Frequentadores enfrentaram momentos de pânico e terror após briga envolvendo policial armado
Balada sertaneja no Cambuí, onde uma briga na pista acabou com dois feridos a bala; casa alega que não pode impedir policial de entrar armado (Rodrigo Zanotto)
Uma briga com disparo de arma de fogo dentro de um bar lotado de clientes, localizado no bairro Cambuí, em Campinas, submeteu os seus frequentadores a momentos de pânico e terror, na madrugada de domingo. Uma moça, de 23 anos, e um rapaz, de 24 anos, foram atingidos por uma bala perdida, na perna, e foram socorridos para hospitais distintos, sem risco de morte. Até a manhã de segunda-feira (15), eles seguiam internados. Um dos envolvidos na briga é um policial penal, cuja arma foi apreendida para perícia. O motivo do tumulto não foi informado, mas algumas vítimas acusaram a casa noturna de ter agido de modo temerário e imprudente diante da possibilidade de uma tragédia maior, dificultando a saída de pessoas por temer que elas saíssem sem pagar a conta, o que fez lembrar o episódio da Boate Kiss.
Na noite do mesmo dia, em um bar na região do Jardim Londres, próximo à sede da 2ª Delegacia Seccional, uma briga generalizada causou tumulto e até agressão contra policiais. Ao menos oito viaturas da Polícia Militar (PM) foram ao local. Em ambas as ocorrências, ninguém foi preso e a Polícia Civil investiga os agressores. No caso que aconteceu no bairro Cambuí, a briga foi dentro do bar e restaurante São Nunca, por volta da 0h30 de domingo. Cerca de mil pessoas estavam no estabelecimento, segundo testemunhas. Três pessoas foram atingidas por um disparo. Duas delas, uma moça de 23 anos e um rapaz de 24 anos, tiveram perfuração nas pernas. A jovem foi atingida na coxa, perto do joelho e o projétil transfixou a perna da vítima, passando entre o joelho e a artéria, segundo a família. O rapaz também foi atingido na perna, porém a reportagem não teve acesso à família do jovem.
Uma terceira vítima, de 29 anos, amigo da moça, foi atingido na roupa, na região da cintura e por sorte não sofreu ferimentos no corpo. A munição perfurou a calça jeans dele, atravessou o tecido e atingiu a garota que estava ao lado dele, mas de frente para o atirador. "O disparo aconteceu quando nós cantávamos parabéns para a aniversariante. Ouvimos um barulho e achávamos que era serpentina. Mas, de repente, minha filha disse que tinha sido atingida na barriga e que não conseguia respirar. Olhei, mas não vi sangue nela. Quando a pegamos no colo para socorrê-la, vimos sangue na perna", contou a monitora de escola Poliana Bobsin, mãe da jovem. A garota estava com a família no camarote comemorando aniversário de uma amiga. Ao menos 25 pessoas faziam parte do grupo de amigos. Poliana e a filha estavam ao lado do jovem de 29 anos, na parte superior da pista. Na hora, havia apresentação de uma dupla sertaneja e mesmo com a briga e o tiro, o evento seguiu. De acordo com Poliana houve correria e pânico dentro da casa noturna.
"Não vi onde estava a outra vítima. Ouvi apenas que um rapaz tinha sido também atingido. Não vimos de onde veio o tiro. Estava tudo escuro e não acenderam as luzes. Só sei que na pista tinha um rapaz armado. Então um segurança desceu para contê-lo. O rapaz estava arranjando confusão e derrubou bebida no chão. Quando o segurança chegou para contê-lo, eles entraram em luta corporal e o segurança caiu", contou a monitora. "Só sei que fecharam as portas e não deixavam ninguém sair sem pagar a conta. Minha bolsa sumiu. Levaram minha filha para fora e eu e meu marido ficamos para pagar a conta. Um absurdo isso. Fiquei horrorizada. A conta foi mais importante que a vida da minha filha", indagou a mulher. "Me senti como aquelas pessoas que estavam na Boate Kiss, no Sul, que teve o incêndio", acrescentou.
As vítimas foram levadas para fora da casa noturna e atendidas, a princípio pelos bombeiros do estabelecimento. Depois foram levadas pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) para o Hospital Municipal Dr. Mário Gatti, no caso da jovem, e Casa de Saúde, o rapaz. À polícia, o policial penal, de 26 anos, disse que estava de saída quando "populares" pegaram a arma e fizeram um disparo. Ele teve uma lesão na mão, mas a polícia não confirmou se ela foi provocada pelo tiro. Dois rapazes foram detidos e levados para o plantão do 1º Distrito Policial (D), onde prestaram depoimentos e foram liberados, um deles, um metalúrgico de 28 anos, alegou que viu o amigo dele brigar com um rapaz armado, no qual ele aplicou um "mata-leão" para imobilizá-lo. O caso será investigado pelo 13º DP.
OUTRO LADO
Em nota, o São Nunca informou que lamenta pelo fato ocorrido em seu estabelecimento que envolve um "integrante do quadro de efetivo de agentes penitenciários do Estado de São Paulo". "Esta casa, em postura ética e responsável que sempre apresentou em suas atividades, têm contribuído com a Polícia Militar para esclarecimentos dos fatos, e prestado o apoio necessário a vítima e seus familiares, desejando que em breve tempo sua saúde esteja completamente restabelecida", enfatizou.
De acordo com representantes do estabelecimento, existe lei que permite a entrada de agentes de segurança pública em bares e restaurantes armados. "Baseada na Lei 10.826/2003 que estabelece em seu artigo 6º, § 1º-B, que bares e restaurantes não podem proibir a entrada de agentes de segurança pública armados nesses estabelecimentos, cabendo apenas fazer o procedimento de identificar o agente e sua arma. Assim foi feito, e todos os dados apresentados às autoridades. Permanece esta casa à disposição das investigações, da justiça e da sociedade, para bem prestar os esclarecimentos e contribuir para o perfeito cumprimento da lei", escreveu em nota.
Já a Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) informou que colabora com todas as investigações que estão sendo realizadas pelo Poder Público e que abriu procedimento apuratório preliminar em desfavor do servidor para apuração dos fatos. "Se comprovada alguma irregularidade ele poderá sofrer sanção administrativa, sem prejuízo do processo criminal", frisou.