SEGURANÇA PÚBLICA

GM adota farda com tecido mais versátil e confortável

Processo de modernização incorpora tecnologia mais avançada, mesclando o rit stop com o dry fit

Alenita Ramirez/ [email protected]
01/01/2024 às 15:44.
Atualizado em 01/01/2024 às 15:44
O professor do Senac e mestre em Têxtil e Moda pela USP, Eduardo Vilas Boas, explica que o poliéster não é a fibra mais indicada para uniformes (Alessandro Torres)

O professor do Senac e mestre em Têxtil e Moda pela USP, Eduardo Vilas Boas, explica que o poliéster não é a fibra mais indicada para uniformes (Alessandro Torres)

Há pelo menos dois anos, as instituições de segurança pública vêm adotando uniformes mais adequados à sua realidade operacional, personalizando-os de acordo com suas respectivas atuações. Uma notável tendência nesse processo de modernização das fardas é a incorporação de tecnologia avançada nos tecidos, mesclando o rip stop (frequentemente confeccionado em nylon, utilizando uma técnica de reforço que o torna mais resistente a rasgos) e o dry fit (composto por uma mistura de tecidos sintéticos, como poliéster ou poliamida, e elastano, apresentando uma fibra extremamente fina). Essa combinação proporciona versatilidade, conforto térmico e durabilidade.

Recentemente, em Campinas, a Secretaria Municipal de Segurança Pública iniciou a substituição do uniforme da Guarda Municipal (GM), que anteriormente era exclusivamente fabricado com rip stop. Agora, a combat shirt de manga curta não apenas mantém o rip stop nas mangas, mas também incorpora o tecido dry fit em seu "corpo", acrescido de proteção UV em todos os materiais. A comandante da GM, Maria de Lourdes Soares, destaca que a nova combat shirt visa oferecer maior conforto aos guardas municipais durante o desempenho de suas funções, especialmente em jornadas prolongadas.

A combat shirt apresenta rip stop nas mangas, dry fit na região do colete e, nas laterais, o tecido, também do tipo dry fit, possui uma aparência semelhante a uma tela que facilita a ventilação. O novo fardamento, em azul escuro e ostentando o brasão da corporação, começou a ser distribuído a partir do dia 20, incluindo uma combat shirt de manga curta e uma calça, juntamente com o coturno já entregue. A expectativa é que, dentro de 30 dias, seja completada a entrega de mais uma combat shirt de manga curta, uma de manga longa e outra calça para todo o efetivo da corporação.

"Recentemente, as corporações têm buscado uniformes que enfatizem a identidade de cada instituição, tornando mais fácil distinguir uma da outra. A ênfase está na adoção de materiais mais resistentes a rasgos, leves, menos calorosos e que proporcionem alguma proteção contra os raios solares", ressaltou o subcomandante da Guarda Municipal (GM), Edilson da Silva.

A Guarda Municipal de Jaguariúna também está em busca de tecnologia semelhante à utilizada nos uniformes da GM de Campinas. No início do próximo ano, a corporação local abrirá licitação para a aquisição de novo fardamento. Já as Guardas Municipais de Vinhedo e Paulínia adotaram combat-shirts com tecido dry fit. De acordo com o inspetor da GM de Paulínia, Herycon França de Oliveira, essa tecnologia de fios é empregada há quase dois anos. "Optamos por um tecido anti-pelos, mais leve, que proporciona uma sensação térmica agradável, mesmo após 12 horas de trabalho", explicou Herycon.

Ao escolher o novo fardamento, o secretário Municipal de Segurança Pública de Vinhedo, Osmir Cruz, destacou a importância de preservar a mobilidade, elasticidade e, principalmente, a proteção da pele, especialmente dos braços. "A ideia foi oferecer um uniforme confortável que permitisse a movimentação durante o serviço, uma vez que o guarda utiliza outros itens que podem pesar no corpo", afirmou Osmir Cruz.

Segundo o presidente do Conselho Nacional das Guardas Municipais, Carlos Alexandre Braga, os novos uniformes confeccionados com tecnologias avançadas em tecidos oferecem maior durabilidade, maleabilidade e são mais eficazes na retenção do calor, o que se torna crucial diante do aumento da intensidade da luz solar e das temperaturas nos últimos tempos. Ele destaca que esses novos tecidos já são uma realidade, sendo amplamente adotados por diversas guardas municipais no país, especialmente na região Sul. Essa tendência, que teve início há alguns anos, ganhou impulso nos últimos três anos e continua a se expandir.

A inovação no uso de tecidos de última geração não se limita apenas às Guardas Municipais, alcançando também as polícias Civil e Federal. No dia 16 deste mês, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) de São Paulo publicou na edição do Diário Oficial do estado (DOE) a DGP 29, que estabelece diretrizes para as operações nas unidades policiais, destacando a importância do vestuário oficial para os agentes. Nos parágrafos 4 e 8 do artigo 11, o documento ressalta os uniformes oficiais para cada grupo de atuação, incluindo a recomendação do uso da combat shirt com tecido especial.

Para o Grupo de Operações Especiais (GOE), vinculado à Divisão Especializada de Investigações Criminais (Deic) de Campinas, pertencente ao Departamento de Polícia Judiciária do Interior de São Paulo 2 (Deinter-2), a orientação é utilizar gandola e calça tática no padrão "multicam black". O texto da norma enfatiza que a camiseta, a "combat shirt", a cobertura, a bota e outros elementos de identificação devem ter cores simétricas.

DRY FIT

O termo Dry Fit foi originalmente criado e registrado pela empresa americana Nike nos anos 1990, referindo-se a um processo específico na produção de um fio sintético da fibra chamada poliamida. Essa inovação, inicialmente bem-sucedida no contexto das atividades físicas, tornou-se uma categoria de produtos à medida que outras empresas passaram a adotar essa tecnologia, conforme explicado pelo professor de moda no Senac Campinas e mestre em Têxtil e Moda pela USP, Eduardo Vilas Bôas.

Contudo, à medida que o mercado busca constantemente redução de custos para otimizar a comercialização de produtos, surgiram variações dessa tecnologia que incorporam fios de poliéster, devido à sua menor despesa. Ambos o poliéster e a poliamida são fibras químicas sintéticas derivadas do petróleo e produzidas pela indústria petroquímica, com foco na aplicação na indústria têxtil.

De acordo com Bôas, embora o poliéster seja amplamente utilizado na produção de roupas, não é a fibra mais indicada para uniformes, especialmente para aqueles que desempenham atividades ao ar livre, como agentes de segurança pública. O poliéster apresenta baixa respirabilidade, retendo mais umidade, o que pode levar à proliferação de odores devido ao crescimento de bactérias e fungos.

O especialista destaca que, apesar da resistência e facilidade de conservação do poliéster, ele causa desconforto térmico, aquece demais, demora para secar e propicia odores indesejados tanto no tecido quanto no usuário. Por outro lado, o Dry Fit de poliamida, também conhecida como nylon, seca mais rapidamente em contato com o suor e não desbota facilmente. "Há vários benefícios no uso desses materiais (poliamida e Dry Fit) em comparação com o tradicional algodão, e cada vez mais o mercado de uniformes migra para o uso dessas fibras", enfatiza o especialista.

Um cuidado destacado por Bôas é relacionado à lavagem da Dry Fit, assim como qualquer outra fibra sintética. Deve-se evitar o uso de amaciantes, pois a combinação do amaciante com essas fibras pode diminuir a durabilidade da fibra e contribuir para a formação de odores indesejados nos produtos.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por