Morte de Jonas, de 55 anos, foi o assunto mais comentado em Hortolândia
Jonas Lucas Alves Dias havia ganhado o prêmio de R$ 47,1 milhões em 2020 (Reprodução)
Jonas Lucas Alves Dias, de 55 anos, um dos ganhadores da Mega-Sena da Independência de 2020 e que morreu depois de ser encontrado ferido e desacordado às margens da Rodovia dos Bandeirantes, em Hortolândia, mantinha um estilo de vida simples e manteve a mesma rotina que levava desde a sua infância, mesmo após receber R$ 47,1 milhões como prêmio. A morte de Jonas foi o assunto mais comentado desde a noite de quarta-feira (14), em quiosques, bares e praças da cidade onde ele morava e na região. O crime, ainda um mistério, mobilizou a Polícia Civil, que iniciou as buscas por imagens e pistas sobre o período em que ele sumiu, de aproximadamente 24 horas, até a vítima ser achada desacordada, com indícios de espancamento na cabeça.
O corpo seria liberado ainda na quinta-feira (15) e estava previsto para ser enterrado na manhã de hoje. Em entrevista coletiva na manhã de quinta-feira (15), na Delegacia do município, o diretor do Departamento de Polícia Judiciária do Interior 9 (Deinter 9), Kleber Altale, informou que a Polícia Civil não antecipará informações sobre o caso para não atrapalhar as investigações, mas frisou que o caso está em andamento.
Diretor do Deinter, Kleber Altale, e a delegada Juliana Ricci da 3ªDHPP (Rodrigo Zanotto Reprodução)
Altale esteve em Hortolândia junto à delegada Juliana Ricci - da 3ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), ligada a Divisão Especializada de Investigações Criminais (Deic) de Piracicaba - e também do titular de Hortolândia, João Jorge Ferreira da Silva. “Tudo será devidamente apurado. Estamos investigando e qualquer coisa que falarmos pode atrapalhar as investigações. Estamos buscando mais imagens”, explicou a delegada, ressaltando que muita gente no bairro onde a vítima morava sabia que Jonas “tinha muito dinheiro, mas não especificamente originário do prêmio da Mega-Sena”.
Jonas tinha saído de casa na manhã da terça-feira, após tomar café na padaria do bairro onde mora. Costumava andar de chinelos, sem luxo e tinha o hábito de caminhar pelo bairro todas as manhãs. Saía sem celular. “Ele era um dos primeiros a chegar na padaria. Comia um salgado frito ou assado, com suco de laranja. Gostava muito de esfirra de frango. Então, pegava pães e ia embora. Era diário isso”, contou uma atendente de 42 anos, que afirmou que ele era cliente da padaria há quase 19 anos. “Era uma pessoa simples e nunca o vi falando que tinha ganhado na Mega”, contou a funcionária que não quis ser identificada.
O corpo de Jonas, ainda com vida, foi localizado por funcionários da Concessionária AutoBAn, por volta das 7h, na alça de acesso das rodovias Jornalista Francisco Aguirre Proença com a Bandeirantes. O resgate da concessionária foi acionado e levou a vítima ao Hospital Governador Mário Covas, onde foi constatado que ele tinha sofrido traumatismo craniano, estava em estado grave e foi entubado. Mas o ex-vendedor não resistiu aos ferimentos e faleceu.
No período que ficou sumido, Jonas fez contato com sua agência bancária, pedindo uma transferência de R$ 3 milhões, mas o movimento foi negado, uma vez que não foi apresentada uma justificativa e sua gerente estava de férias. A polícia ainda descobriu que foram feitos dois saques bancários no valor de R$ 1 mil, cada, e uma transferência por PIX de R$ 18,6 mil.
“Estamos fazendo diligências conjuntas e temos alguns indícios, mas é prematuro adiantar qualquer coisa. As pessoas onde ele morava sabiam que ele possuía um numerário grande na conta, mas não sabiam que ele era um ganhador da Mega-Sena”, contou o delegado titular de Hortolândia. “Ele não saia com o celular, mas foi apresentado um que ele usava. As imagens apreendidas estão sendo avaliadas”, acrescentou.
No período em que ficou sem dar notícias, os irmãos e a advogada da família registraram na Delegacia Eletrônica, um boletim de ocorrência de desaparecimento. Ele havia saído de casa apenas com os documentos pessoais e um cartão de débito bancário.
Fachada da loja de ferramentas para a construção civil onde a vítima trabalhava antes de ganhar o prêmio (Rodrigo Zanotto)
Caçula
Jonas era o caçula de três irmãos – um casal mais velho que ele -, todos solteiros, morando na mesma casa praticamente desde a infância.
Antes de se tornar milionário, ele trabalhava em uma loja de ferramentas para construção civil no Jd. do Trevo, em Campinas. Lá, ele exerceu a função de vendedor por 16 anos.
Segundo colegas de trabalho, Jonas gostava de apostar na Mega-Sena e todos os sábados fazia apostas na Casa Lotérica localizada na Av. Estados Unidos, no Jd. Nova Europa, em Campinas. "Às vezes, ele chamava a gente. Mas quando ganhou, jogou sozinho. Lembro-me que foi no sábado, antes do feriado da Independência. Quando retornou na terça-feira, pós-feriado, chegou aqui sem o uniforme. Brinquei: ‘cadê o uniforme?’. E ele respondeu que contaria depois e saiu. Acredito que foi falar com a chefia. Quando voltou, disse que havia ganhado na Mega. Na hora nem acreditamos. A sorte era para ele. Na época, o prêmio foi dividido com um ganhador de São Paulo. Ele ajudou duas pessoas daqui, as que eram mais próximas a ele”, relembrou o vendedor Adriano Alves, de 46 anos.
De acordo com os conhecidos, Jonas chegou a doar muito dinheiro para pessoas mais chegadas a ele. Dois dos bens que ele adquiriu com o prêmio foram uma caminhonete e uma chácara em Conchas. “Ele não tinha ambições e, se tinha, nunca falou. É muito triste tudo o que aconteceu”, comentou Alves.
No dia da aposta sortuda, ele foi acompanhado de um amigo que trabalhava nas proximidades da loja onde ele era funcionário. Aliás, os dois andavam juntos. “Eu o conhecia de vista. Ele passava na farmácia para comprar remédios para o estômago e fígado. Pagava e ia para a lotérica”, contou o farmacêutico Flávio Bombati.