GUARDIÕES DA SEGURANÇA

Correio acompanha treino do Baep com cães e tiros de fuzil

A convite da corporação, fomos até Sousas ver como policiais se preparam para enfrentar o crime

Alenita Ramirez/ [email protected]
03/02/2023 às 08:37.
Atualizado em 04/02/2023 às 11:05
Policiais do 1º Batalhão de Ações Especiais da Polícia Militar (Baep) treinam mira com seus fuzis 556 (Rodrigo Zanotto)

Policiais do 1º Batalhão de Ações Especiais da Polícia Militar (Baep) treinam mira com seus fuzis 556 (Rodrigo Zanotto)

O combinado era chegar às 8h em ponto, mas a correria cotidiana característica da atividade jornalística provocou um pequeno atraso de alguns minutos da nossa equipe de reportagem na manhã de quinta-feira (2). O local do encontro era a sede do 1º Batalhão de Ações Especiais da Polícia Militar (Baep), no bairro Ponte Preta, localizada a 200 metros da sede do Correio Popular. Sem tempo para pedir desculpas ao capitão pelo atraso, seguimos em comboio rumo ao distrito de Sousas, eu, o repórter fotográfico Rodrigo Zanotto e uma equipe da TV Thathi. O nosso compromisso na manhã de quinta-feira era o de acompanhar de perto como a corporação faz a aferição de seu armamento. Mas para a nossa surpresa, também pudemos testemunhar o treinamento de padronização dos cães do canil do batalhão. Assim, seguimos o comboio das viaturas policiais rumo a Sousas. Tudo indicava que seria um dia emocionante e bastante interessante.

Logo, chegamos ao nosso destino. O local do treino fica a poucos metros da Rodovia Dom Pedro, numa pedreira desativada. Dois portões fechados separam o estande de tiro da estrada de terra que dá acesso ao local. O espaço foi cedido por um proprietário rural ao Baep para treinamentos de tiros de fuzil. O exercício com esse tipo de armamento exige um local isolado e protegido por paredões altos, que evitem que a munição ultrapasse os limites do estande e abafem o barulho produzido pelos disparos. O cenário é cinematográfico. Logo na entrada, um muro de alvenaria de pelo menos três metros de altura se parece mais com um grande portal. Atrás dele, surge o imenso paredão de pedra. Estacionamos o carro do jornal próximo à área coberta para abrigar os atiradores, numa espécie de barracão.

A equipe do canil se posicionou logo atrás do portal. O cenário era perfeito para treinar policiais caninos e humanos. Enquanto os atiradores de elite designados para o treino preparavam os fuzis 556, equipados com mira holográfica com red dot (aquele ponto vermelho que identifica o alvo, muito comum nos filmes policiais e nas séries da Netflix), o capitão Alexandre Antunes Ribeiro nos conduziu até o local onde os cães seriam adestrados. O caminho de um ponto ao outro foi percorrido em 100 metros, aproximadamente. Durante o pequeno trajeto, o capitão chamou a nossa atenção: "Cuidado com as minas". Bem humorado, o policial brincava com a nossa equipe referindo-se ao cocô de vacas e bois espalhados pelo trajeto.

Ao chegarmos ao local de treinamento dos cães, o capitão nos alertou sobre o comportamento de cada soldado canino. O cão mais jovem, chamado Mike, tem apenas nove meses e o mais velho, cinco anos. Cada um tem a sua personalidade. Uns são agressivos, ariscos e valentes. Outros, dóceis. As viaturas que transportam os cães são equipadas com umidificador, permitindo assim que os vidros fiquem fechados sem a necessidade de ar-condicionado, evitando, com isso, que os valentes fiquem com o nariz ressecado. "Agora, os cachorros não ficam mais com a cabeça para fora da janela", disse o cabo Paulo Rogério Matias, que comandou o treinamento dos cães

O treino começou com um aquecimento físico. O tutor dos cachorros na verdade é chamado de "condutor". Isso mesmo, durante o aquecimento, o condutor corre com seu cachorro nos braços. O exercício é para inserir o animal ao ambiente. Mike, o caçula da tropa, tirou risadas dos jornalistas com as suas molecagens, forçando o seu condutor a se desdobrar para segurá-lo nos braços. Por sua vez, Conan, de três anos e meio, se impôs com seus latidos. Uma das atividades mais bacanas foi a encenação de abordagem. Nela, um policial se fantasiou com uma vestimenta apropriada para suportar mordidas fortes e fingiu ser um criminoso. Imagina a cena?

"A nossa missão hoje é a padronização de nossos cães em situação de crise e de alto risco. Essa padronização acontece em todo o estado. O mesmo cão que opera aqui, ele opera, por exemplo, em Taubaté, em Santos. Ou seja, tem as mesmas capacidades", explicou o cabo Paulo Rogério Matias, do Canil do Baep. "Trata-se de uma padronização de capacitação, na qual cada operador treina o seu cão e com essa padronização todos os cães do estado terão habilidades mínimas para agir em ação. Mesmo sendo treinados por policiais diferentes", frisou o capitão. O adestramento dos cães no mesmo dia de exercício de tiros de fuzil foi proposital. O objetivo, segundo os policiais, era fazer os animais se acostumarem com o barulho dos disparos.

Enquanto a equipe do canil seguia com o treinamento, voltamos para o estande de tiros. O sargento Fábio Jerônimo Curso da Silva Passos liderava a aferição e instalação das miras, afinal, ele é o primeiro, se não o único, atirador designado e não sniper da corporação. Ele fez curso de atirador pela PM e de caçador com o Exército. Qual a diferença entre os dois cursos? O primeiro é mais voltado para ações em ambiente urbano e tem a função de neutralizar o inimigo e dar proteção aos policiais. O segundo, é para abater o inimigo.

Para acompanhar o treinamento, tivemos que colocar fones de ouvido e óculos especiais, afinal, o estampido de um fuzil chega a ser ensurdecedor. A cada tiro levávamos um susto. O trabalho de aferição foi nos fuzis 556 e cada arma exigia, no mínimo, cinco disparos até que fossem devidamente calibradas. Aprendemos até a olhar na mira e localizar o pontinho vermelho, que identifica o alvo a uma distância de até 800 metros. Numa situação de guerra, essa arma possui um poder letal. Felizmente, não é o caso de Campinas. 

De acordo com o sargento Passos, a aferição foi feita a uma distância de 50 metros, o que corresponde a uma calibragem de até 200 metros. O aparelho de mira fica acoplado ao fuzil para uso emergencial, ocorrências raras em Campinas.

Assim, terminou o nosso dia no estande de treinamento do Baep em Sousas. Com essa reportagem especial, mostramos o cotidiano de nosso policiais, sejam eles militares, civis, federais ou guardas municipais, todos passam por treinamentos constantes, como esse que acompanhamos com a nossa equipe de reportagem.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por