EM MONTE MOR

Adolescente é detido após ataque terrorista contra escola

Ex-aluno jogou bombas caseiras por cima do muro, levando pânico a estudantes, professores e funcionários

Alenita Ramirez/ [email protected]
14/02/2023 às 08:54.
Atualizado em 14/02/2023 às 08:54
Bombeiro ajuda a isolar a área na entrada da escola atacada ontem na região central de Monte Mor: Guarda Municipal e as polícias Civil e Militar também foram acionadas (Rodrigo Zanotto)

Bombeiro ajuda a isolar a área na entrada da escola atacada ontem na região central de Monte Mor: Guarda Municipal e as polícias Civil e Militar também foram acionadas (Rodrigo Zanotto)

Um adolescente de 17 anos levou pânico a uma escola pública de Monte Mor na segunda-feira (13) de manhã ao praticar um ato terrorista. Da rua, ele jogou ao menos três bombas caseiras por cima do prédio da unidade escolar, que caíram na área externa dele e explodiram. Houve pânico e tumulto, mas ninguém ficou ferido. A Guarda Municipal (GM), as polícias Civil e Militar e o Corpo de Bombeiros foram acionados. 

O adolescente foi detido pela GM a três quadras da escola. Ele usava traje preto, uma braçadeira com uma suástica (símbolo do nazismo) em um dos braços e uma machadinha. Na casa dele, a polícia apreendeu uma réplica de fuzil, material sobre nazismo e um diário, no qual ele menciona a escola. O adolescente foi apreendido por atentado terrorista e será apresentado ao Ministério Público (MP) hoje.

O ataque aconteceu por volta das 8h40, quando os alunos estavam na sala de aula. O prédio é da Escola Estadual Professor Antonio Sproesser, onde funciona o ensino médio no período noturno, mas também abriga a Escola Municipal Vista Alegre, em dois períodos diurnos. A unidade fica no bairro Jd. Fortuna/Chácara Primavera, região central da cidade. Cerca de 350 alunos, de 6 a 9 anos, estavam na unidade. 

Imagens de câmeras de vigilância registraram o momento em que o adolescente se aproximou da escola e depois jogou as bombas. Ele usou o carro de uma tia para chegar até a unidade estudantil. Parou a cerca de dez metros da portaria da recepção e, depois, seguiu a pé, com uma mochila, onde estavam as bombas.

Duas delas caíram para dentro do portão e uma em um vaso de plantas na parte externa. “Cheguei na escola às 6h. O dia estava normal. Tudo corria bem, como sempre. Tinha acabado de entrar na cozinha para tomar café quando ouvi um estrondo. Achei que era brincadeira de algum aluno e segui tomando café, mas logo em seguida veio outro estrondo maior ainda. Então, houve correria e gritaria. As crianças foram levadas para o pátio, mas era assustador, porque teve outro estrondo”, contou a auxiliar de limpeza, Angelita Cardoso, de 46 anos. “Fiquei muito abalada. A gente não espera por isso, né? A gente acha que nossos filhos estarão seguros na escola, mas veja o que aconteceu! É muito triste essa situação”, emendou. 

Depois de controlar a situação, os estudantes foram dispensados pelo portão dos fundos da escola. As aulas dos dois períodos foram suspensas. De acordo com o inspetor da GM, Denival Santana, funcionários da unidade acionaram a GM e também saíram atrás do jovem, que foi alcançado por uma equipe da Guarda. “Ele não relutou e nem passou informações. Na corrida, ele jogou a machadinha”, contou o inspetor. 

Dentro do veículo foi encontrada uma bolsa de cor preta, um celular, um cartão do Santander sem nome, bandeira preta e branca com símbolo nazista. Também foi encontrado nas proximidades da escola, um revólver calibre .32, com cinco munições intactas e número de série raspado. Outras quatro bombas caseiras feitas com gasolina, adubo e cloro em garrafas pets e uma garrafa de plástico pequena com pregos foram apreendidas em frente ao portão da escola.

Na residência do adolescente, foram apreendidos um simulacro de fuzil modelo M4, um monitor e CPU, além de dois livros com título nazista (Mein Khampf, de Adolf Hitler) e um caderno. 

“A grade da escola estava fechada e isso ajudou a reduzir o risco dele ter causado um mal maior”, disse o secretário municipal de Segurança Pública, Anderson Palmieri. “A Prefeitura repudia veementemente o que aconteceu aqui e estamos dando todo o suporte para todas as escolas, a fim de que isso não ocorra mais”, acrescentou o secretário. 

Até os policiais militares do Batalhão de Ações Especiais (Baep) foram para o local. Ambulâncias também foram acionadas. 

A secretária municipal de Educação, Cultura e Turismo, Sandra Bruzon, disse que tão logo a Pasta foi informada sobre o ataque, equipes de apoio, com psicólogos e psicopedagogos, foram na unidade. “Os alunos e os funcionários ficaram muito abalados e precisaram de ajuda. As aulas foram suspensas e esperamos que amanhã (terça-feira) volte à normalidade”, disse ela. 

A Polícia Técnico-Científica foi acionada e periciou os objetos que estavam na casa do adolescente e em frente à escola. 

O advogado de defesa do jovem, Ricardo Luis Presta, informou que o jovem já estudou na escola em período anterior e teria dito que, na época, sofreu bullying. “Ele está completamente transtornado. Sua fala é desconexa, dizendo que queria se matar. Então, ele teria se inspirado no que a mídia mostra: que é uma pessoa que se veste como ele se vestiu, invade uma escola e aí vem a polícia, atira e o mata. Era o que ele esperava. Ele precisa de tratamento”, acredita Presta, frisando que o jovem faz acompanhamento psicológico. 

O avô do adolescente, cujo nome foi preservado, afirmou à reportagem que o garoto é bom, estudava em uma escola nas proximidades, mas vivia trancado no quarto, jogando.

Em um caderno usado como diário, apreendido pela polícia, havia símbolos nazistas com textos, nos quais ele se questionava pela forma que ele era. “Abandonado, sozinho, sem amigos, família. Pronto para morrer”, diz parte de um trecho. 

Em outro, mensurou: “Cansado de viver. Sinto-me com milhões de anos”. Em outro trecho ainda ele cita sobre a escola e faz trocadilhos na frase: “A tal Vista Alegre (que é o nome da escola) vai ficar com uma vista triste”.

Para a psicóloga Vanessa Rodrigues, especialista em situação de crise no ambiente escolar, as crises de violência nas unidades escolares vêm aumentando exponencialmente nos últimos anos e esse fato, segundo ela, deve-se ao preconceito e discriminação enfrentados pelos jovens e crianças, somados ao distanciamento entre as pessoas que se vive nos tempos modernos. 

“O distanciamento das pessoas é dramático. Com o tempo reduzido, elas substituem a convivência física pelas telas. A internet é uma rua com cinco bilhões de pessoas. Hoje, muitos pais não sabem com quem o filho conversa e isso é grave. Estamos com uma geração que busca isolamento voluntário”, acredita a especialista. 

“O Poder Público tem o dever e a obrigação de trabalhar com pautas de produção ao combate à violência, preconceito e discriminação. E essa campanha precisa ser diária, a longo prazo e envolver a sociedade, a família, o poder público e a escola”, acrescentou.

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