Distritos elegem plantas e flores para reduzir a tensão

O delegado José Carlos Fernandes da Silva decidiu implantar uma minibiblioteca e fazer um jardim no 4º Distrito Policial (DP) de Campinas para mudar o cenário frio e distante que paira no local. E as mudanças não vão parar por aí. Fernandes também planeja sonorizar o ambiente com música e informações de utilidade pública para receber que vai à unidade para registrar ocorrência.

As mudanças começaram há aproximadamente quatro meses, com a instalação de uma minibiblioteca, revisteiro e TV na sala de espera para o atendimento. Depois, o plantio de três mil mudas de petúnias e tagetes. Para esse projeto de paisagismo, o delegado contou com apoio do Departamento de Parques e Jardins (DPJ) da Prefeitura Municipal de Campinas, que doou as espécies, e do Poder Judiciário, que cedeu a mão de obra, mediante convênio, para fazer a manutenção do jardim. O serviço é realizado por prestadores de serviço à comunidade.

“O jardim não tem o objetivo apenas de decorar o prédio, mas de fazer um contraponto com a tensão do ambiente policial. Cientificamente está comprovado que as plantas trazem boas energias e renovam o ambiente e o policial, inevitavelmente, costuma ser tenso, porque as pessoas procuram a delegacia quando estão com problemas e buscam ajuda”, explicou Fernandes.

O plantio foi feito na primeira quinzena de setembro e a escolha das duas espécies se deve ao fato de que plantas escolhidas se adaptam bem em jardins. Ambas têm um tempo de vida de cerca de um ano.

Segundo o delegado, o projeto não dependeu de qualquer recurso do Estado.

Desde que a florada surgiu, segundo os policiais plantonistas, o jardim virou atração turística, porque as flores chamam a atenção dos frequentadores do Parque Portugal, que durante passeio ou caminhada, param em frente ao jardim para tirar fotos, atitude esta muito pouco comum anteriormente à iniciativa.

“As pessoas elogiam, fazem fotos. É muito bacana. O jardim trouxe vida para a delegacia, humanizou mais o ambiente. Geralmente, quem vem aqui está buscando auxílio e, quando olha para essas plantas, parece que fica mais leve”, opina a agente Michele Silva, que fez questão de fotografar o passo a passo da formação do espaço.

“A biblioteca também ajuda as vítimas que esperam por atendimento. Alguns começam a ler e até levam o livro para continuar em casa. Outros, trazem títulos para doar. Então, está sendo muito bacana”, acrescentou.

De acordo com Fernandes, o projeto contou com a adesão dos policiais da delegacia, que deram ideias e participaram dos trabalhos. “Eu adoro flores. Confesso que este jardim me causou um grande impacto. Estava muito tenso por causa de uma situação violenta que passei, mas, ao ver as flores, parei para apreciá-las e parece que deu uma aliviada no meus estado de tensão”, contou um homem que estava na delegacia para registrar um boletim de ocorrência de roubo. Ele preferiu não se identificar.

Segundo o delegado, o próximo passo será o de sonorização do ambiente, Entretanto, ainda não há data definida para isso, porque ele ainda busca parcerias para concretizar esse propósito. “Existem estudos científicos que comprovam que a musicoterapia libera hormônios que propiciam a sensação de bem-estar e bom humor, facilitando a comunicação entre as pessoas, algo muito tão necessário no mundo de hoje, especialmente no ambiente policial, onde existe uma tensão muito grande”, disse.

Horta e planta aromática

Do outro lado da cidade, no 8º Distrito Policial, na Vila Padre Anchieta, a agente policial Elaine Cunha, que trabalha na linha de frente do atendimento ao público, decidiu transformar dois espaços da delegacia em plantações. Em um, na parte da frente da unidade, ela plantou alecrim, lavanda, babosa, erva-cidreira, erva-doce, roseiras e até uma jabuticabeira. Nos fundos, ela compôs uma horta, com alface, couve, cebolinha, cheiro-verde e mandioca, que são usados nas refeições dos funcionários.

Nesse caso, tanto a iniciativa quanto os custos dela contaram com recursos da própria funcionária, que viu na atividade uma forma de se desestressar. “Amo mexer com a terra”, explicou.

Cor e flores alegram

Para a professora da PUC-Campinas e doutora em psicologia, Maria de Fátima Franco dos Santos, a cor da parede, de preferência verde claro, e plantas são importantes para amenizar a tensão presente nas delegacias. Segundo ela, a cor verde clara proporciona relaxamento e as flores que exalam odores agradáveis deixam o ambiente com aspecto mais colorido e mais bonito. “O ambiente de delegacias é mais tenso, mais sombrio, quando não basta muito triste para algumas pessoas que vão para noticiar ou para fazer denúncia ou porque são chamadas após um crime horrível que ela perdeu alguém. Iniciativas como estas são realmente louváveis e deveriam ser a tônica de todos os lugares em que o público é atendido”, disse Maria de Fátima. “Não importa se é um hospital ou uma delegacia de polícia ou qualquer outra repartição pública, elas devem sempre procurar proporcionar um ambiente mais agradável e mais acolhedor para as pessoas”, finalizou