O entregador Juan William Penteado Carvalho faz com uma das mãos o gesto de afirmação de identidade (Gustavo Tílio)
Um entregador de 24 anos foi alvo de injúria racial praticada por um cliente, um homem de cerca de 50 anos, quarta-feira (8), em Artur Nogueira. Juan William Penteado Carvalho foi chamado de chimpanzé, além de outras palavras pejorativas. O ataque ao jovem ocorreu por áudio, que foi enviado por engano ao celular do restaurante onde trabalha a vítima, depois de um pedido de marmitex. O caso foi registrado na Delegacia da cidade e já está sob investigação.
De acordo com o dono do restaurante, Alan José da Silva, o cliente costuma pedir marmitex todas as quarta-feiras e, nesta semana, não foi diferente. Ele enviou mensagem realizando o pedido, mas, pouco tempo depois, passou a mensagem ofendendo o entregador e cancelando a encomenda.
As ofensas raciais a Carvalho seriam em razão de a vítima não cumprimentar e também não permitir que o cliente olhasse o visor da máquina de débito, após passar o cartão. O áudio foi supostamente enviado a um amigo, mas que, por engano, acabou sendo enviado ao número do celular do restaurante.
“Quando ouvi o áudio, não pensei duas vezes para denunciar. Falei que ia ser resolvido na delegacia e que isso não ia ficar impune. Imediatamente após escutar, mostrei para o Juan. Ele ficou muito mal, triste, porque as palavras são muito fortes, né? A agressão, do jeito que ele fala, não existe”, lamentou.
Após ter percebido que havia enviado o áudio para o restaurante, o cliente ligou e pediu desculpas. Ele também cancelou o pedido.
A mensagem foi a seguinte: “Cara, vou fazer um comentário racista, porque eu odeio esse cara. Tinha que ser preto. Preto fdp.. Então, peço marmita, geralmente de quarta-feira, porque tem torresmo e feijoadinha, né (…). quando vem um entregador preto, com cara de bandido, com nariz parecendo um chimpanzé, aquele lazarento num fala um bom dia, ele pega, digita um código lá, o valor e quer pegar meu cartão para passar na máquina por aproximação (..)”. “Eu acredito que ele me odeia por eu ser branco, alemão e velho, mas o ódio é de ambas as partes”, falou o cliente em áudio.
Carvalho trabalha há três anos como entregador no restaurante e segundo Silva, o funcionário nunca deu problema e tão pouco foi discriminado por outros clientes.
Além do jovem, o restaurante tem outro entregador. As entregas das encomendas são revezadas entre os dois funcionários. Carvalho faz entrega esporádica ao cliente. “Na hora que ouvi o áudio, fiquei muito abalado. Sempre trato os clientes bem. Nunca fui maltratado. Não sei porque ele fez isso e sente isso por mim. Ele ligou para pedir desculpas, mas eu não estava no restaurante. Eu não sei se eu o desculparia. As palavras dele me machucaram muito”, revelou o jovem, que contou para a família e recebeu apoio dos parentes e do patrão. “Não vou retirar a denúncia. Ele tem que responder pelo que fez”, completou.
De acordo com o delegado Lúcio Antônio Petrocelli, todos serão ouvidos: a vítima, testemunhas e o cliente. O processo, após finalizado, será encaminhado ao Fórum, que vai analisar a possibilidade da denúncia. “Foi instaurado inquérito policial para apurar a prática de injúria racial tipificada no artigo 140, parágrafo 3 do Código Penal. Posteriormente, ele será encaminhado ao Fórum, onde a instituição apenas vai avaliar a ação penal para o crime de injúria, que imputa a ofensa à honra objetiva de uma pessoa determinada”, esclareceu o delegado.
O advogado do entregador, Alceu Jorge Vieira, pedirá na Justiça uma indenização por danos morais contra o acusado.
Ouça o áudio:
