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Escola de Campinas registra ameaça após o ataque terrorista em Monte Mor

Aviso sobre massacre na quinta-feira (16) estava escrito na porta do banheiro de unidade escolar do Centro

Alenita Ramirez/ [email protected]
15/02/2023 às 09:38.
Atualizado em 15/02/2023 às 17:31
Prédio da Escola Orosimbo Maia: direção acionou a Polícia Militar, que foi ao local fazer a averiguação (Kamá Ribeiro)

Prédio da Escola Orosimbo Maia: direção acionou a Polícia Militar, que foi ao local fazer a averiguação (Kamá Ribeiro)

O ataque terrorista praticado por um adolescente de 17 anos contra o prédio onde funcionam duas escolas, em Monte Mor, na manhã de segunda-feira (13), gerou um ato de vandalismo em uma escola estadual de Campinas, no final daquele mesmo dia. Em uma das portas do banheiro feminino da Escola Orosimbo Maia, por volta das 17h50, foi localizada uma frase em letras de forma que dizia “massacre macre dia 16! falte!”. A mensagem, independentemente de ser trote ou não, levou a direção da unidade a acionar a Polícia Militar (PM), que foi ao local e fez o registro de averiguação de atitude suspeita.

“A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (Seduc-SP) informa que age para descobrir a identidade do autor da pichação e pediu apoio da Polícia Militar. A direção, por orientação do Conviva SP, vai realizar reunião com servidores, funcionários e alunos, com a participação da PM, para explicar as consequências e implicações que ações como estas podem acarretar a quem dissemina esse tipo de ameaça. As aulas não foram interrompidas”, informou a Pasta de Educação, por meio de nota.

O adolescente, que vai completar 18 anos em junho deste ano - apreendido por ato infracional com o agravante de atentado contra a vida e integridade física de pessoa - foi apresentado ao Ministério Público (MP) e encaminhado a uma unidade da Fundação Casa, ainda na terça-feira (14) pela manhã. 

Segundo o delegado de Monte Mor, Fernando Bueno de Castro, na oitiva, o adolescente foi frio em suas declarações e disse que atacou a escola porque estava com “raiva de tudo e de todos”. 

Ainda conforme o delegado, as investigações sobre o caso seguem para apurar a relação dele com o material apreendido no quarto dele. Na casa, a polícia apreendeu um diário, livros de apoio ao nazismo e um simulacro de fuzil. O jovem usava roupas pretas e tinha as sobrancelhas raspadas. No momento da detenção, o menor portava uma braçadeira com a suástica nazista e carregava em uma das mãos uma machadinha. Próximo à escola foi encontrado um revólver calibre 38, municiado, além de garrafas com combustível.

A família do menor relatou que o jovem tinha o hábito de ficar trancado no quarto “jogando”. Ele também passava por tratamento psiquiátrico. “Eu não sei o que aconteceu. Foi tudo por influência da internet. Ele estava falando com alguém. Eu creio que ele fez isso a mando de alguém, em conversa. Mas assim, ninguém se machucou. Ele não é uma má pessoa, quem me conhece sabe disso daí”, disse a mãe do jovem, em vídeo publicado nas redes sociais, logo após o crime.

O adolescente é ex-aluno de uma das unidades que funcionam naquele prédio. Segundo consta, ele era um aluno ausente, com baixa frequência e rebelde. O jovem teria frequentado o colégio até 2021, quando estava no 7º ano. Depois disso, passou para o Educação de Jovens e Adultos (EJA) em 2022, mas não foi mais à escola.

Na terça-feira, as aulas da rede municipal foram retomadas, com a presença de cerca de 40% dos estudantes. A Secretaria Municipal de Segurança reforçou o patrulhamento no local e nos demais prédios escolares da cidade. Também foi enviado à escola alvo do ataque, equipes de apoio da Pasta municipal de Educação, que receberam os alunos, pais e funcionários.

Niilismo

De acordo com o professor de filosofia na rede municipal de Porto Alegre e doutor em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com tese sobre neofascismo, Renato Levin Borges, a falta de horizonte, de sentido e o isolamento social são alguns do “vetores” que levam a ataques às escolas. . 

“O que me parece estar por trás desses ataques às escolas são muitos vetores como isolamento, falta de horizonte, possibilidade e sentindo de vida (na filosofia chamaríamos de problema do niilismo) e, a partir desse contexto, há captura da angústia e solidão dos jovens para atentados que, ao cabo, bem ou mal, fazem algum ‘sentido’ mesmo que como vingança contra a sociedade e os outros que são construídos em seus imaginários como culpados diretamente por seu sofrimento e que mudam dependendo do caso. Alguns acabam culpando as mulheres como os "incels", outros, as minorias de gênero, raça ou etnia como os neofascistas e neonazistas. O atentado mais uma vez nos alerta para a produção de um tecido social adoecido, que torna um jovem que não se sente parte ou isolado, abandonado, a ponto de encontrar no extremismo uma resposta para dar conta da sua dor e da falta ou vácuo de sentido”, disse Borges.

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