EM PAULÍNIA

GMs e PMs livram criança de surras diárias do próprio pai

Sofrimento do garoto que levava pauladas nas costas veio à tona durante culto em igreja evangélica

Alenita Ramirez/ [email protected]
12/05/2023 às 08:48.
Atualizado em 12/05/2023 às 08:48
Menino de apenas 8 anos mostra as marcas das pauladas nas costas (Divulgação)

Menino de apenas 8 anos mostra as marcas das pauladas nas costas (Divulgação)

Com marcas profundas nas costas a evidenciar as surras diárias que levava do seu próprio pai, de 30 anos, um menino de apenas oito anos comoveu os agentes da Guarda Municipal (GM) e da Polícia Civil de Paulínia, que não pouparam esforços para prender o agressor paterno e colocar um fim àquele terrível sofrimento. A criança era espancada sem motivos pelo pai, que tem passagem criminal por tráfico. O homem usava até pedaço de pau para agredir o filho. O caso foi descoberto durante uma cerimônia religiosa em uma igreja evangélica. O pai, que também agride os genitores dele, foi preso por tortura e violência doméstica.

O caso veio à tona no último domingo, durante um culto dominical. O menino mora com os avós paternos, que têm a guarda dele. Porém, o pai, que já ficou preso por seis anos, mora na mesma casa. A avó da criança, de 68 anos, também sofre agressão. O marido dela, pai do suspeito e avô da criança, é acamado. A família mora no bairro São José. A criança cursa a 3ª série de uma escola municipal da cidade.

O crime foi descoberto durante o culto, quando os fiéis abraçaram uns aos outros. Ao ser abraçada, porém, o menino gritou de dor. Assustados, os religiosos pediram para verificar o local que doía e foi neste momento que as marcas foram vistas pela primeira vez por pessoas fora do círculo de vivência da criança. "O menino não é da igreja, mas a avó pediu para a vizinha levá-lo à igreja dela naquele dia. Foi como se a avó pedisse socorro em silêncio, para que alguém descobrisse e denunciasse o pai, pois ela mesma também sofre agressões", contou a guarda municipal Gisela da Silva Pereira, que participou do "resgate" da criança. Ela preside o Conselho Municipal de Defesa da Criança e Adolescente (CMDCA) e integra o Comitê Intersetorial de Enfrentamento a Violência Contra a Criança e Adolescente. 

Um dos fiéis ligou na noite do domingo para a Gisela, que na manhã do dia seguinte seguiu até a escola do menino, mas a unidade estava fechada para reunião. Então ela foi até a casa dos avós da criança e, no local, viu o menino sem camisa. "As marcas eram horríveis. Quando ele nos viu, correu para os braços do meu colega e disse: 'vocês vieram me salvar'. Na hora, decidi levá-lo para o hospital, mas no caminho passei na delegacia, pois primeiro precisava tirar aquele menino de perto do pai. O delegado se comoveu com o caso e pediu para a Justiça a prisão do pai", contou Gisela.

Segundo declarações da própria criança para os guardas, ela sofria agressão diariamente de todas as formas possíveis e sem motivos. Em duas das ocasiões, o pai "tirou" sangue dela durante a surra. No última sessão de espancamento surra, na noite da sexta-feira passada, o pai usou um pedaço de pau para espancar o menininho. Segundo Gisela, a criança também relatou que o pai chutou o peito dele. "Ele apanhava como gente grande. A própria avó disse que o menino não fazia nada e apanhava. Apanhava por apanhar. Se o menino continuasse com o pai, ele iria morrer. Mexeu muito com todos nós. Uma criança que estava vivendo como adulto. Sofria como adulto", disse Gisela.

O agressor trabalha em uma empresa de Sumaré e quando soube que tinha sido denunciado, ficou transitando com o carro da empresa entre os dois municípios, sem comparecer na empresa e nem na casa dele. O homem foi preso no bairro João Aranha, na noite de quarta-feira (10).

Segundo Gisela, os pais são separados. A mãe também seria usuária de drogas e tem outros dois filhos, de relacionamentos diferentes. Apenas um dos filhos, de 3 anos, vive com ela. Mas para evitar que o pai do menino o encontrasse, a Justiça concedeu a guarda provisória para ela, até que o agressor fosse preso. Na quinta-feira (11), a criança foi devolvida para a avó paterna e o caso será acompanhado pelo Conselho Tutelar, CMDCA e o Comitê.

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