Duas lojistas, uma delas de 78 anos, afugentam ladrões

Duas lojistas na região central de Campinas se revoltaram e conseguiram afugentar dois bandidos na semana passada. Embora essa reação não seja recomendada pelas autoridades de segurança pública, pelo menos uma das vítimas afirmou que faria tudo de novo para proteger seu "ganha pão" e manter seu estabelecimento em funcionamento. As lojas estão localizadas dentro de um quadrilátero formado pelas avenidas Francisco Glicério, Moraes Salles, Irmã Serafim e Benjamim Constant. Os criminosos, que aparentam ser moradores em situação de rua, simulam estar armados para cometer os assaltos, exigindo dinheiro e celulares. Um deles até se mostra educado ao anunciar o assalto. Em uma das ações, os comerciantes conseguiram deter um dos assaltantes, recuperar o dinheiro da vítima e liberá-lo, pois sabem que os bandidos são frequentemente presos e soltos pela Justiça.

Indignada com os ladrões e com o desejo de alertar os comerciantes e moradores, uma das vítimas, uma senhora de 78 anos, fez questão de capturar o rosto dos criminosos em um vídeo, imprimi-lo em papel e distribuí-lo em estabelecimentos e postes.

Os assaltos ocorreram em plena luz do dia, durante o período da tarde, quando há movimento nas lojas. Um deles aconteceu a apenas 80 metros da base da Polícia Militar (PM), em uma loja de roupas na Rua Conceição.

Nesse caso, a lojista estava atendendo uma cliente quando a dupla apareceu na porta do estabelecimento e anunciou o roubo. Um deles fingiu estar armado, mas quando a vítima percebeu que eles estavam desarmados, gritou por socorro e conseguiu afugentá-los do local. Os bandidos fugiram em direções opostas. Um comerciante próximo tentou perseguir um deles, mas não conseguiu alcançá-lo, segundo testemunhas.

"Nos últimos três semanas, estão ocorrendo muitos assaltos nessa região, e parece serem as mesmas pessoas. Temos um grupo no WhatsApp formado por comerciantes da Rua Conceição, onde um avisa o outro sobre qualquer movimento suspeito", relatou uma comerciante, cujo nome foi preservado.

No outro caso, a proprietária de uma loja de livros usados, na Rua Ferreira Penteado, de 78 anos, e sua funcionária reagiram e partiram para cima dos criminosos "armadas" com tesouras do local. O assalto ocorreu por volta das 16h, quando elas estavam sozinhas e a dupla chegou pedindo água. A ação foi registrada pelas câmeras de segurança instaladas na loja após um assalto ocorrido oito meses antes.

Como se trata de uma loja de objetos antigos, livros e discos, que não movimenta muito dinheiro no caixa, um dos bandidos simulou estar armado e exigiu dinheiro e celulares das vítimas. "Eu não nego alimento nem água a ninguém. Eles pediram água, e eu dei uma garrafa. Beberam um pouco e continuaram na loja, na frente do balcão. Desconfiei da atitude e me levantei. Foi quando um deles disse: 'sinto muito, mas quero celular e dinheiro'. Ele tentou entrar atrás do balcão, mas eu disse que não permitiria e que entregaria o dinheiro. Ele insistiu", relatou a lojista, uma advogada aposentada.

A funcionária que estava no balcão pegou uma tesoura e partiu para cima do bandido na tentativa de defender a lojista idosa. "Fiquei revoltada. Não suporto pessoas que roubam. Alguns crimes são cometidos por um erro momentâneo de alguém, que se arrepende e não volta a fazê-lo. Mas um ladrão é alguém que causa medo, angústia e constrangimento, mesmo sem agredir. Eu nunca dou dinheiro para mendigos, porque sei que vão usar para comprar drogas", desabafou a idosa.

Após se armarem, as vítimas correram atrás dos ladrões, que fugiram em direções opostas pela rua. Um comerciante vizinho ouviu os gritos das vítimas e perseguiu um dos suspeitos, conseguindo recuperar o dinheiro da vítima. Ele o liberou. "A população de rua está aumentando muito no Centro. Não tenho nada contra moradores em situação de rua, pois a maioria é de pessoas boas que acabaram nas ruas por algum motivo. Mas os criminosos se infiltram entre eles com más intenções", desabafou.

Essa não foi a primeira vez que a idosa foi vítima de roubo. Oito meses atrás, ela também conseguiu fazer um bandido fugir ao simular estar armada. Na época, seu estabelecimento não possuía câmeras de segurança, mas após o incidente, ela instalou um sistema de monitoramento para garantir a segurança do local. Foi por meio das imagens do sistema que ela capturou imagens dos suspeitos, imprimiu cerca de 30 fotos e as espalhou pelas ruas e comércios. "Eu não aceito que uma pessoa trabalhe para ganhar dinheiro, independentemente do valor, e o entregue a um bandido. E não vou fechar minha loja por causa deles", declarou a lojista.

COMBATE

Em comunicado, o 8º Batalhão de Policiamento Militar do Interior (BPMI) informou que realiza policiamento preventivo de forma contínua com o objetivo de combater o crime e proteger a população que mora e circula na região central. O comando ressaltou que, na madrugada do dia 7, policiais militares prenderam dois homens suspeitos de cometer crimes na região central, inclusive um roubo que haviam acabado de cometer. A dupla estava em uma motocicleta.

"Esclarecemos também que são realizadas operações constantes com policiamento ostensivo e preventivo, aumentando a percepção de segurança do cidadão", acrescentou o comunicado, destacando também que operações conjuntas com a Guarda Municipal (GM) também são realizadas.

O Batalhão ainda destacou que, entre abril e junho deste ano, foram realizadas 7.269 abordagens a pessoas, efetuadas 67 prisões em flagrante, apreendidas quatro armas de fogo e nove simulacros de arma de fogo, capturados 13 foragidos da Justiça e realizadas 129 operações.