ENIGMAS SEM SOLUÇÃO

Crimes intrigantes desafiam as investigações da Polícia Civil

O que teria ocorrido com os dois jovens do Parque Oziel, que permanecem desaparecidos até hoje?

Alenita Ramirez [email protected]
15/04/2024 às 09:04.
Atualizado em 15/04/2024 às 09:04
Moradores da comunidade do Parque Oziel cobram das autoridades policiais uma resposta para o desaparecimento de Eduardo e Railson (Alessandro Torres)

Moradores da comunidade do Parque Oziel cobram das autoridades policiais uma resposta para o desaparecimento de Eduardo e Railson (Alessandro Torres)

Dois jovens, uma moto e um trajeto pela região do distrito do Ouro Verde compõem o cenário intrigante que envolve o desaparecimento de Eduardo Alves, 19 anos, e Railson da Silva Teixeira, 17 anos, na noite sinistra de 5 de setembro de 2023. A única pista tangível até agora é uma foto capturada por um radar de multa, mostrando os dois na moto. Este caso está entre os cerca de 3% dos registros de desaparecimento que culminam em homicídio, sem a descoberta dos corpos.

O inquérito, conduzido pela Delegacia de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP) de Campinas, possui um prazo de 20 anos para não prescrever, mas as investigações estão em curso. O delegado titular da DHPP, Rui Pegolo, expressa que há muitas incógnitas a serem desvendadas. A principal delas é se os jovens foram assassinados, o que parece ser a conclusão mais provável, considerando a ausência de seus corpos.

A motivação por trás do crime e a identidade dos responsáveis permanecem obscuros. As autoridades sabem apenas que os jovens foram alertados para evitar uma determinada área da cidade. Quem emitiu esse alerta? Essas são questões cruciais que aguardam respostas. Depoimentos de testemunhas oculares ou detentoras de provas podem ser fundamentais para resolver esse mistério. Contudo, é importante ressaltar que informações baseadas em boatos não serão úteis neste caso.

Os garotos, apesar de serem descritos como bons filhos pelas mães e queridos pelos amigos, estavam, segundo as investigações da Polícia Civil, imersos em uma "vida louca". Conforme apurado, eles tinham o hábito de cometer delitos, incluindo roubos de motocicletas, especialmente na região em que residiam, o Parque Oziel.

Embora a mãe de Railson tenha afirmado que seu filho não estava envolvido em atividades criminosas, admitiu que em duas ocasiões ele trouxe para casa motos suspeitas. Na primeira, alegou que a motocicleta havia sido adquirida em um leilão. Na segunda, afirmou que não havia sido obtida de forma ilícita, mas ao verificar a placa através de um aplicativo no celular, descobriu que havia sido reportada como roubada. "Ele disse que era de um amigo, mas quando percebi que era roubada, pedi para que ele se livrasse da moto, caso contrário, eu chamaria a polícia. Isso ocorreu duas semanas antes do desaparecimento deles", relembrou Eliene. "Fiz o máximo que pude. Ensinamos a ele a importância da honestidade, do trabalho e da conquista legítima, mas acredito que ele interpretou errado", acrescentou.

Desde o desaparecimento de seu filho, Eliane relata noites mal dormidas. Mantém a esperança de encontrá-lo vivo, enquanto seu corpo não for encontrado. A última vez que os colegas viram Railson foi em frente à sua residência, após o término das aulas. Naquela noite, ele estava com um grupo de amigos quando Eduardo chegou com a motocicleta de sua mãe e o convidou para um passeio. Um passeio sem retorno.

De acordo com os registros do sistema de monitoramento de tráfego de Campinas, os jovens dirigiram-se à área do Distrito do Ouro Verde. Em um único ponto, excederam o limite de velocidade e foram fotografados pelo radar, com Railson na garupa. Entretanto, a moto e os dois jovens desapareceram durante o percurso.

Independentemente das rotas que escolheram, cabe à polícia desvendar o mistério por trás do desaparecimento. As autoridades suspeitam que os amigos tenham sido mortos, possivelmente executados por membros do crime organizado ou alguma associação criminosa descontente com suas atividades em determinada área. No entanto, a mãe de Railson descarta essa possibilidade. Residindo em uma comunidade, ela afirma conhecer as regras locais, sugerindo que o desaparecimento pode estar relacionado a ações arbitrárias de um braço da Polícia Militar.

No submundo do crime, aqueles que violam as leis internas são submetidos a um "tribunal paralelo". Inicialmente, são alertados a se precaver e respeitar as normas estabelecidas. Persistindo no erro, são capturados e entregues aos membros da organização. Antes de uma sentença ser proferida, os pais são chamados para ajudar a determinar o desfecho. "Se fosse uma organização criminosa, teríamos sido informados, o que não aconteceu. Certa vez, um policial nos disse que eles já estavam mortos e que não deveríamos procurá-los. No entanto, enquanto o corpo do meu filho não for encontrado, ainda mantenho a esperança de que esteja vivo", declarou Eliane.

O delegado Pegolo destaca que há casos em que os criminosos ocultam os corpos para dificultar as investigações. No entanto, a ausência do corpo não é um obstáculo para as investigações. "Em Campinas, há diversos casos de condenações e identificações de homicídios mesmo na ausência do corpo. A falta de um corpo não impede a investigação, pois pode ser suprida por outras evidências, como testemunhos ou vídeos encontrados em dispositivos dos suspeitos", explicou o delegado.

TRIBUNAL

No início deste mês, funcionários de uma fazenda na região do Jardim Esplanada, no distrito do Ouro Verde, enquanto realizavam medições de uma área, fizeram uma descoberta chocante. Enquanto um dos trabalhadores fincava uma estaca para marcar uma barreira, percebeu que atingiu algo sólido. Ao remover a terra do buraco, deparou-se com um corpo em avançado estado de decomposição. As inúmeras tatuagens de caveira na pele remanescente sugerem que a vítima possa ter sido envolvida em atividades ligadas à execução de agentes de segurança pública, conforme aponta a polícia.

Até o momento, a identidade do homem permanece desconhecida. Ele estava vestido com uma camiseta estampada com a imagem de uma criança, além de bermuda e tênis de marca. O corpo estava enterrado no local por aproximadamente um mês, sendo descoberto apenas devido às atividades de medição na área rural. O achado, por si só, é um fato isolado e extremamente intrigante.

O local do achado já entrou para as estatísticas dos policiais da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que agora buscam identificar a vítima por meio de exames de datiloscopia, utilizando a luva cadavérica. Uma das linhas de investigação sugere que a vítima possa ter sido alvo do chamado "tribunal do crime".

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