EM CURVA ASCENDENTE

Faxineira é morta depois de discutir com o companheiro em Campinas

Com este crime, total de feminicídios este ano é o dobro do registrado em 2021 nos primeiros sete meses

Alenita Ramirez/ [email protected]
30/07/2022 às 10:37.
Atualizado em 30/07/2022 às 10:45
Residência do casal, onde a faxineira de 55 anos foi assassinada com uma faca pelo companheiro, que foi preso (Kamá Ribeiro)

Residência do casal, onde a faxineira de 55 anos foi assassinada com uma faca pelo companheiro, que foi preso (Kamá Ribeiro)

Uma faxineira de 55 anos foi morta com uma facada no peito no final da tarde de quinta-feira (28)  no bairro DIC 1, na região do distrito do Ouro Verde, em Campinas. Este é o segundo feminicídio em 11 dias e o 8º do ano na cidade, totalizando o dobro de vítimas quando comparado a 2021 - quando quatro mulheres foram mortas nos sete meses do ano, sendo que no ano todo foram cinco vítimas. 

Ivani Carvalho de Souza foi morta no quintal da casa onde morava, depois de uma discussão com o companheiro, o pedreiro José Nilberto dos Santos, de 48 anos, que foi preso em flagrante pela Polícia Militar, pouco tempo depois, em um quiosque de lanche, a cerca de 100m da casa da vítima. 

De acordo com amigos da mulher, o casal morava juntos há oito anos entre idas e vindas e que as brigas eram constantes. A maioria porque ele bebia, usava entorpecentes, era agressivo e gastava todo o dinheiro com os vícios.

O crime ocorreu por volta das 17h. Segundo o comerciante e amigo da vítima, Inácio Vieira de Sá, Ivani havia decidido expulsá-lo de casa e jogou parte das roupas dele na rua. “Pouco antes de matar a Ivani, ele veio aqui no bar, comprou um refrigerante e foi embora. Ele estava embriagado e acompanhado do cachorrinho deles. Passou um tempinho e ouvi os gritos de socorro do vizinho, que já tinha ido até lá ajudar a Ivani”, contou Sá. “Corri e a vi caída em uma poça de sangue, sem qualquer reação. A polícia chegou rapidamente, mas o resgate demorou muito, mais de uma hora”, acrescentou.

Ivani morava sozinha com o agressor, era mãe de um casal de filhos adultos e casados que moram em bairros próximos. Há dois meses ela havia conseguido um emprego em um condomínio perto da casa da família. “Ela era batalhadora, muito amiga de todos, uma pessoa muito boa. Ela queria muito se separar dele, mas ele sempre voltava e dizia que ia mudar”, relatou o comerciante. 

Após matar a faxineira, o pedreiro foi até um quiosque e pediu ajuda ao dono para chamar a polícia, pois havia matado a mulher. “Ainda bem que a polícia o prendeu, porque os moradores ficaram muito revoltados e poderiam fazer algo contra ele”, disse Sá.

Santos foi levado à 2ª Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), onde ficou preso e teve a prisão em flagrante convertida para preventiva, visto que era procurado da Justiça por não pagamento de pensão alimentícia. Ele chegou a negar o crime, alegando que a mulher tentou suicídio, mas imagens de câmeras de segurança da rua mostraram que isso não correspondia à verdade. A imagem mostra ele fugindo a pé com a faca ensanguentada. 

Banalização da violência

A banalização da violência é um dos motivos para o aumento de crimes contra a mulher e de forma geral, segundo opinião do delegado assistente da 2ª Delegacia Seccional de Polícia de Campinas, Marcelo Eduardo Bueno da Silveira. Em 2020, ainda na pandemia, com períodos de total confinamento, seis mulheres foram assassinadas pelos companheiros. 

Na época, especialistas e policiais justificaram o aumento de casos devido aos casais ficarem mais tempo junto e o estresse gerado pela doença. Em 2021, quando a rotina das pessoas foi dividida entre o confinamento e a volta ao trabalho, o total de feminicídios subiu para cinco. “Na minha opinião, esses crimes aumentam em virtude da banalização da violência. Um desprezo pela vida do outro e pela própria liberdade. Antes o ‘bem’ mais precioso era a vida e a liberdade. Hoje as pessoas não se importam em matar ou mesmo perder a vida ou se serão presos. Assim a criminalidade aumenta em todos os níveis”, disse Silveira.

Dados divulgados pelo Sistema de Notificação de Violência (Sisnov), revelam que as regiões com os maiores índices de agressão a mulheres em Campinas são a Noroeste (que abrange do Campo Belo a saída para Valinhos), com 26,2% e a Sul, com 25,1% (Campo Grande). “Os homens querem ser donos das mulheres e não aceitam que elas sejam livres. Hoje, as mulheres estão empoderadas, ganharam força e coragem e isso gera rebeldia no homem que não aceita. E como as leis não são cumpridas, eles matam, são presos, e logo estão nas ruas novamente”, acredita o empresário Delfino José Ribeiro, fundador do projeto Thais Vive e que encampou a Semana de Combate ao Feminicídio, em Campinas, que acontece entre os dias 8 e 13 de maio. 

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