Em um dos aplicativos da Emdec, o número de reclamações chegou a triplicar no ano passado
A mais recente vítima de importunação sexual dentro do transporte coletivo registrou B.O. na DDM (Alessandro Torres)
O número de denúncias de assédio sexual contra mulheres no transporte público coletivo de Campinas mais do que dobrou no ano passado, conforme registrado nos canais do portal da Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec). Especificamente no dispositivo "Denúncia de Assédio", as reclamações triplicaram em 2023 em comparação com 2022, passando de duas para seis. Nos canais "Fale Conosco Web" e no telefone 118, houve um aumento de aproximadamente 115% no último ano, pulando de oito em 2022 para 17 em 2023. O único dispositivo que ainda não registrou denúncias foi o "Bela" (Botão de Emergência na Luta contra o Assédio), um mecanismo que opera em tempo real, acionando a Central de Operações da Guarda Municipal (GM) para abordar situações nos ônibus.
Apesar de esses canais estarem disponíveis há mais de dois anos e terem sido divulgados, muitos usuários ainda não têm conhecimento dos dispositivos que podem auxiliar na prevenção do crime, identificação e detenção dos agressores. Isso ficou evidente no caso recente de uma assistente administrativa de 26 anos que trabalha no Hospital Municipal Doutor Mário Gatti. Na última quarta-feira, ela foi vítima de importunação sexual dentro de um ônibus da linha 130, que percorre o Corredor Central à Vida Nova. O agressor foi expulso pelos passageiros por desconhecimento dos meios de denúncia, incluindo a própria vítima.
O agressor, aproximadamente com 50 anos, se envolveu em atos obscenos, chegando até a ejacular nas vestes da vítima. O crime ocorreu no sentido bairro, enquanto a jovem retornava do trabalho para casa. A passageira acabara de entrar no ônibus junto com o agressor, que estava no mesmo ponto de parada. Curiosamente, minutos antes, ele havia ajudado a vítima a se levantar após uma queda na calçada.
Assim que adentrou no ônibus, um veículo articulado e semiexpresso, a vítima posicionou-se de pé entre dois assentos e o espaço destinado a cadeirantes. O agressor a seguiu, permanecendo atrás dela. Durante parte do trajeto, a jovem notou um líquido quente escorrendo por uma de suas pernas. Ao passar a mão sobre a calça jeans para verificar se era suor, deparou-se com uma substância molhada que se assemelhava a esperma. Ao olhar para trás, o homem justificou rapidamente que precisava descer. O caso ocorreu na Avenida Amoreiras, entre o hospital e a agência dos Correios. Desconhecendo os canais de denúncia da Emdec, a vítima relatou: "Gritei e chorei, e ele me olhou com ar de deboche. Outras mulheres também gritaram ao testemunharem minha situação. Um passageiro pediu ao motorista que parasse para que o agressor descesse."
Surpreendentemente, nem a Polícia Militar (PM) nem a Guarda Municipal (GM) foram acionadas pelos passageiros ou pelo motorista. Apesar do ônibus estar lotado, prosseguiu sua rota. A jovem desceu na garagem da empresa, próxima ao Hospital Ouro Verde, onde foi acolhida por um fiscal que a orientou a registrar a ocorrência pessoalmente na 2ª Delegacia de Defesa da Mulher (DDM). "Para conseguir dormir, precisei tomar remédios, e só de mencionar o caso, começo a ter crises de ansiedade", comentou a vítima, que se sente suja em decorrência do ocorrido.
O agressor foi descrito como branco, alto, magro, calvo, trajando camiseta polo, calça social cinza, sapatênis e portando uma bolsa preta.
Embora os ônibus estejam equipados com câmeras de monitoramento, a jovem não conseguiu obter as imagens do incidente. Segundo a Emdec, a gestão das câmeras de segurança dos ônibus é de responsabilidade das empresas operadoras do transporte público coletivo, e as imagens são disponibilizadas mediante solicitação das autoridades policiais para investigação dos fatos relatados.
Por sua vez, o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros da Região Metropolitana de Campinas (SetCamp) informou que a concessionária abriu uma sindicância interna para apurar os acontecimentos, dispondo-se "à disposição das autoridades policiais para colaborar no que fosse necessário".
BELA
Segundo a Emdec, o "Botão Bela" foi amplamente divulgado à população por meio de diversos canais desde o seu lançamento. Foram realizadas campanhas específicas, incluindo faixas informativas nos terminais e a distribuição de folders aos usuários, contendo um guia passo a passo para a utilização dessa ferramenta. Além disso, cartazes foram fornecidos às empresas operadoras do transporte público, destinados à fixação nos ônibus, e milhares de folhetos informativos foram entregues aos usuários nos principais terminais. A empresa também destacou que a Guarda Municipal está promovendo a divulgação do "Bela" durante as reuniões do programa Guarda Amigo da Mulher (Gama).
Para utilizar o "Bela", é necessário realizar um cadastro antecipado, único, informando nome, telefone e data de nascimento. Ao ser acionado, o "Bela" exibe as linhas de ônibus em operação na região. A vítima ou testemunha deve selecionar a linha na qual ocorreu o incidente e enviar o alerta, que chega à Central de Operações da Guarda, permitindo a abordagem imediata do ônibus.
No caso das denúncias feitas pelos canais convencionais, a Emdec responde diretamente e encaminha os relatos às respectivas concessionárias ou permissionárias do transporte público. Esse procedimento visa reforçar as orientações aos condutores sobre as formas de assistência às vítimas. Quando as informações fornecidas são suficientes para identificar operadores e linhas, a Emdec adota um protocolo de notificação aos operadores, solicitando que compareçam para esclarecimentos. Dependendo dos fatos apurados, são aplicadas medidas administrativas. No entanto, as vítimas são orientadas a registrar boletim de ocorrência e, no ato, solicitar a representação da denúncia.
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