É O FIM DA PICADA

Adolescente de 14 anos mata comerciante durante assalto

Latrocida-mirim agiu na companhia de outro comparsa ainda mais jovem, uma criança de 13 anos

Alenita Ramirez/ [email protected]
29/07/2023 às 11:46.
Atualizado em 29/07/2023 às 11:46
Victor Hugo, jovem comerciante de 21 anos, morreu pelas mãos de um adolescente de apenas 14 anos (Divulgação)

Victor Hugo, jovem comerciante de 21 anos, morreu pelas mãos de um adolescente de apenas 14 anos (Divulgação)

Um crime chocante ocorreu na noite de quinta-feira (27) na Rodovia D. Pedro I (SP-065), em Campinas, onde um comerciante de 21 anos foi assassinado com um tiro nas costas durante um assalto. Victor Hugo Zarpelão da Silva pilotava uma moto Yamaha MT-03, tendo o cunhado de 14 anos na garupa, quando foi abordado por dois bandidos em uma moto Honda CB Twister, que anunciaram o roubo. Surpreendentemente, o atirador era um adolescente de apenas 14 anos, que fugiu com a moto e o capacete da vítima, mas acabou sendo apreendido pouco tempo depois na Vila Olímpia. Seu comparsa, uma criança de 13 anos, também foi apreendido.

Este crime tornou-se o quinto caso de latrocínio em Campinas neste ano, sendo o terceiro em menos de dois meses envolvendo motociclistas com veículos de alta cilindrada. Os números de crimes dessa natureza no primeiro semestre deste ano são duas vezes maiores em comparação com o mesmo período do ano passado, diferentemente do que a reportagem citou em matéria publicada na quarta-feira.

O fato ocorreu por volta das 23h, quando o jovem comerciante voltava para casa, em Jaguariúna, acompanhado do cunhado na garupa e de um amigo que seguia em outra motocicleta, à frente deles. Enquanto trafegavam na marginal da rodovia, próximo ao acesso para a Rodovia Miguel Noel Nascentes Burnier (SPA-135/065), a vítima foi abordada por dois bandidos em uma moto, que anunciaram o assalto. Embora não tenha sido informado como o crime aconteceu e se a vítima reagiu, o cunhado relatou à polícia que o garupa da moto apontou a arma e atirou contra Silva, acertando-lhe as costas, o que o fez cair.

O amigo das vítimas seguia à frente e, ao olhar no retrovisor, avistou o amigo parando sobre a faixa da pista, acreditando, inicialmente, que se tratava de uma pane mecânica na moto. Preocupado, retornou pelo acostamento, na contramão, para prestar auxílio. Ao se aproximar, deparou-se com a cena angustiante: o comerciante caído no chão e seu cunhado ao seu lado, chorando. Além disso, avistou os criminosos em outra moto, que os ameaçaram a sair do local. O garupa pegou o capacete e a moto da vítima, e a dupla fugiu no sentido Valinhos. O cunhado da vítima não sofreu ferimentos durante o ocorrido.

Foi o amigo do comerciante quem acionou o socorro. O resgate da concessionária e do Corpo de Bombeiros dirigiram-se ao local, mas a vítima não resistiu ao ferimento e morreu no local.

Os jovens são moradores de Jaguariúna, e a vítima era dono de um Food Truck. Ele era natural de Pedreira e havia comprado a moto há poucos dias. O corpo do jovem será enterrado em Pedreira, cidade natal da família.

Com as informações do crime e a descrição dos suspeitos, a Polícia Militar (PM) iniciou buscas pelos responsáveis. Devido às características dos criminosos, uma equipe da Força Tática do 8º Batalhão de Policiamento Militar do Interior (BPMI) saiu em patrulhamento na Vila Olímpia e localizou os suspeitos, que se tratavam de dois adolescentes já conhecidos no meio policial pela prática de roubos de motos e a pedestres na região de Campinas.

