Para Maria Helena, mulheres ampliam a sua participação gradativamente nas forças de segurança
A chefe das delegacias de Defesa da Mulher (DDM) do interior do Estado, Maria Helena Taranto Joia (Rodrigo Zanotto)
A mulher ainda é minoria nas forças de segurança pública e há muitos desafios a serem encarados e superados por essas agentes, que têm servido de inspiração para diversas produções cinematográficas onde o sexo feminino é a protagonista da 'história', como a série francesa Candice Renoir e a famosa Law & Order SVU, que tem à frente a personagem Olivia Benson, ambas exibidas na TV por assinatura.
O último levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública apontou que apenas 18,87% dos agentes de segurança são mulheres. "É muito desproporcional, mas está melhorando gradativamente", defendeu a delegada e coordenadora das delegacias de Defesa da Mulher (DDM) do Departamento de Polícia Judiciária do Estado de São Paulo 2 (Deinter-2), em Campinas, Maria Helena Taranto Joia, a primeira mulher na região a assumir este posto no interior. No Brasil, as forças de segurança são formadas pelas polícias Militar, Civil, Federal, Rodoviária, Exército, Marinha, Aeronáutica, além da Guarda Municipal, por exemplo.
Seja como policial de campo ou de comando, as policiais têm como maior desafio na carreira derrubar alguns tabus impostos pela sociedade, sendo o maior deles o machismo estrutural. "Enquanto policial, penso que não queremos uma superação e mostrar que a mulher é melhor do que o homem. Acredito na igualdade e que somos realmente iguais. Que a policial feminina e o policial masculino podem se complementar e que a coragem é aquela que vem do coração. Isso faz toda diferença da mulher na segurança pública", destacou Maria Helena.
Na visão da sociedade, para ser policial tem que ser aquele cara bravo, durão e com força física para encarar todas as ocorrências e com isso, a mulher, vista como o sexo frágil, estaria fora de cogitação para exercer a função, mas a cada ano elas vêm demonstrando que não é bem assim que funciona e que a diferença biológica está longe de ser barreira. "Antes achavam que para exercer a função de policial era preciso de força física. Mas quem disse que para atender uma ocorrência precisa de força? É preciso de técnica, estratégia e sabedoria. A mulher pode trabalhar sim como policial e ter como parceiro de trabalho um homem", disse Maria Helena. "Enquanto policial, penso que não queremos uma superação e mostrar que a mulher é melhor do que o homem. Acredito na igualdade e que somos realmente iguais. Que a policial feminina e a masculina podem se complementar e que a coragem é aquela que vem do coração. Isso faz toda diferença da mulher na segurança pública", enfatizou.
Maria Helena está na polícia há 30 anos e começou sua carreira como delegada, cobrindo plantões na capital e após oito anos foi transferida para plantões em Campinas. Em 2011 passou a trabalha na 1ª DDM da cidade onde ficou até 2021.
Sua inspiração para a função de delegada veio do marido, o delegado Luis Henrique Apocalypse Jóia. "Na minha família não há policiais, mas era casada com um policial. Eu via as ações dele e me inspirava. Optei por fazer direito e cheguei na faculdade dizendo que seria delegada de polícia, pois entendia que era uma carreira muito dinâmica e poderia ajudar outras pessoas", disse.
Na coordenação, Maria Helena está incumbida de elaborar e desenvolver projetos voltados para as DDM´s, tanto para vítimas e famílias como também para os funcionários de 38 cidades que integram o Deinter 2. No total, são 13 especializadas distribuídas na área de abrangência, além das delegacias comuns das cidades que não contam com este tipo de unidade. "Quando comecei em uma delegacia da mulher, muitas das vezes me frustrei. Me frustrei porque não existia uma rede de atendimento bem desenhada e não dava para ajudar as mulheres. Faltava entrosamento na rede. Mas ainda bem que mudou muito. Há diferentes movimentos, a atuação de Ong´s e do Poder Público que implantou serviços de qualidade e consegue ajudar a vítima", frisou.
"É uma satisfação e uma honra muito grande ocupar este cargo. Enquanto mulher, delegada e coordenadora, não penso em sexo. Sou uma profissional e tem muitos homens que prestam atendimentos muito acolhedor a mulher. Na minha carreira procuro não perder o foco e sempre penso no usuário final. Ser delegada não é uma questão de vaidade. Aliás, não estou aqui por vaidade e sim satisfação em saber que eu faço a diferença, ajudando", comentou. "Para a mulher que pretende ser policial, eu digo para seguir em frente. Acredito que a gente vai chegar na paridade. Costumo colecionar frases e uma dela é: 'nós podemos ter um rosto só. Podemos desejar o real e o sonho de mãos dadas, pois unidas somos muito fortes", disse.
Aceitação
A permissão para o ingresso da mulher na Polícia Civil, como delegada, aconteceu em 1948. A primeira mulher a assumir o posto de delegada no Estado de São Paulo é Ivanete Oliveira Velosso, que completará 85 anos no dia 29 de junho. Ivanete foi professora primária e se tornou investigadora da Polícia Civil em 1964. Ela exerceu por 11 anos a função e decidiu investir na carreira de delegada. "Era muito perigoso para uma mulher estar sempre na rua, na delegacia é mais tranquilo e, além disso, adoro fazer os inquéritos policiais", disse ela em entrevista ao Portal do Governo, em julho de 2007.
Ela tornou-se bacharel em direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e prestou o concurso para delegado duas vezes. Na primeira tentativa estava no final da gravidez do primeiro filho e esperou por oito horas para fazer o exame porque acharam na época que havia vazado o gabarito, segundo declarou ao Portal. As dificuldades não a impediram de realizar seu desejo em 1974 e tomou posse em 75, junto a outros 21 delegados.