INCONVENIENTES ORDINÁRIOS

Furtos de pequenos objetos geram queixa em redes sociais

Devido ao baixo valor dos itens furtados, população não registra boletim de ocorrência

Alenita Ramirez/ [email protected]
30/04/2023 às 09:52.
Atualizado em 30/04/2023 às 10:16
Renata Olah em frente à sua residência, que teve números de identificação furtados em mais de uma ocasião: sem queixa formal à Polícia (Rodrigo Zanotto)

Renata Olah em frente à sua residência, que teve números de identificação furtados em mais de uma ocasião: sem queixa formal à Polícia (Rodrigo Zanotto)

Numeral de identificação de casas, casinhas de cachorro, corrimão de escadaria e até mesmo lixeiras de calçadas: nada passa despercebido pelos criminosos. Apesar de serem crimes, esses furtos inusitados geralmente não se transformam em estatísticas para a polícia, já que as vítimas não registram boletim de ocorrência por considerarem os objetos irrelevantes e apenas compartilham nas redes sociais como forma de alertar os vizinhos.

Recentemente, o bancário César Augusto Silva Santos publicou no grupo do bairro onde mora, o Proença, o furto de um dos numerais de sua casa. A ação foi registrada pela câmera de segurança e mostrou o momento em que um homem se aproxima do muro e remove o numeral. O furto foi percebido no dia seguinte quando Santos viu um buraco no local de onde ficava o 1. A peça de alumínio custa cerca de R$ 100 e foi arrancada à força. “Há mais ou menos uns oito meses levaram o número 2. Na época achei que tinha caído em meio às flores que ficam perto do muro e comprei outro e coloquei no lugar. Mas desta vez puxei nas câmaras para ver e vi que tinha sido furtado. “É inacreditável. Agora não compro mais. Vou pintar o numeral na parede, assim não furtam e nem estragam meu muro”, disse o bancário, frisando que já teve furtado um holofote de led que ficava no portão social e uma tentativa de furto do suporte de lixo. Santos não é o único morador do bairro que sofreu este tipo de furto inusitado. Ainda nas proximidades, em outra rua, outro morador postou que teve a lixeira comunitária levada por criminosos e que o equipamento não tinha sido reposto pela prefeitura. Na mesma região, bandidos levaram a fiação e relógios de energia de diversas caixas de luz de um prédio comercial, além do corrimão de inox localizado na ala do estacionamento.

Existem diversos relatos de moradores que tiveram vasos furtados, caixas de correios e até calota de carros que estavam parados na rua. Não muito longe do Proença, na região do Guarani, os “garimpeiros” limparam um imóvel desocupado e carregaram nas costas portões e portas de ferro. Tudo registrado pelas várias câmeras de segurança da vizinhança. As câmeras não intimidam os suspeitos, apenas registram os ocorridos após o fato.

Há dez dias um bandido escalou uma porta de vidro de um edifício localizado na Avenida Doutor Moraes Salles para furtar um esguicho de cobre do hidrante. O larápio passou pelo vão da porta e, mesmo com monitoramento, ele não se intimidou. Funcionários do local viram a ação e o detiveram até a chegada da Guarda Municipal (GM).

Recentemente tornou-se usual em Campinas o furto de fios de cobre usados em fiação elétrica. No final da semana passada, criminosos furtaram a fiação de iluminação do Túnel Joá Penteado e os motoristas ficaram sem luz na via subterrânea. Um dia depois, a GM conseguiu deter os criminosos que tentavam furtar o restante da fiação do local. “O furto tem motivos diversos. Alguns casos de furtos, os objetos levados nem sempre têm algum valor comercial ou até pode ter um valor ínfimo, mas a pessoa furta por ver algum interesse específico. E tem o furto praticado por viciados em drogas que usam objetos, tais como ferro e cobre, para trocá-los por dinheiro”, explicou o delegado da Divisão Especializada em Investigações Criminais (Deic), José Carlos Fernandes.

O especialista em Segurança Pública e coronel reformado da Polícia Militar (PM), Marci Elber Rezende, não descarta o envolvimento de quadrilhas nesses pequenos furtos que são praticados principalmente no centro da cidade, mas acredita que em sua maioria esses são praticados por moradores em situação de rua, sendo a maior parte dependentes químicos que utilizam os objetos para vender e adquirir suas substâncias favoritas. “Fio de cobre e material de hidrante geralmente vão para empresas que trabalham com reciclagem. É interessante que haja uma fiscalização para verificar quais são as empresas que compram esse material, se têm algum controle ou não desse material que é comprado. Com isso se evita a questão de outros crimes, além do furto, que é a receptação”, comentou Marci.

Para o coronel reformado, mesmo que o objeto não seja de grande valor, a vítima deve registrar boletim de ocorrência, para que o crime seja contabilizado nas estatísticas criminais. “Acredito que vale a pena, no sentido de se minimizar a subnotificação, para que a estatística seja a mais próxima da realidade, direcionando o policiamento com atenção a esses pequenos delitos. Essas ocorrências podem ser registradas pelo site da Polícia Civil, não precisando se dirigir ao plantão policial”, disse.

Segundo Marci, o furto praticado por usuários de drogas não se resolve apenas com policiamento, mas com trabalho envolvendo o poder público, seja municipal ou estadual. “Normalmente isso (furto) acontece em locais com graves problemas sociais, degradados, como o Centro de Campinas, nos quais há uma população de rua muito grande. Então há a necessidade da composição de vários agentes públicos e entidades municipais e estaduais para que o trabalho efetivo seja coordenado e tenha resultados melhores”, frisou.

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