O mais recente ocorreu na segunda-feira, envolvendo um policial federal aposentado e um porteiro
A analista de RH, Aline Nascimento de Paula, foi atacada em um shopping (Diogo Zacarias)
Dois casos de injúria racial, com prisões, foram registrados em Campinas em menos de uma semana e, os dois envolvem trabalhadores que realizam atendimento ao público. O último se deu na segunda-feira, quando um policial federal aposentado, de 49 anos, foi preso por agressão, desacato e injúria racial, no bairro Botafogo, em Campinas. A sequência de crimes aconteceu quando o agente foi até a portaria do prédio onde ele mora e avistou o porteiro trabalhando. Além de agredir a vítima com palavras e dar socos no balcão, ele xingou o porteiro de “preto safado”.
Uma moradora viu o ataque racial e foi defender a vítima, mas acabou atacada também. Ela sofreu fratura no dedo mindinho direito e foi chamada de “gorda”. O policial também desacatou os policiais militares que foram chamados para controlá-lo.
A injúria racial contra o porteiro foi por volta das 22h. O policial teria chegado no prédio embriagado e causando tumulto na recepção. O porteiro pediu, então, para que ele fosse para seu apartamento se recolher. Ele subiu, mas pouco tempo depois voltou e passou a ofender e ameaçar o porteiro, de 54 anos.
Entre as ameaças, o policial teria dito que “já tinha matado muito branco, mas ainda não tinha matado negros o suficiente e que essa raça não prestava”, entre os xingamentos, chamou a vítima de “pau de fumo preto”.
A moradora, uma administradora de empresa, de 53 anos, tentou defender o porteiro e também foi agredida verbalmente. O acusado chegou a virar uma câmara de segurança da recepção para que as agressões não fossem registradas, deixando o local em direção à rua. Entretanto, ao voltar, foi impedido pelo porteiro que preferiu que a mulher do agressor o acompanhasse. Mas o policial se irritou e tentou arrombar o portão. Momento em que a moradora sofreu a lesão no dedo.
A PM foi acionada e deteve o acusado, que apresentava sinais de embriaguez e foi algemado. Após ser preso, ele foi levado para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do bairro Carlos Lourenço, onde permaneceu escoltado.
Recepcionista
Na semana passada, um idoso de 87 anos foi preso em flagrante por injúria racial ao chamar uma recepcionista de uma clínica médica, em Campinas, de “negrinha nojenta”. O crime aconteceu na quinta-feira passada, quando o aposentado buscou atendimento para a realização de um exame. Ele estava sem máscara facial e a vítima pediu para que ele a colocasse, por se tratar de uma exigência em unidades de saúde.
O idoso não gostou e xingou a funcionária. Além dela, o aposentado também ofendeu uma cliente que estava no local. Todos os envolvidos foram levados para o 1° Distrito Policial (DP). Ele pagou fiança de R$ 900 e vai responder em liberdade por injúria racial.
Em andamento
Em junho deste ano, o motoboy Juan William Penteado Carvalho, de 24 anos, morador de Artur Nogueira, foi alvo de injúria racial praticada por um cliente do restaurante onde ele trabalha como entregador.
Após pedir uma marmita, o cliente enviou um áudio a um conhecido relatando o pedido e xingando o entregador de “macaco” e o comparando a um criminoso.
O áudio foi enviado por engano ao celular do restaurante e ouvido pelo proprietário, que ficou revoltado com a atitude do homem, repassando a mensagem ao funcionário.
Dois meses antes, a analista em Recursos Humanos, Aline Cristina Nascimento de Paula, de 28 anos, viu a sua vida se transformar depois de ser atacada com palavras racistas por uma mulher em um playground de um shopping de Campinas. A jovem acompanhava a filha de um amigo em um brinquedo quando a mulher se recusou a ficar no mesmo ambiente que ela e passou a dizer palavras que até hoje a vítima não esquece.
Em ambos os casos, as vítimas representaram contra os agressores. No caso de Carvalho, a primeira audiência foi marcada para fevereiro. No caso de Aline, também foi agendado, mas ela não soube informar a data.