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Golpes tendem a crescer no período de fim de ano e férias

Picaretas atacam de todos os lados, mas os casos envolvendo aluguel de imóvel para férias estão em alta

Alenita Ramirez/ alenita.ramirez@rac.com.br
27/12/2022 às 09:16.
Atualizado em 27/12/2022 às 09:16

O agricultor Sérgio Donofre perdeu R$ 2,4 mil para um vigarista ao alugar uma casa de alto padrão no Guarujá (Kamá Ribeiro)

Apesar de os golpes ocorrerem durante o ano todo, com a proximidade das férias de final de ano eles aumentam muito, segundo as Forças de Segurança Pública. De acordo com uma pesquisa da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), três em cada dez brasileiros já caíram em um golpe ou tentativa de um durante 2022. Em setembro do ano passado, por exemplo, a pesquisa da federação constatou no universo de clientes que 21% deles teriam caído em algum tipo de golpe. Em junho deste ano, o percentual passou para 31%. 

A maioria dos casos envolve crime digital. No entanto, diversas modalidades são observadas entre dezembro e janeiro, entre as mais recorrentes se referem a aluguel de imóvel em praia, venda do peru de Natal, de lanches e, até mesmo a do ‘falso sequestro’ de parentes. 

Campinas é um dos locais propícios para as tentativas e golpes. Um dos casos recentes foi o do agricultor de 55 anos que perdeu R$ 2,4 mil para um vigarista que se passou por proprietário de uma casa de alto padrão em um condomínio fechado no Guarujá. Em novembro, a vítima alugou o imóvel para um final de semana - entre os dias 16 a 18 deste mês -, com a pretensão de reunir a família para receber a irmã dele, que mora nos Estados Unidos e veio ao Brasil de férias. 

O pagamento foi pactuado em duas vezes. A primeira parcela no ato da negociação e o 50% restante dois dias antes da data do evento. O vigarista chegou a dar detalhes de como funcionaria a circulação da família no condomínio e, ainda, pasmem, dicas de segurança. "Tinha alguns lugares como referência, mas todos estavam locados. Então, busquei na internet uma opção e achei no Instagram uma pessoa que locava uma casa na praia. Pareceu ser confiável, porque o anúncio tinha mais de 16 mil seguidores e muitas pessoas elogiavam. Pensei: 'se há tanta gente comentando, é de confiança'", relatou Sérgio Donofre.

O agricultor só descobriu o golpe quando questionou sobre a existência de uma rede de supermercado que foi vendida na região. Foi aí que ele recebeu uma mensagem, no mínimo, constrangedora, avisando para que não perdesse tempo saindo de casa, porque o tal ‘aluguel’ não existia e que era o seu o trabalho aplicar golpes como havia feito com ele. "Na hora, fiquei em choque. Não falei nada e decidi sequer esticar a conversa. Bloquei ele e registrei um boletim de ocorrência eletrônico. Comentei com uma colega, que é jornalista, sobre o que havia acontecido comigo e ela fez uma reportagem. No dia seguinte, ele me mandou uma outra mensagem, de outro número, agradecendo-me por tê-lo ‘deixado mais famoso’. É o fim!", lamentou o agricultor. 

A suspeita é a de que o golpista seja de Guarulhos. O caso está sendo investigado no 5º Distrito Policial (DP) de Campinas. O vigarista usou o CPF de uma mulher, que foi identificada. Em outro caso, a funcionária pública Gisela Grancieri, de 47 anos, moradora em Mirassolândia, a 378km de Campinas, perdeu R$ 1.240,00 para um golpista de Campinas. Ela alugou um apartamento no Guarujá para passar o fim de ano com a família. Porém, descobriu que o imóvel negociado não estava para alugar e nem pertencia ao “falso proprietário”, após pedir o contato do zelador com o golpista. 

