NA MIRA DA POLÍCIA

Casal de influenciadores é acusado de divulgar jogo ilegal de azar

Dupla cearense que mora em Indaiatuba pode ser indiciada por estelionato e lavagem de dinheiro

Eduardo Reis
25/01/2024 às 09:28.
Atualizado em 25/01/2024 às 09:28
Veículos de luxo utilizados pelo casal de influencers, apreendidos durante a ação dos policiais em Indaiatuba (DEIC Campinas)

Veículos de luxo utilizados pelo casal de influencers, apreendidos durante a ação dos policiais em Indaiatuba (DEIC Campinas)

A Polícia Civil de Campinas investiga um casal de Indaiatuba suspeito de envolvimento em estelionato e lavagem de dinheiro. Segundo as apurações, os indivíduos, reconhecidos como influenciadores digitais, utilizam sua influência nas redes sociais, onde acumulam mais de três milhões de seguidores, para persuadir pessoas a participarem de apostas em jogos de azar sediados em plataformas internacionais. Estima-se que o esquema tenha movimentado cerca de R$ 14 milhões em um curto espaço de tempo, sendo que o jogo central é o "Fortune Tiger", popularmente conhecido como "Jogo do Tigrinho". 

Ismael Belchior e Jade Belchior foram alvos de uma operação na última terça-feira (23), com agentes do Setor Especializado de Combate aos Crimes de Corrupção, Crime Organizado e Lavagem de Dinheiro da 1ª Delegacia de Investigações Gerais (DIG), cumprindo cinco mandados de busca e apreensão em sua residência em Indaiatuba. A apreensão resultou em diversos itens, como aparelhos celulares, veículos de luxo, dispositivos eletrônicos e documentos. Além disso, a Justiça determinou a suspensão das contas do casal nas redes sociais, embora até o momento desta reportagem, os perfis continuassem ativos, promovendo os jogos. 

Nas redes sociais, o casal exibia uma vida luxuosa, repleta de viagens internacionais, mansões e carros de alto valor, atribuindo esse estilo de vida aos ganhos provenientes dos aplicativos. Os jogos de azar são proibidos no Brasil pelo Decreto-Lei 9.215 de 1946, assinado pelo então presidente Eurico Gaspar Dutra, sob o argumento de que o jogo é degradante para o ser humano. Diante do eventual bloqueio de uma dessas plataformas, os influenciadores prontamente direcionavam seus seguidores para outra alternativa.

O casal é originário do Estado do Ceará e estabeleceu residência em Indaiatuba há algum tempo. O que chamou a atenção dos policiais foi a notável ostentação de uma vida de luxo pela dupla, evidenciando um enriquecimento rápido incompatível com o padrão de vida que mantinham na Região Nordeste do país. As investigações apontam que os R$ 14 milhões movimentados por Ismael e Jade, identificados pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), não condizem com as declarações prestadas à Receita Federal por ambos. Há suspeitas de que tenham realizado a lavagem de dinheiro proveniente da plataforma de jogos.

O delegado Luiz Fernando Oliveira, da Divisão Especializada de Investigações Criminais (Deic) de Campinas, encarregado das investigações, explica: "De maneira consistente, temos monitorado as redes sociais de influenciadores na região e, ao iniciar nossa observação, notamos que eles promoviam ativamente os jogos. A questão agora é determinar se o enriquecimento ocorreu apenas por meio da publicidade ou se, de fato, eles estão diretamente envolvidos na criação das plataformas", esclarece.

Segundo o delegado Oliveira, o próximo estágio da apuração envolve rastrear o modus operandi dos suspeitos e identificar outros possíveis envolvidos. "Não podemos descartar a possibilidade de que haja outros influenciadores na região praticando a mesma conduta. Identificamos até mesmo que a irmã de Ismael já começara a divulgar as plataformas. Continuaremos monitorando para identificar potenciais implicados", acrescenta o agente da lei.

Recentemente, a Polícia Civil do Estado do Paraná desarticulou uma rede de influenciadores que atuava em todo o Brasil e que mantinha contratos com o aplicativo "Jogo do Tigrinho", entre outras plataformas semelhantes. As investigações indicaram que esses influenciadores recebiam vultosos valores para promover os jogos, resultando em perdas substanciais aos apostadores, que sacrificavam seus bens, incluindo residências, veículos e até mesmo recursos destinados à subsistência, na esperança de obter um retorno que compensasse suas perdas.

Apesar de terem sido procurados pela reportagem do Correio Popular, tanto Jade quanto Ismael optaram por não se pronunciar a respeito das investigações, abstendo-se também de indicar qualquer representante legal. Caso sejam condenados por estelionato, os acusados podem enfrentar uma pena que varia de um a cinco anos de prisão. Quanto ao crime de lavagem de dinheiro, a condenação estipulada é de três a 10 anos de detenção, além de multa.

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