Mulher e 2 filhos atuavam na cooptação de ‘mulas’ e na recepção da droga que chegava à Europa
Ação é fruto de flagrantes de pessoas tentando embarcar com droga escondida em malas com fundo falso (Divulgação P.F)
Uma brasileira da Região Sul do País atuava como 'braço de recepção' de um grupo criminoso que enviava cocaína para a Europa a partir do Aeroporto Internacional de Viracopos. Além dela, seus filhos, um rapaz e uma moça, também participavam do esquema. A estrutura criminosa foi desarticulada na manhã de ontem, quando foi deflagrada a Operação Gryphus. As investigações apontam que mãe e filho estão em Portugal atualmente, mas ainda não foram localizados. Além da dupla, a filha dela e quatro homens foram alvos de mandados de busca e apreensão. Ninguém foi preso durante a operação de ontem.
Pela investigação, os policiais descobriram que a mulher atuava com o filho em Portugal e a filha no Brasil como cooptadores de 'mulas' - que são os transportadores de entorpecentes. A família não só participava da logística do envio da droga, como também aliciava pessoas de outros estados brasileiros para o esquema criminoso. A rota área tinha como destino final o Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa.
Eles pagavam passagens aéreas para que essas mulas transportassem drogas por bagagem e entregassem para outro integrante da quadrilha, que fazia chegar o material aos compradores. Ao menos 9,6 quilos de cocaína foram apreendidos com mulas recrutadas pelos traficantes em Viracopos. Os agentes federais ainda buscam descobrir qual foi o montante total levado para a Europa.
De acordo com o delegadochefe da Delegacia da PF, em Campinas, Edson Geraldo de Souza, a ação é resultado de um sistema de defesa do Aeroporto Internacional de Viracopos, que visa não apenas a segurança da aviação civil, mas também a repressão ao tráfico transnacional de entorpecentes. "Essa operação vai além da prisão das chamadas 'mulas'. Nosso objetivo é alcançar também os cooptadores, financiadores e organizadores dessa rede criminosa internacional", disse o delegado.
Durante a ação, a PF solicitou à Interpol a inclusão dos mandados de prisão de mãe e filho na difusão vermelha - que é um acordo de cooperação policial internacional. No total, a 1ª Vara Federal de Campinas expediu cinco mandados de busca e apreensão para endereços nas cidades de São José dos Pinhais e Pinhais no estado do Paraná e Camboriú e Itajaí, em Santa Catarina.
Em Pinhais e São José dos Pinhais foram apreendidos aparelhos celulares dos alvos. Em Itajaí drogas, produtos químicos, apetrechos para preparação e distribuição, como balança, seladora à vácuo e prensa, anotações de contabilidade, além de documentos falsos com a foto do alvo, mas em nome de terceiros. O acusado não estava no local e por isso não houve flagrante.
A brasileira que reside em Portugal com o filho criou uma identidade falsa, com novos documentos, para tirar passaporte e deixar o país de forma ilegal. Em 2022, ela foi presa pela PF tentando levar drogas para aquele país. Na época, ela falsificou a certidão de nascimento com informações próximas as reais de sua certidão de nascimento e fez RG e o passaporte. Foi através desta prisão que os agentes federais conseguiram a verdadeira identidade dela. Segundo Souza, já foi solicitado o cancelamento dos documentos. "Ela foi presa, mas estava respondendo em liberdade e aproveitou para fugir", explicou Souza. "Há indícios fortes de que essas pessoas passaram a ser o braço operacional no Brasil enquanto ela passou a ser o braço operacional na Europa", ressaltou Souza.
A ação é fruto de uma investigação iniciada em 2023, a partir de dois flagrantes de passageiros tentando embarcar com drogas escondidas em malas com fundo falso. Os presos foram uma mulher de 41 anos de São José Santa Catarina e um homem de 25 anos de São Benedito do rio Preto, no Maranhão, o que mostra que os aliados são tanto do estado dos cooptadores como de outros estados.
Uma prisão foi em março e outra em outubro de 2023, ambas envolvendo mais de 9 quilos de cocaína. Apesar do intervalo entre os flagrantes, a Polícia Federal identificou conexões entre os fornecedores, o que levou à identificação de uma estrutura criminosa mais ampla, atuando tanto no Brasil quanto no exterior. "Chegamos aos cooptadores, aos fornecedores e os preparadores da droga, então essa é uma primeira parte. Agora temos que saber quais são as outras pessoas que participam dessa organização criminosa, quais são os casos que estão relacionados a ela. A partir dos documentos que aprendemos hoje, inclusive da quebra de sigilo bancário fiscal, pode ser que venhamos a conhecer outros integrantes e que também serão alcançados pela organização criminosa, associação criminosa e tráfico Internacional de Drogas", enfatizou Souza.
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