Quadrilha atua em rodovias das regiões de Campinas, Limeira e Mogi Mirim
Além do roubo de cargas e caminhões com uso de violência, os criminosos também praticavam lavagem de dinheiro (Divulgação PF)
A Polícia Federal (PF) identificou e desmontou uma quadrilha especializada no roubo de bebidas e combustíveis que atuava nas rodovias que cruzam as regiões de Campinas, Limeira e Mogi Mirim. Em um período de dois anos, o grupo cometeu pelos menos 22 roubos e movimentou cerca de R$ 1,7 milhão. Além do roubo de cargas e caminhões com uso de violência, os criminosos também praticavam lavagem de dinheiro, pulverizando a carga em adegas e estabelecimentos ligados a eles. Para prender os envolvidos, foi deflagrada ontem a Operação Baiuca. Oito pessoas foram presas.
O grupo era liderado por um homem de 36 anos com residência no bairro Bom Jardim, em Paulínia. Ao menos 19 integrantes foram identificados pelos policiais federais. A investigação também apontou que o grupo era dividido em dois núcleos, o operacional que era chefiado pelo homem de Paulínia, e outro que era exclusivo para a lavagem do dinheiro proveniente da carga roubada.
De acordo com o delegado-chefe da PF em Campinas, Edson Geraldo de Souza, o líder dessa organização criminosa era quem convocava os integrantes para compor o grupo na prática dos roubos. "O grupo operacional era formado por pessoas selecionadas especialmente pela violência e pelo menos 14 das 19 pessoas que temos hoje faziam parte deste núcleo, que é o de abordagem", contou Souza.
Segundo o delegado, os criminosos agiam em três na abordagem e usavam armas e até simulacros para abordar os caminhoneiros. As vítimas eram obrigadas a estacionar e depois eram arrebatadas e levadas para cativeiros, onde ficavam vigiadas até o transborda da carga e destinação do caminhão. "Havia duas formas de eles abordarem os caminhoneiros. Ou em área de descanso em postos de combustíveis ou em movimento. Quando em movimento, eles emparelhavam os veículos que utilizavam, apontavam arma para o motorista, inclusive fuzis, fazendo com que o motorista estacionasse o caminhão. A partir desse momento, pegavam o motorista e levavam para o cativeiro até que tivessem certeza de que o rastreador estivesse desligado ou de que eles tivessem a capacidade de fazer o transbordo da carga para um caminhão de propriedade quente, que possivelmente pertencia até a própria organização criminosa", descreveu Souza.
Nas ações, os criminosos usavam carros roubados ou alugados e também placas frias. Boa parte das ações foi registrada por câmeras de segurança e um dos casos filmado por moradores. A investigação é do grupo especializado em repressão a crimes de rouba de cargas e caminhões da Delegacia da PF em Campinas, e começou em abril do ano passado. O trabalho de identificação dos criminosos contou com o apoio da Guarda Civil Municipal (GCM) de Paulínia, que monitorou os carros usados nos crimes.
Os 22 roubos aconteceram entre fevereiro de 2023 e dezembro de 2024 em Americana, Campinas, Cosmópolis, Jaguariúna, Limeira, Mogi Mirim, Monte Mor, Paulínia e Sumaré. Do total de roubos, 12 foram em Paulínia, três em Sumaré e nas demais cidades um. Apenas em Americana que a carga era de carne. Nas demais ações a carga era de combustível e bebidas.
A investigação ainda apontou que há indícios de que adegas, das quais parte dos investigados aparece no quadro societário, eram usadas para lavagem de dinheiro e venda de bebidas roubadas, por isso o nome de "Baiuca", que significa "bar ou botequim", em referência aos estabelecimentos usados para destinação dos bens roubados.
No total, foram cumpridos 19 mandados de prisão temporária e 22 de busca e apreensão em endereços residenciais e comerciais de Paulínia, Campinas, Hortolândia e Limeira. A maioria dos mandados tanto de busca e apreensão aconteceu em Paulínia, sede da quadrilha. Segundo Souza, na apreensão, o alvo dos policiais era dispositivo eletrônico e documentos. Dos alvos de prisão, seis deles já estão presos por algum tipo de crime cometido no decorrer da investigação, e dos 13 que estavam em liberdade, sete foram localizados ontem na operação. Um deles também foi preso por posse de arma, pois foram encontradas duas espingardas. Dois dos investigados não tinham passagem criminal.
Dos sete endereços comerciais, seis eram do ramo de bebidas, inclusive um era do líder. As ordens foram expedidas pela 1ª Vara da Comarca Criminal de Paulínia, por ser o município onde o núcleo tinha sua sede. A PF também pediu o bloqueio judicial do R$ 1,7 milhão. "O que queremos agora é, a partir dos dispositivos eletrônicos, que era nosso principal alvo nessa operação, identificar quem são os receptadores. Porque pela quantidade de combustível e de bebida e pela facilidade e intensidade com que eles trabalhavam, tem que haver um grupo maior de receptação com alto poder aquisitivo e com alta capacidade de dispensa e disfarça de toda essa mercadoria", destacou o delegado-chefe da PF.
Pelo menos 120 policiais federais e 30 guardas municipais de Paulínia participaram da força-tarefa. Os investigados podem responder por organização criminosa, roubo e ocultação de capitais (lavagem de dinheiro), com penas que podem chegar a 40 anos de prisão.
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