família de Daniel convergiram para o endereço em busca de informações, procurando compreender o que teria ocorrido. "Vi esse menino crescer ao lado dos meus filhos. Brincavam juntos. Estamos em choque, tentando entender o que aconteceu", afirmou o aposentado Valdemar Miguel de Lima, de 74 anos.

Outra vizinha, Maria Praga, de 65 anos, afirmou conhecer a família de Daniel há pelo menos 40 anos e descreveu o rapaz como calmo e tranquilo. "É inacreditável. Sempre via a menininha com a avó, passeando na rua. Não ouvi nada durante a madrugada; tudo aconteceu em absoluto silêncio. Só percebi quando acordei por volta das 7h e vi várias viaturas aqui", relatou Maria, que mora em frente à casa da família.

Mesmo em estado de choque e incapaz de compreender o ocorrido, Elaine, a irmã de Daniel, fez um apelo durante uma entrevista à imprensa. Segundo ela, nenhuma das famílias esperava por essa tragédia. "Nossa mãe estava orando ontem, de joelhos, pela nossa família, pelos nossos parentes. Deus não tem culpa, e devemos continuar orando pela nossa família. O sofrimento é para ambos os lados. Perdemos quem amamos. O que aconteceu hoje é um alerta para todas as famílias, pois precisamos estar atentos às pessoas ao nosso redor e entender como está a mente delas", disse.

De acordo com o delegado, os próximos passos incluem esclarecer o que ocorreu dentro da residência por meio do depoimento de Daniel. Ao final do inquérito, com todas as demais evidências, Daniel será indiciado por duplo homicídio qualificado, com a qualificadora do feminicídio.

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