ESPERANÇA PERDIDA

Amor brotado na internet vira pesadelo para a mãe e filhos

Polícia resgata mulher e crianças exploradas por um homem que ela conheceu em app de namoro

Alenita Ramirez/ [email protected]
18/03/2023 às 09:42.
Atualizado em 18/03/2023 às 09:42
Policiais da Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Americana com as duas crianças resgatadas (Divulgação)

Policiais da Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Americana com as duas crianças resgatadas (Divulgação)

Policiais da Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Americana resgataram uma mulher de 34 anos e seus dois filhos - um menino de oito anos e uma menina de cinco -, que estavam desaparecidos desde o final de janeiro deste ano. As vítimas foram localizadas em um hotel, na região central de Araraquara, após o cartão de crédito ser usado em uma loja. Elas estavam com um desempregado de 30 anos, que a mulher conheceu na internet. Segundo o delegado Lúcio Antônio Petrocelli, mãe e filhos eram obrigados a pedir dinheiro em semáforos, comércios e residências da cidade. O homem foi preso por violência doméstica, ameaça, lesão corporal, violência psicológica, constrangimento ilegal e submeter criança sob sua vigilância, a vexame ou a constrangimento. 

A mulher, segundo a mãe, tem deficiência intelectual - leve retardo mental - e o neto leve autismo e ambos frequentam a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae). Ela é ainda mãe de uma adolescente de 13 anos que tinha ficado com a avó. No dia 27 de janeiro deste ano, a mulher e as duas crianças saíram de casa, na Vila Dainese, com a desculpa de ir na rodoviária comprar créditos de passagem de ônibus e não voltaram. 

Como a mãe dela, uma funcionária da Apae, de 51 anos, não conseguiu contato com as vítimas registrou boletim de ocorrência no dia seguinte. Desde então, a DIG passou a investigar o caso. Na época, a mãe informou que a filha teria ido, provavelmente, ao encontro de um homem que residia em Bauru, a 232 km de Americana, com o qual estava conversando pela internet.

De acordo com Petrocelli, as vítimas ficaram dois meses sem comunicação com a família. O menino faz uso de remédios controlados. Ainda conforme o delegado, as equipes fizeram várias buscas em postos de saúde, escolas, pesquisas de telefones, mas sem sucesso. "O que nos ajudou foi um ofício enviado ao banco que verificou que o cartão dela tinha sido usado em uma loja em Araraquara", contou o delegado.

Com a ajuda da DIG de Araraquara, os policiais conseguiram localizar a mulher e as crianças. Segundo Petrocelli, o homem usava a mulher e as crianças para pedir dinheiro nas ruas. O objetivo dele era levar a família para Piratininga, onde ele mora. Ele é usuário de drogas e tem passagem criminal por porte ilegal de arma. 

Segundo o delegado, o homem prometeu uma "vida normal", com casa e conforto para a mulher e os dois filhos e também que iria trabalhar, mas não foi o que aconteceu. "Ela o conheceu pelo aplicativo Badoo, onde os dois estavam inscritos. Trocaram mensagens e ele veio para Americana conhecê-la. Tiveram um breve relacionamento e começaram a namorar. Ela tinha esperança de que o rapaz ia proporcionar algo para ela, mas se decepcionou", disse o delegado. 

O celular dela foi usado por ele para transformar em dinheiro. A única fonte de renda deles eram os R$ 800 que ela recebia de pensão de um dos filhos. "Em tese, o dinheiro não era o suficiente para manter os quatro. Então acabaram pedindo dinheiro em semáforos, casas e comércios. Eles usavam as crianças para sensibilizar as pessoas. E conseguiam, pois havia dia que ganhavam até R$ 100", disse Petrocelli. 

De acordo com o delegado, a mulher não foi sequestrada e nem mantida em cárcere privado, uma vez que ela própria admitiu ter liberdade para sair e até mesmo conversar com outras pessoas. "Ela tinha liberdade de chamar a polícia, se quisesse, mas ela gostava dele e disse que não pediu ajuda na recepção do hotel para falar com a família porque se sentia constrangida. Ela também tinha medo de ir embora porque ele dizia que iria atrás dela e das crianças", falou. 

A vítima relatou para os policiais civis que ele também fazia uso de bebida alcoólica e que em razão disso ficava transtornado e a agredia. Ela também dava tapas e empurrões nas crianças por causa de barulhos e brincadeiras.

O desempregado e as vítimas passaram por Limeira e Ribeirão Preto antes de serem localizados em Araraquara. "É muito triste, estou afastada do meu serviço. Passei com dois psiquiatras, estou tomando calmante. Meu marido sofreu AVC e teve complicações no quadro. Eu agradeço a Deus por não ter acontecido nada. Agora a gente está mais tranquilo. Peguei a guarda das crianças e vou levá-las para a escola. Mas a gente sofre muito com esse negócio de celular", disse a mãe da vítima e avó das crianças. 

Conselho Tutelar

O Conselho Tutelar de Americana acompanhava o caso e foi acionado para auxiliar na transferência da guarda das crianças, que vão ficar com os avós materno. A mulher prestou depoimento como vítima e foi liberada. As crianças passaram por exame no Instituto Médico Legal (IML) para apontar possíveis lesões, na manhã de sexta-feira (17). A menina tinha marcas de beliscões. 

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