Adolescente de 14 anos passava os dias trancafiada numa ‘casa bomba’, onde vivia num ‘inferno’
Casal que mantinha adolescente em cárcere privado é conduzido à delegacia após ser preso em flagrante (Divulgação)
Policiais da 1ª Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Campinas libertaram na tarde de quarta-feira (23) uma adolescente de 14 anos que estava sendo mantida em cárcere privado por sua mãe e padrasto em sua residência no bairro Vila Palmeiras II, na região do Campo Belo. Durante a operação, foram descobertas e confiscadas 5.231 porções de substâncias ilícitas, incluindo crack, cocaína e maconha, na residência que também funcionava como local de armazenamento de drogas, popularmente conhecida como "casa bomba". Tanto a mulher de 37 anos quanto o companheiro foram presos em flagrante e conduzidos à delegacia, onde passariam por audiência de custódia no final da manhã de quinta-feira (24). O Conselho Tutelar foi acionado para providenciar assistência à adolescente, e o caso foi encaminhado à Vara da Infância e Juventude.
O objetivo do casal era restringir o contato da adolescente com pessoas de fora, visando ocultar suas atividades ilícitas. Apesar das alegações da mãe negando tanto o tráfico quanto o confinamento, os delegados Antônio Dota Júnior e Luiz Fernando Dias de Oliveira, titular e assistente, confirmaram a situação. A revelação desse caso aconteceu depois que informações chegaram à delegacia especializada por meio de denúncias anônimas. A jovem, originária da Bahia, havia se mudado para Campinas um ano atrás para viver com a mãe, que enfrentava problemas relacionados ao uso de drogas. Com sua interação limitada a um indivíduo associado a um terreiro, que ela frequentava, a adolescente mal tinha contato com o mundo exterior além das paredes de sua casa. Nem mesmo o Conselho Tutelar estava ciente da difícil situação pela qual a garota estava passando.
De acordo com Oliveira, o delegado assistente responsável pelo resgate da adolescente, a vítima relatou informalmente que sofria assédio sexual por parte do parceiro de sua mãe, sendo ainda forçada a realizar tarefas domésticas. Em ocasiões mais perturbadoras, ela era coagida pelo padrasto a auxiliar no empacotamento de drogas. Havia momentos em que ela era impedida de sair de casa. O delegado acrescentou que a casa tinha espaços segregados para cozinhar, onde a jovem era responsável por sua própria alimentação, enquanto a mãe cuidava da dela. Isso resultava na adolescente de 14 anos, em grande parte, cuidando de si mesma. Os investigadores também relataram que a adolescente testemunhou, em diversas ocasiões, relações sexuais entre sua mãe e o padrasto, além de observar uma movimentação suspeita de pessoas na residência.
Na residência, foram descobertos, juntamente com as substâncias ilícitas, cadernos contendo registros financeiros relacionados ao tráfico de drogas, uma balança de precisão, um soco inglês, uma faca e um dispositivo de pagamento por débito/crédito. Oliveira explicou que todas essas evidências indicam claramente que o casal não apenas mantinha a menor em confinamento, mas também a sujeitava a uma situação extremamente humilhante e degradante. A jovem era obrigada a testemunhar diretamente a prática ilegal de armazenamento de drogas no local. "Desde que passou a residir com a mãe, a vida dela tem sido marcada por essas situações constrangedoras", enfatizou.
Os delegados explicaram que, devido à idade da vítima, as regulamentações estabelecidas em 2017 proíbem que ela preste depoimento em locais que não sejam específicos para isso. Por esse motivo, o inquérito também será encaminhado à 2ª Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), que é responsável pela região onde a adolescente reside.
"Embora o termo 'cárcere' possa sugerir que a vítima estava fisicamente restrita à casa, essa não era a realidade. Houve algumas ocasionais saídas, mas isso não ameniza a natureza do crime de cárcere privado. O contexto ali é agravado pela sua menoridade e por ser filha de um dos envolvidos, no caso, a mãe. Isso intensifica a gravidade do cárcere privado, pois uma criança ou adolescente que sofre esse tipo de abuso carrega consigo traumas profundos", reforçou o delegado assistente.
INDAIATUBA
Na noite de quarta-feira (23), a Polícia Militar (PM) descobriu uma casa bomba, em Indaiatuba, depois de receber uma denúncia de violência doméstica. O caso aconteceu no Jardim Oliveira Camargo, nos fundos de um comércio que não tinha relação com o crime. No local foram apreendidos cerca de 14 kg de cocaína. A suspeita é de que o denunciante queria indicar o local onde as substâncias eram armazenadas sem chamar atenção. Além de armazenar a droga, no imóvel funcionava também como refinaria. Foram encontradas também 200 gramas de maconha e mais de seis mil frascos cheios. Havia ainda aparelhos como balanças, peneiras e insumos para mistura das drogas. Ninguém foi encontrado no local.