Denúncias envolvem quiosque do McDonald’s no shopping e uma padaria no Jardim São Rafael
Funcionário do McDonald’s teria se recusado a vender sorvetes para duas crianças negras, de 6 e 9 anos (Reprodução)
Uma empresária de 27 anos busca explicação e justiça para um possível insulto de injúria racial cometido por um atendente de um quiosque da rede McDonald’s contra seus dois filhos, uma menina de 9 anos e um menino de 6, na noite do último domingo em Campinas. Segundo Pamella Francine de Amorim Nascimento, o funcionário teria se recusado a vender sorvetes para as crianças, alegando que o doce tinha acabado. Porém, logo depois, ele teria atendido outros clientes. A denúncia de Pâmela não foi a única nesse dia, em Campinas. Pela manhã, na região do Taquaral, dois funcionários de uma padaria sofreram injúria racial por um cliente que, ao chegar ao loca, disse que estava não estava em “um dia bom e não queria ser atendido por pretos”.
O ataque contra as crianças teria ocorrido na unidade da rede do McDonald’s no Campinas Shopping, no Jardim do Lago. As vítimas tinha saído de casa para um passeio na companhia da avó materna, uma cozinheira de 49 anos. No final do evento, por volta das 19h40, a cozinheira decidiu levar os netos para tomar sorvete no quiosque do McDonald's.
“Toda vez que vamos ao shopping, compramos sorvetes no MacDonald's. Nesse dia, foi a mesma coisa. Quando minha mãe foi comprar, o atendente falou que o sorvete tinha acabado e o expediente tinha encerrado. Minha mãe levou as crianças ao Bob´s, que fica em frente ao quiosque. Enquanto ela comprava sorvetes, minha filha olhou em direção ao quiosque e viu que o rapaz vendia sorvete para outros clientes. Ela cutucou minha mãe e disse: ‘será que ele não quis vender sorvete para nós porque sou preta?’”, relatou a empresária, mãe das crianças.
Segundo Pamella, a cozinheira voltou ao quiosque e perguntou ao atendente o motivo de ele se recusar a vender sorvete para as crianças. Como ele não respondeu, ela pediu para que chamasse a gerente da rede. “Primeiro, minha mãe perguntou se ele não tinha vendido sorvete porque meus filhos eram negros. Como ele não respondeu, ela pediu para que ele explicasse para meus filhos que o sorvete tinha acabado, mas ele não falou nada. Minha filha sofre ataque racista desde os 6 anos e tive que mudá-la de escola duas vezes. Ela é madura e sabe o que é discriminação e racismo. Ela já sente na pele esses ataques. Ela é uma criança, imagina como está cabeça dela?”, disse Pamella, frisando que a filha se recusou a ir à escola nesta segunda-feira, temendo os comentários dos colegas.
“Minha filha está abalada. É um absurdo o que ocorreu. Nunca passou pela minha cabeça que o agressor seria um funcionário de um estabelecimento como esse”, acrescentou.
De acordo com Pamella, a gerente da unidade chegou a oferecer um dia de refeição, com direito a lanche e sorvetes para a família, alegando que teria ocorrido um mal-entendido.
A atitude do atendente causou revolta em Pamella e no marido, que moram em Sumaré. “Minha mãe me ligou chorando. Minha filha chorava. Eu e meu marido fomos mais do que depressa ao shopping, mas quando chegamos, já estava fechado. Perdemos a cabeça e meu marido começou a chutar a porta, pois queríamos explicações. Só quem sente (o ataque racista) na pele, sabe como é. Ainda mais com os filhos. Muita gente me criticou pelas postagens, mas foi a reação de qualquer pai que vê o filho sofrendo com esse tipo de ataque”, falou.
Pamella usou as redes sociais para denunciar o ataque. Ela fez vídeos de desabafo e postou em seu Instagram. Uma das postagens recebeu mais de 11 mil curtidas e 531 comentários, entre apoios e críticas. Também foi registrado um boletim de ocorrência no 2º Distrito Policial (DP) de Campinas.
Outro lado
Em nota, o McDonald’s informou que a “empresa reforça que repudia toda e qualquer forma de preconceito e que tem um compromisso inegociável com a promoção de um ambiente respeitoso e inclusivo em todos os seus restaurantes, realizando um trabalho contínuo como o Comitê de Diversidade e Inclusão, treinamentos e políticas que conscientizam os funcionários sobre o respeito às individualidades de colegas e clientes” e que está apurando o caso relatado pela cliente e sua família".
O Campinas Shopping também informou “que repudia todo e qualquer ato de racismo, preconceito e discriminação”. “O shopping está acompanhando o caso junto ao lojista e aos clientes e seus familiares para que tudo seja esclarecido”, informou em nota.
Padaria
Também no domingo pela manhã, dois funcionários de uma padaria localizada na Avenida Nossa Senhora de Fátima, no Jardim São Rafael, em Campinas, foram alvos de injúria racial. Uma das vítimas tem 17 anos. O ataque teria sido feito por um cliente, descrito como baixo, loiro e de olhos claros.
O agressor teria chegado no balcão do estabelecimento e informado que não estava de bom humor e não queria ser "atendido por pretos". Os dizeres do homem causaram revolta em outros clientes que ligaram para a Polícia Militar (PM), mas quando a equipe chegou no local, ele já tinha ido embora. Câmeras de segurança da padaria registraram as placas do veículo do agressor. O caso foi registrado no 4º DP.