Ao menos 15 pessoas foram identificadas e oito presas durante operação na manhã de ontem
No total, os criminosos fizeram pelo menos cinco vítimas, segundo a Polícia (Rodrigo Zanotto)
A Polícia Civil de Campinas descobriu um esquema criminoso envolvendo o aluguel de contas bancárias para recebimento de dinheiro proveniente de roubos e extorsões realizados por meio de transferências via PIX e a participação de comerciantes em assaltos planejados por criminosos contra representantes comerciais. Ao menos 15 pessoas foram identificadas e oito delas foram presas durante operação realizada na manhã de ontem pelo 11º Distrito Policial.
No total, os criminosos fizeram pelo menos cinco vítimas, segundo a polícia. Denominada "Reciprocidade", a operação cumpriu 27 mandados de prisão, busca e apreensão nas cidades de Campinas, Sumaré, Embu das Artes e na Capital. Dos oito presos, seis estavam em Campinas e quatro eram mulheres.
Os policiais apuraram ao longo de 30 dias que a quadrilha, formada por dez mulheres e cinco homens até agora identificados, possuía três núcleos de operação e agia no Jardim Bassoli, bairro situado no distrito do Campo Grande, em Campinas.
O primeiro núcleo era formado por comerciantes que se associaram a uma facção criminosa e emprestavam seus estabelecimentos para que os bandidos realizassem assaltos 'combinados'. Os roubos eram encenados e os alvos sempre eram representantes comerciais. Pelo esquema, o assalto acontecia quando a vítima chegava ao estabelecimento. Então os criminosos surgiam na seqüência e rendiam a todos, roubando dinheiro, carro e a mercadoria tanto do representante comercial como do dono do local. Depois, devolvia o que havia sido levados dos estabelecimentos comerciais. Além disso, os bandidos também obrigavam as vítimas a realizarem transferências por PIX, segundo o delegado responsável pela investigação, Sandro Jonasson.
Os assaltos eram praticados por criminosos que faziam parte da segunda célula da quadrilha, os chamados executadores ou grupo operacional, que andavam armados e roubavam e extorquiam. Segundo Jonasson, esses criminosos, geralmente, eram violentos. "Faziam teatro, mas eram violentos. Em um deles torturam e humilharam a vítima, levando quase R$ 100 mil dela", contou o delegado.
A partir daí, os criminosos usavam contas bancárias alugadas por pessoas comuns, de várias idades e perfis, inclusive de moradores em situação de rua, que recebiam uma comissão de 30% pelos valores movimentados. Os "conteiros", como são chamados pelos criminosos, eram recrutados por um homem já identificado pela polícia e que, segundo Jonasson, atua na área do camelódromo. "Em um dos casos, um conteiro recebeu R$ 47 mil em sua conta e alegou que não sabia de onde tinha vindo esse dinheiro e ainda sim transferiu para outra pessoa. Como assim? Uma pessoa recebe um valor deste e não desconfia da procedência e o usa?", relatou o delegado.
Os policiais vão investigar durante quanto tempo o grupo criminoso atuava e se há envolvimento de mais estabelecimentos comerciais no esquema criminoso. Além disso, também vão apurar quanto a quadrilha movimentou até agora. "Uma das vítimas relatou que os assaltos aconteciam depois de algumas visitas. Primeiro o comerciante recebia o representante comercial e comprava alguma coisa. Ia ganhando a confiança para a vítima retornar, até ser montado o teatro. Uma das vítimas disse que já fazia três meses que ele ia ao local até ser assaltado", contou Jonasson.
A operação teve início a partir de um caso registrado no final da primeira quinzena do mês passado, envolvendo a dona de um salão de beleza, no Jardim Bassoli, e um representante comercial, de 43 anos, que atua no ramo de cosméticos e roupas íntimas. Na época, a vítima teve o carro com a mercadoria levados, além de ter sido obrigado a fazer transferência de R$ 10 mil.
A empresária chegou a ser tratada como vítima, mas a polícia descobriu que, na verdade, ela era mulher de um dos integrantes do alto escalão da quadrilha. "Os comerciantes recebiam diretamente do valor que os criminosos roubavam da vítima e até faziam a repartição no local", disse o delegado.
Os policiais rastrearam outras pessoas ligadas à rede. Foram expedidos 15 mandados de prisão temporária e 12 de busca e apreensão, com recolhimento de celulares, computadores e outros dispositivos eletrônicos. Em Campinas, foram presos comerciantes e conteiros. O alvo em Sumaré é uma mulher de 33 anos que recebeu R$ 27 mil em sua conta alugada. Ela mora na região do Matão e não foi localizada. Os investigados responderão por associação criminosa, roubos qualificados e extorsões via Pix, podendo também responder por crimes como estelionato e receptação.
Apreensão de cobre
Durante o cumprimento dos mandados, os policiais também flagraram um caminhão que transportava cerca de duas toneladas de fios de cobre. De acordo com Jonasson, o material é fruto de crimes e seria queimado para o derretimento da capa plástica. A apreensão não tem ligação com a Operação Reciprocidade.
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