Na casa do atirador, os policiais encontraram um simulacro e o capacete da vítima, mas a arma usada no crime não foi localizada. Em uma casa na Vila Paula, onde mora um comparsa da dupla, os agentes também encontraram um simulacro. A moto da vítima e a utilizada no crime foram localizadas em uma área de mata, conhecida por ser esconderijo de veículos roubados. A Honda CB Twister estava com emplacamento de Americana e havia sido roubada recentemente em Sumaré.
"O PM deu uma pronta resposta. Tão logo as equipes tiveram conhecimento do crime, iniciaram as buscas. A PM é promotora e protetora dos direitos humanos. É nosso dever e missão proteger as pessoas e combater o crime", disse o comandante interino do 8º BPMI, major Carlos Guilherme Cardoso.

Nesta semana, um crime chocante abalou a região do Guarani, em Campinas, quando um dentista de 59 anos foi baleado por um bandido ao chegar em sua casa no Parque Nova Campinas. Os criminosos, que estavam em uma moto de pequeno porte, fugiram levando consigo as chaves, carteira e celular da vítima. O dentista teve o pulmão perfurado e ainda permanece internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Municipal Doutor Mário Gatti. O crime está sendo investigado no 10º Distrito Policial (DP), e a preocupação aumenta pelo fato de o ato criminoso ter sido cometido por menores de idade.

Também nesta semana, policiais civis da 1ª Delegacia de Investigações Gerais (DIG) prenderam três homens envolvidos no crime de latrocínio contra o estudante de administração de empresas, Edson Henrique Pereira, de 24 anos. O jovem foi baleado nas costas ao acelerar a moto durante uma abordagem no Jardim Morumbi, no distrito do Ouro Verde, no mês passado. Cinco pessoas estavam envolvidas nesse ato criminoso, e entre elas, dois eram menores de idade. Um dos envolvidos foi preso logo no começo das investigações, após ter sua moto identificada pelo sistema de monitoramento da Guarda Municipal (GM).

MAIORIDADE PENAL

O envolvimento de adolescentes cada vez mais jovens em crimes, como este latrocínio contra o comerciante de 21 anos, causa indignação, revolta e espanto. É alarmante destacar que dois deles eram menores de idade, o que levanta preocupações sobre a punição adequada para tais atos criminosos.

Para o especialista em segurança pública e coronel de reserva da Polícia Militar (PM), Marci Elber Rezende, os adolescentes estão cometendo crimes considerados hediondos cada vez mais cedo. Isto se deve, segundo ele, ao sentimento de impunidade que eles alimentam por não considerarem as penas estabelecidas pelo Estatuto da Criança e Adolescentes (ECA) como graves o suficiente para punição. Segundo o coronel, os jovens que comentem ato infracional e são internados na Fundação Casa consideram a medida socioeducativa como "prisão de chocolate". "Acompanhei a implantação do ECA e ao longo do tempo percebi que a cada ano os jovens estão mais agressivos e frios. O ECA tem punição branda e é preciso endurecer, a exemplo de países de primeiro mundo em que em alguns casos extremos, se o crime for excepcionalmente grave, pode haver a possibilidade de julgamento como adulto", explicou Rezende. "É claro que cada país tem sua própria legislação", emendou.

Por sua vez, o advogado criminalista e presidente da Comissão de Direito Processual Penal da Ordem dos Advogados no Brasil de São Paulo (OAB/SP), da subseção em Campinas, Salvador Scarpelli Neto, defende que a participação de adolescentes tão jovens em crimes está relacionada a questões sociais, que devem ser compreendidas e discutidas para solucionar o cerne do problema. "A violência urbana, em especial a cometida por pessoas tão jovens, incomoda e gera um grande impacto popular. Mas ela não se resolve com a redução da maioridade penal, que vai só inflar o sistema prisional. É preciso entender o motivo que leva esses menores a cometerem esses crimes", comentou.

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