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Apreensões de drogas em presídios explodem em Campinas

Incidência de flagrantes envolvendo reeducando resultou em ação conjunta para inibir o tráfico

Alenita Ramirez/ [email protected]
04/12/2022 às 10:09.
Atualizado em 04/12/2022 às 10:09
Reeducando que engoliu drogas e expeliu os entorpecentes foi levado para o IML e depois ao presídio (Gustavo Tilio)

Reeducando que engoliu drogas e expeliu os entorpecentes foi levado para o IML e depois ao presídio (Gustavo Tilio)

A incidência de casos envolvendo reeducandos flagrados com drogas no estômago no retorno ao Centro de Progressão Penitenciária (CPP) de Campinas levou policiais civis do 8º Distrito Policial (DP) e a direção da unidade a montar uma ação conjunta para coibir o tráfico de entorpecentes e agilizar e dar visibilidade aos trabalhos das corporações. Denominada “Operação Retorno”, o trabalho teve início em setembro.

Com a ação, os registros foram centralizados no DP. Anteriormente, as ocorrências envolvendo os presos nessa modalidade de tráfico eram apresentadas no plantão da 2ª Delegacia Seccional e depois encaminhadas à unidade que responde pelas investigações desses tipos de crimes. “A parceria surgiu depois de analisarmos o alto índice de apreensões de drogas que ocorria no retorno dos reeducandos. Quando os presos voltam ao presídio, passam pelo scanner e, quando identificado que os mesmos estão com entorpecentes ou algo semelhante, a Polícia Penal aciona o 8º DP. Isso acontece após o preso expelir ou não os entorpecentes ou objetos. Ele, então, é encaminhado ao hospital. Ficando ou não internado, enquanto a Polícia Civil toma as providências cabíveis. Em se tratando de apreensão de entorpecentes, é lavrado o auto de prisão em flagrante”, explicou o chefe de investigação, Maurício Oliveira.

Pela legislação, quando um reeducando é detido com droga, além de ele voltar para o regime fechado e ter a fixação de uma nova pena, a Polícia Civil abre um inquérito para apurar quem foi o fornecedor e qual era o destino do entorpecente. 

Se o consumo de substâncias psicoativas na sociedade brasileira é preocupante, torna-se ainda mais grave dentro das unidades prisionais. Dados do Departamento Penitenciário Nacional (Depen) mostram que o Brasil é o terceiro colocado no ranking das nações com maior população carcerária do mundo - 750.389 mil apenados em unidades prisionais e delegacias. O país somente é superado nesse quesito pelos Estados Unidos e China.

De acordo com ativistas, os entorpecentes estão presentes no sistema prisional como uma forma de os custodiados lidarem com as mazelas do encarceramento, por exemplo, superpopulação, condições de insalubridade, exposição à violência, falta de assistência à saúde e o rompimento dos laços familiares. Entretanto, especialistas em segurança pública defendem que o tráfico dentro dos presídios vai além disso, torna-se um meio lucrativo. 

Geralmente o tráfico está ligado, principalmente, a três fatores: dívida por parte de quem transporta, o chamado de “mula”; de vício, de quem levou ou vai receber o entorpecente; e lucro, já que um pino de cocaína, comercializado a R$ 10 nas ruas, chega a ser vendido dentro das prisões por até R$ 100. Um celular simples, de baixa qualidade, chega a R$ 7 mil. 

As drogas são entregues aos chegam aos custodiados das mais diversas maneiras e meios. Entre elas, durante as visitas de parentes, correspondências (camufladas em alimentos e objetos), arremesso por cima de muros, drones, e por meio do próprio preso, que ingere ou esconde em chinelos e roupas os entorpecentes.

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Dados da Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) mostram que, de janeiro a outubro deste ano, foram registrados 44 casos de reeducandos que engoliram entorpecentes para que eles entrassem na unidade. Esse é o terceiro maior número de registros nos últimos cinco anos. A liderança nas ocorrências aconteceu em 2019, quando 88 detentos tentaram burlar o sistema com drogas escondidas no estômago. 

Até dia 25 de novembro, em todo o complexo Campinas/Hortolândia, haviam 970 reeducandos do regime semiaberto trabalhando externamente. Pelas regras, quando eles retornam às unidades, devem passar por um rigoroso sistema de revista, a fim de se manter a segurança do complexo, que conta com dez scanners corporais. Entretanto, apesar do forte esquema de segurança nas unidades, alguns dos presos se arriscam a levar cocaína e maconha camufladas no estômago. 

No mês passado, um preso desmaiou enquanto estava no pavilhão, depois de retornar de trabalhos externos. Socorrido em estado grave no Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp, exames apontaram que havia 273 gramas de cocaína no estômago dele. A droga estava armazenada em invólucros envoltos por fita isolante preta, mas alguns deles estouraram e a cocaína se espalhou, levando o detento a sofrer uma overdose. Ao menos 38 invólucros se encontravam no organismo do homem, que chegou a ficar em coma, mas se recuperou dias depois e foi enviado a uma prisão de regime fechado.

“O tráfico de drogas nos presídios sempre aconteceu, mas desta forma (engolindo) aumentou muito. É uma modalidade que coloca em risco a própria vida do preso”, comentou o delegado Rodrigo Luiz Galazzo.

De acordo com o chefe de investigação, pelo menos um caso é registrado por dia. Além de engolir a droga, eles também escondem no reto ou no chinelo. Ainda conforme Oliveira, há duas maneiras para o preso expelir o entorpecente: por vômito ou evacuando. 

A reportagem apurou que nem todos os presos passam pela triagem do scanner. Geralmente, ela é realizada por amostragem. Na semana passada, um reeducando foi detido por policiais do 1º Batalhão de Ações Especiais (Baep), na região do Terminal Central de Campinas, com maconha e dinheiro. Ele usava uma tornozeleira eletrônica.

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