Polícia pega quadrilha que veio da Baixada Santista para testar o esquema na região de Campinas
No quintal da casa alugada pelos suspeitos, a PM encontrou o equipamento usado para furtar o óleo diesel (Divulgação/ Policia Militar)
A Polícia Militar (PM) desarticulou uma quadrilha especializada em furto de combustível de locomotivas com ramificações na Baixada Santista, na terça-feira (2) de madrugada, em Campinas. Uma mulher de 22 anos foi presa em flagrante por associação criminosa e furto qualificado. Dois homens fugiram, mas já foram identificados. O grupo é do Litoral e estava na cidade havia um mês para testar se a região de Campinas é lucrativa. Neste período, eles chegaram a furtar o equivalente a quatro mil litros de óleo diesel por noite. A empresa VLI Logística desconfiava de algo errado com as locomotivas que paravam no Jardim Rosália, onde a mulher foi detida.
O trio foi descoberto por volta da meia-noite durante patrulhamento de rotina de uma equipe da 5ª Companhia do 47º Batalhão de Polícia Militar do Interior 2 (BPM/I) no Jardim Rosália, na região da Vila Padre Anchieta.
Ao passarem pela Rua Manoel Tomaz, uma via sem muito movimento de pedestre, segundo o soldado Leandro Carvalho Santos, os policiais avistaram um veículo Volkswagen Gol parado, com a porta do lado do passageiro aberta e um homem do lado de fora conversando com uma mulher em frente a uma casa. Segundo Santos, o portão era de ferro e estava aberto. "Achamos que fosse um roubo em andamento e nos aproximamos. Quando ele viu a viatura, correu para dentro do carro, que saiu em disparada. Fomos até a mulher conversar e ela disse que prestava informações para o pessoal do carro. Estranhamos o fato de uma mulher estar na rua aquele horário, com a casa aberta e o homem ter corrido. Ela começou a entrar em contradição", contou o soldado da PM.
A casa é murada e com portão de ferro todo fechado. Segundo Carvalho, como o portão estava aberto deu para ver no quintal mangueiras, galões, ferramentas e forte odor de óleo. "Questionamos o que seria aqueles equipamentos e ela acabou confessando que fazia parte de uma quadrilha especializada em furto de combustível de locomotiva na Baixada Santista e que estava há um mês em Campinas para tentar ver se o negócio iria prosperar", relatou o policial.
No imóvel havia pelo menos 100 litros de óleo diesel. Na casa - alugada pelo trio - havia três colchões espalhados. O imóvel fica a 50 metros do pátio ferroviário, onde as locomotivas param para fazer manutenção. A linha férrea fica a cerca de cinco metros da porta da residência.
Modus operandi
De acordo com Carvalho, a mulher confessou que atua como olheira do grupo e também é a responsável por passar as informações para os comparsas que ficam dentro da casa. Ela também relatou que o trio faz parte de uma quadrilha, cuja base fica na Baixada Santista, onde o esquema é lucrativo e funciona há anos.
Pelo esquema campineiro relatado por ela, o grupo investiu R$ 20 mil para equipar a casa onde estavam com ferramentas próprias para fazer a extração do diesel. Foram adquiridas mangueira especial para aguentar a pressão do combustível, bomba resistente para puxar o óleo e fiação elétrica. A base em Campinas era provisória.
O furto acontecia depois que os criminosos faziam a locomotiva ficar parada para receber manutenção. Pelo modus operandi, os bandidos cortavam a mangueira do freio do "carro" que puxa a locomotiva para fazê-lo ficar parado. E era nesse período de receber manutenção que os ladrões agiam. De acordo com Carvalho, o conserto de cada locomotiva demora em média 12 horas. Cada uma é composta por 80 vagões e três carros.
Os bandidos aproveitam desse período para extrair o óleo. Eles levam uma mangueira até o carro da composição e retira o óleo diesel de uso da própria locomotiva.
A mangueira era esticada no chão da rua, saindo da casa e passando por baixo das barras de ferro do trilho. Para tanto, eles faziam uma pequena vala para passar o equipamento. Depois engatavam a mangueira no tanque do carro da composição. Em média, cada carro tem 15 mil litros de óleo diesel e os bandidos furtavam um total de 4 mil litros. Os criminosos atuavam entre 23h e 2h da madrugada. "Eles colocavam em galões e repassavam a postos de gasolina da região. Hoje, eles ficaram menos de uma hora em operação e deram um prejuízo de R$ 27 mil para a empresa. A mulher disse que hoje (terça-feira) a movimentação no local estava anormal e eles decidiram encerrar mais cedo", disse o policial.
O rapaz que estava como passageiro é irmão da mulher e tem 19 anos. Segundo ela, o suspeito é o gerente da unidade campineira e também ajuda na parte técnica. Já o que estava como motorista seria o namorado dela e é o responsável pela parte técnica.
Os policiais acreditam que há mais criminosos no grupo campineiro e agora a Polícia Civil deve seguir com as investigações para tentar localizar os outros integrantes do grupo, inclusive os dois homens que fugiram. O caso foi registrado na 2ª Delegacia Seccional de Campinas e a mulher encaminhada à cadeia pública de Paulínia.