Como não houve retorno, Gisela conseguiu um contato e conversou com funcionário da portaria do prédio, descobrindo que ao menos outras cinco pessoas haviam procurado o local, explicando que havia alugado um apartamento por lá. "O cara me disse que era de Jaguariúna. Busquei na internet e encontrei o Facebook do irmão dele. Entrei em contato e o denunciei. O próprio irmão me contou que o parente era golpista e que devia denunciar à polícia", contou a servidora pública, que registrou boletim de ocorrência. 

Gisela encontrou o anúncio no marketplace do Facebook, onde o golpista se apresentou com o nome de Luan Lisboa de Souza, passando o número do CPF dele para o pagamento via PIX. Luan nega a acusação e garante que o irmão, de nome Luiz, é quem aplica os golpes. No entanto, Luiz garante que já perdeu o emprego por conta do irmão, Luan, que aplica não apenas o golpe do aluguel, mas o do peru de Natal, do lanche, entre outros. "Eu mesmo denunciei meu irmão. Ele age com a mulher dele, a Daiane", comentou Luiz, que garante que registrou boletim de ocorrência contra o irmão, em duas delegacias da cidade. 

O delegado de Polícia Divisionário da Administração do Departamento de Polícia Departamento de Polícia Judiciária São Paulo Interior 2 (Deinter 2), Rodrigo Monteiro, confirma que há um pequeno aumento de golpes neste período do ano, quando a bandidagem apenas muda a forma de agir. Ele afirmou que desconhece o caso do golpista de Campinas, mas confirmou que o caso do agricultor está em andamento. 

Ainda conforme Monteiro, para que a polícia investigue os golpes, é necessário que a vítima, além de registrar boletim de ocorrência, represente a denúncia na delegacia. "(As pessoas devem) precisam se precaver diante de ofertas sedutoras, verificando onde está anunciado o produto, se o site é oficial de alguma empresa idônea; se for anúncio particular, verificar o tempo que a postagem está no ar, comentários, se o site é brasileiro. Caso seja em redes sociais, verificar o tempo do perfil, outros anúncios e postagens, procurar indicações confiáveis, desconfiar quando a proposta for muito barata; no caso de locação, pode ser pesquisado o contato de vizinhos e síndicos e checar se, realmente, aquele imóvel costuma ser locado; pedir o telefone e e-mail do proprietário do imóvel para saber se é de fato o mesmo contato com quem está tratando a locação", orientou o delegado.

Vigaristas preferem as vítimas emotivas 

Pessoas com traços de personalidade considerados virtuosos pela sociedade, como a simpatia, empatia, gentileza e respeito, são as mais suscetíveis a se tornarem vítimas de golpes, segundo a psicóloga Luciene Cristina Rosseto. De acordo com a especialista, o ser humano tem a necessidade de obter recompensas para se sentir bem, valorizado, feliz e realizado e, com isso, os golpistas se aproveitam disso para seduzir e cativar as suas vítimas. As pessoas que acreditam facilmente nos outros, até mesmo em desconhecidos, chegam a um grau relevante de ingenuidade, o que as impede de perceber o que está por trás, as segundas intenções, e acabam sendo lesadas pelos espertalhões. 

"Os golpistas, em sua maioria, dispõem de pouco tempo para conquistar a confiança da vítima, por isso, tentam atingir o emocional da pessoa, de modo que ela ‘pense com o coração’ e não com o raciocínio lógico e autocontrole diante da situação que se apresenta. Assim, os golpes financeiros - como os de aluguel ou venda de bens ocorre, assim como o famoso ‘sequestro de filho’ ou parente", destacou Luciene. 

Para a psicóloga, um dos golpes que vêm ganhando terreno são os que envolvem apps e sites de relacionamento. Geralmente, as vítimas têm mais de 50 anos e desejam muito encontrar um parceiro. No afã de conhecer alguém, descuidam-se da segurança . Neste caso, os golpistas se aproveitam da necessidade natural do ser humano de se relacionar e se apresentam como uma "pessoa perfeita" e "confiável". "Aqui, também, o tempo precisa ser o mais curto possível. O contato é constante e intenso, a fim de conquistar e seduzir o interlocutor com a promessa de um relacionamento ‘dos sonhos’. A pessoa sequer percebe as contradições”, comentou.

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