Aparelhos são enviados pelos Correios e também por ônibus para outros estados
Em duas apreensões mais recentes, os aparelhos celulares seriam enviados para estados do nordeste do país (Divulgação)
Policiais da Divisão Especializada de Investigações Criminais (Deic) de Campinas descobriram um esquema criminoso de envio de celulares roubados que passam obrigatoriamente por Campinas para serem comercializados em outros estados brasileiros. Em um dos casos, os aparelhos foram enviados pelos Correios. Em uma outra situação, registrada na tarde de anteontem, a encomenda seguia em um ônibus com destino ao Piauí. As apreensões, feitas por agentes da 1ª Delegacia de Investigações Gerais (DIG), aconteceram em um período de 16 meses. O Correio Popular mostrou, recentemente, que o número de furtos na região de abrangência das duas seccionais de Campinas aumentou em quase 65%.
Nos dois casos de apreensões por envio, os aparelhos foram roubados em Osasco, entre agosto e este mês, e furtados em Barretos em 2018, na tradicional Festa do Peão.
Campinas é apenas uma “rota” no esquema, porém, os policiais não descartam a possibilidade de que os aparelhos furtados ou roubados na cidade sejam também enviados a outros estados. “Acreditamos que a migração desses celulares para outros estados seja para dificultar a pesquisa e a identificação deles. Se um aparelho roubado é vendido por aqui, é fácil de localizá-lo”, justifica o chefe de investigação da DIG, Marcelo Hayashi.
Nas duas apreensões, os telefones seriam enviados para estados do nordeste do país. Na mais recente apreensão deste tipo de esquema criminoso aconteceu na tarde da última quinta-feira, quando os agentes encontraram 37 aparelhos e uma carcaça em uma caixa que estava sendo transportada por um ônibus comercial de transporte interestadual, que partiu de São Paulo. A fiscalização realizada, organizada com base em investigações de furtos e roubos de aparelhos na cidade, aconteceu no Jardim do Trevo.
Os aparelhos tinham como destino o Estado do Piauí. Em pesquisa realizada nos IMEIS dos telefones, os policiais constataram que, dos 37, dez deles eram produtos de roubo na cidade de Osasco - a maioria neste mês.
De acordo com Hayashi, os telefones apreendidos serão agora enviados à delegacia daquela cidade, para que sejam entregues aos seus respectivos donos. “Todos estavam formatados e há a possibilidade de os demais aparelhos também serem procedentes de crime. Contudo, será a delegacia de Osasco quem realizará esta investigação”, comentou o investigador.
O motorista do ônibus foi levado para a DIG, onde prestou depoimento, sendo liberado em seguida. Agora, os policiais aguardam um representante da empresa de ônibus para informar que era o responsável pelo despacho da caixa, que será indiciado pelo crime de receptação.
Segundo Hayashi, a primeira apreensão de celulares com envio para outro estado ocorreu em maio de 2021, quando os policiais da DIG foram acionados por funcionários de um Centro de Triagem dos Correios, em Campinas, para verificar duas caixas com diversos aparelhos telefônicos, que foram descobertas depois que o sistema detectou uma incompatibilidade de informação entre a declarada, que dizia ser de placas de computadores, e o raio-X, que acusou telefones celulares.
Nas duas caixas havia um total de 55 aparelhos, dentre os quais, diversos com queixas de furto na festa do Peão em Barretos de 2018. “Acreditamos que a modalidade de envio esteja sendo alterada de modo a burlar a fiscalização dos Correios, visto que o transporte por ônibus é mais fácil, pois é só colocar a caixa com as bagagens dos passageiros, e não há muito controle”, avaliou Hayashi. No caso em referência, as caixas partiram de uma agência dos Correios de Paulínia e tinham como destino o Estado da Bahia.
Crimes e combates
Apesar de a DIG desenvolver ações de combate a furtos e roubos de celulares em Campinas, os trabalhos se intensificaram após a constatação do aumento de quase 65% nos casos de furtos de celulares nas cidades que integram a 1ª e 2ª seccionais de Campinas.
Registros do Portal de Transparências da Secretaria de Segurança Pública (SSP) mostram que entre janeiro e julho deste ano foram registrados 3.141 casos de furtos, enquanto em 2021, em igual período, foram 1.904 queixas. Junho foi o mês que mais registrou furtos neste ano, com 859 casos.
Para Hayashi, a alta considerável de furtos neste mês pode estar relacionada aos grandes eventos que voltaram este ano, como a 22ª edição da Parada LGBTQIAP+, que foi realizada no dia 26 de junho (o evento não ocorria havia dois anos por conta da pandemia).
Para a polícia, os furtos e roubos podem ser resultantes dos altos preços dos celulares de última geração, aliados ao enorme consumo de aparelhos usados nos últimos anos, o que impulsionou o mercado paralelo.
No final de agosto, os policiais realizaram uma operação contra a receptação de celulares na região central da cidade. Na época, dois homens foram presos em flagrante e 9 aparelhos apreendidos. Eles confirmaram que os telefones eram produtos de crime.
Policiais da 1ª DIG investigam os furtos e roubos de celulares em residências, veículos e pedestres. A ação costuma acontecer nas proximidades dos comércios informais, região apontada, segundo Hayashi, como a que registra o último sinal dos celulares. Os receptadores e vendedores presos costumam atuar nas ruas, perto das bancas de camelô. Na época da ação, os presos confessaram que compravam os aparelhos por preços entre R$ 150 e R$ 200. Um dos celulares apreendido estava avaliado em R$ 3 mil.