DEDO-DURO

Apps de trânsito são desafios para a Polícia Militar Rodoviária

Criminosos se beneficiam de informações referentes a radares de velocidade e presença de policiais

Alenita Ramirez/ [email protected]
11/06/2023 às 10:05.
Atualizado em 11/06/2023 às 10:05
Quando os agentes de segurança montam alguma operação de combate ao crime, logo a blitz é descoberta pelos criminosos por meio do Waze (Divulgação)

Quando os agentes de segurança montam alguma operação de combate ao crime, logo a blitz é descoberta pelos criminosos por meio do Waze (Divulgação)

Os aplicativos de trânsito são desafios para a Polícia Militar Rodoviária (PMR) da região de Campinas, pois são ferramentas que não só indicam o melhor caminho a seguir para os motoristas, mas também denunciam as operações policiais. Um dos mais criticados pelas forças de segurança pública é o Waze que teve seu pedido de exclusão feito pela polícia americana. “O aplicativo é excelente, mas o crime o usa em seu favor”, disse o tenente da PMR Jaelson Ferreira Nobre. 

O app é um dos mais usados no mundo por condutores de veículos, uma vez que traz informações em tempo real sobre o trânsito, acidentes, radares de velocidade e a presença de policiais. Esses dois últimos pontos que têm chamado a atenção das autoridades. 

Embora é uma ferramenta que ajuda o deslocamento dos motoristas, os criminosos a usam a seu favor para driblarem as forças da polícia. Devido ao uso distorcido ou mal intencionado por parte de usuários, há oito anos, policiais americanos chegaram a espalhar informações falsas como forma de confundir potenciais criminosos e promover maior segurança no trânsito. Na época, os agentes alegaram que o Waze contribuía para deixar as ruas menos seguras, pois ao conhecer a localização de radares, por exemplo, os motoristas estariam infringindo leis de trânsito, neste caso andando acima da velocidade e reduzindo apenas no exato momento de passar pela fiscalização.

“O (desenvolvedor do) aplicativo conseguiu uma brecha na lei para mantê-lo disponível, já que ele é considerado de utilidade pública, por fornecer informações de trânsito, como por exemplo acidente de trânsito. Mas ele precisa de um controle, ou seja, de uma lei de regulamentação”, frisou Nobre.

Quando os agentes de segurança montam alguma operação de combate ao crime, logo ela é descoberta pelos criminosos, em especial, pelos traficantes que fazem o transporte de drogas via terrestre. Como boa parte de maconha e cocaína sai de países como Paraguai e Bolívia via Paraná ou Mato Grosso até o maior mercado consumidor do Brasil, que está centralizado nas regiões de Campinas, da Capital e Baixada Santista, os traficantes usam as rodovias que cruzam a metrópole, a chamada rota caipira, para fazer a carga chegar ao destino.

De acordo com Nobre, o Waze não interfere nas operações em si da PMR, mas divulga para o usuário onde está a viatura. “Os traficantes usam os chamados ‘batedores’, comparsas que usam carros quentes para se deslocar na frente e passar informações para o restante do grupo. Então quando descobrem um bloqueio, o batedor segue para checar a informação e indicar a melhor rota para o criminoso que está transportando a droga escapar”, explicou Nobre. 

Levantamento da 3ª companhia (Cia) do 4º Batalhão da Polícia Militar Rodoviário (BPRv) que abrange o eixo das Rodovias Anhanguera e Bandeirantes mostra que entre janeiro a abril desta ano foi apreendido 1,268 quilo de drogas nestas pistas, enquanto nas estradas que pertencem ao 2º BPRv, na macrorregião de Bauru, entre 23 de maio e o último dia 6 de junho, foram apreendidos 25,9 toneladas de entorpecentes. O grande volume apreendido naquela região é justificado ao fato de que por lá, apesar de os criminosos usarem o Waze para identificar bloqueios da polícia, não há rotas de fugas como as que existem na macrorregião de Campinas. 

“Há menor incidência no interior porque é bem menor a possibilidade de desvio e mudança de rota e o fluxo de veículos também”, disse o tenente.

A maior apreensão registrada na região de Campinas, aconteceu no último dia 7, quando policiais rodoviários da 3ª Cia apreenderam 90 quilos de maconha escondidos no banco traseiro e porta-malas de um veículo VW/Gol, conduzido por um homem de 28 anos, que foi preso por tráfico. O suspeito apanhou a droga em Sumaré e levava para Jundiaí. Ele foi pego pelo tirocínio de uma equipe Tático Ostensivo Rodoviário que patrulhava a Rodovia dos Bandeirantes e ao chegar no entroncamento da Rodovia Adalberto Panzan, avistou o Gol, com a placa traseira caindo, segura apenas por um parafuso, e alta velocidade. Foi dada ordem de parada e o suspeitou passou a fugir, mas foi alcançado e detido. 

De acordo com Nobre, a droga é transportada tanto por caminhões, misturada a cargas ou em fundo falsos, como veículos de passeio e ônibus – neste último caso a incidência é maior em coletivos que partem da capital rumo aos estados do Norte e Nordeste do País. 

VOLUME DE CARROS

De acordo com o tenente, somado ao app, outro obstáculo encarado pelos agentes de segurança pública é o grande fluxo de veículos nas estradas que cruzam a região de Campinas. O volume intenso de carros de passeio e caminhões, dificulta a fiscalização e a abordagem de motoristas. 

Para ter ideia do volume de veículos que transita nas principais rodovias de Campinas, somente neste feriado de Corpus Christi as concessionárias que administram as rodovias do eixo Anhanguera/Bandeirantes, Dom Pedro I e Governador Doutor Adhemar Pereira de Barros esperavam 2,8 milhões veículos. 

“Temos constantes operações de combate ao crime nas rodovias e também de patrulhamentos. Conforme o tráfico se aperfeiçoa e busca novas estratégias para driblar a polícia, nós também usamos trabalhos de inteligência para combater o crime. Infelizmente a tecnologia é uma ferramenta que cada vez mais está sendo usada pela bandidagem para cometer delitos, embora ela ajude ”, enfatizou Nobre. 

Segundo o tenente, os traficantes que conseguem passar com drogas nas rodovias, geralmente as descarregam em locais isolados e em pontos estratégicos, como chácaras e barracões, e depois são distribuídas para seus destinos também se utilizando de veículos. “Temos aqui na região de Campinas operações integradas, com a Polícia Federal, a Receita Federal, a Polícia Rodoviária Federal e a Civil, para coibir o crime organizado, mesmo que essa droga entre nas cidades”, enfatizou o tenente, destacando o apoio do canil do Batalhão de Ações Especiais da Polícia Militar (Baep).

Mesmo com números baixos de apreensão, a corporação na região apreendeu durante todo o ano de 2022 786,678 quilos de drogas, uma média mensal de 65,556 quilos. Uma ocorrência de destaque no ano passado foi quando a polícia apreendeu 509 kg, um total de 495 tijolos distribuídos em 35 blocos de maconha, em um Toyota Corolla que era conduzido por um rapaz de 21 anos que tentou fugir de um bloqueio. O suspeito alegou que morava em Mato Grosso e havia pego no Paraguai rumo a São Paulo. Na fuga, ele capotou com o carro na Rodovia Anhanguera, em Americana, e depois tentou fugir a pé. A maior parte da droga apreendida nas rodovias é de maconha. 

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