Quem tem filhos sabe que, por mais cuidado que se tenha, ninguém está 100% livre de acidentes. Eles acontecem em casa, naqueles momentos em que a turminha fica ociosa e aproveita as horas livres para explorar os arredores, em viagens de férias e até em feriado prolongado. Às vezes, um de fim de semana na casa dos avós pode acabar mal. Por isso, toda atenção é pouca.
A professora de inglês Ana Cristina Grassi Tamiso passou por isso com os filhos. "Em nossa última viagem, Davi, hoje com 3 anos, estava correndo no hotel, caiu e bateu o rosto em um vaso. Resultado: nariz quebrado", conta Ana, casada com o empresário Augusto Mello Rosa e mãe de Ana Clara, de 10 anos, Manuela, de 8, e Pedro, de 6.
Os outros três também já deram sustos nos pais. No mesmo dia em que o caçula nasceu, Pedro teve que passar por uma cirurgia porque cortou o lábio num tombo em casa. Nas férias de julho do ano passado, Ana Clara foi parar no pronto-socorro. "Ela andava de bicicleta e, ao tentar desviar de um amiguinho, caiu e cortou a boca, que sangrou muito por causa do aparelho ortodôntico recém-colocado", lembra Ana. Mas não foi só isso. Praticante de ginástica olímpica, a garota já quebrou o pé ao tentar pular de uma janela e usou colar cervical por conta de uma cambalhota errada em casa.
Manuela não se livrou dos acidentes. Durante uma viagem ao Guarujá, a porta de vidro da sacada do flat onde a família estava estourou em cima da menina, que ficou coberta de cacos e teve pequenos cortes no corpo todo. O do pé, diz a mãe, demorou a cicatrizar. Apesar dos sustos, os casos envolvendo o quarteto não foram tão graves e tiveram o socorro adequado. Só que nem sempre é assim, e o saldo pode ser negativo.
De acordo com o Ministério da Saúde, anualmente, cerca de 4,7 mil crianças morrem e 125 mil são hospitalizadas vítimas de acidentes no Brasil. No mundo, o número de mortes por acidentes nessa fase da vida é de 830 mil todos os anos, conforme relatórios da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). A cada morte, outras quatro crianças ficam com sequelas permanentes. O acalento vem de saber que 90% desses episódios podem ser evitados com prevenção, ações educativas, alterações no ambiente e regulamentações adequadas, especialmente em casa.
"A vigilância é o mais importante para evitar acidentes e isso inclui prevenção. É muito mais fácil evitar do que tratar uma sequela porque, quando o acidente acontece, não tem muito o que fazer senão tratar os problemas provocados por ele", afirma a pediatra do Hospital de Clínicas (HC) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Andrea de Melo Alexandre Fraga. Ela ainda faz um alerta: o perigo mora bem perto, dentro de casa. Tanto é que um dos atendimentos mais frequentes na unidade referem-se à "síndrome do tanque". "Ocorre quando o tanque não está chumbado e a criança sobe no banquinho para ver o que tem lá dentro. O tanque cai em cima dela e acarreta lesão abdominal", informa.
De acordo com Andrea, traumas provocados por quedas são as ocorrências mais comuns envolvendo as crianças e os adolescentes que chegam ao HC. Intoxicações, afogamentos (que aumentam em dias quentes), sufocamentos e obstruções das vias aéreas vêm em seguida. Dados do Ministério da Saúde apontam que as principais causas de morte entre esse público são os riscos acidentais à respiração (sufocação na cama e asfixia com alimentos, entre outros), afogamentos e exposição a fumaça, fogo e chamas.
COMO PREVENIR
Traumas e quedas
- Crianças devem brincar em locais seguros, longe de escadas, sacadas, lajes e barrancos. Topo e base de escadas devem ter portões de segurança e, se elas forem abertas, é preciso instalar redes. Nas janelas, sacadas e mezaninos são necessárias grades ou redes de proteção com espaços de, no máximo, 6 centímetros.
- Menores de 6 anos não devem dormir em beliches. Se não houver opção, coloque grades de proteção nas laterais.
- Mantenha camas e outros móveis longe de janelas, para impedir que os pequenos os escalem e se debrucem para fora do prédio ou da casa.
- Capacete é fundamental na hora de andar de bicicleta, skate ou patins.
- Cuidado com pisos escorregadios. Utilize antiderrapantes em pisos e tapetes.
- As crianças devem ser observadas quando estiverem em parquinhos, pois o risco de lesão é quatro vezes maior se elas caírem de brinquedos com altura superior a 1,5 metro. Verifique se os brinquedos estão em boas condições e se são adequados à idade. O piso deve ser de grama, areia e borrachão com espessura acima de 3 centímetros, para diminuir o impacto de quedas.
- O uso de andadores é desaconselhado pela Sociedade Brasileira de Pediatria. Além de comprometer o desenvolvimento da criança, podem causar sérias quedas.
- Durante a troca de fraldas, segure o bebê com uma das mãos. Nunca deixe-o sozinho em mesas, camas ou outros móveis, mesmo que por pouco tempo.
- A queda de objetos pesados sobre a criança, como televisores, pode causar lesões graves e até morte. O ideal é supervisioná-la sempre e verificar se os móveis, além de fixos e estáveis, suportam bem o peso dos aparelhos.
Intoxicações
- Guarde produtos de higiene e limpeza, venenos e medicamentos trancados, fora da vista e do alcance das crianças.
- Mantenha-os em suas embalagens originais. Nunca coloque substâncias tóxicas em outra embalagem que não a de origem, como garrafas pet, por exemplo, para não confundir a criança.
- Leia sempre rótulos e bulas e siga corretamente as instruções para medicar os pequenos, baseando-se no peso e na idade deles.
- Não associe remédios a doces, pois isso pode levar a criança a pensar que não é perigoso ou que é agradável de comer.
- Remova as plantas venenosas ou deixe-as inacessíveis.
- Ao adquirir um brinquedo, certifique-se de que ele não contém componentes tóxicos.
- Bebês podem se envenenar respirando a fumaça de cigarros.
Afogamentos
- Nunca deixe uma criança sozinha na banheira, nem para pegar uma toalha. Apenas 10 segundos são suficientes para que ela fique submersa.
- Esvazie baldes, banheiras e piscinas infantis depois de usá-los e guarde-os virados para baixo, longe do alcance dos pequenos. Baldes com água devem ser colocados no alto.
- Conserve a tampa do vaso sanitário fechada, melhor ainda se lacrada com dispositivo de segurança. Se não for possível, tranque a porta do banheiro.
- Mantenha cisternas, tonéis, poços e outros reservatórios trancados ou com proteção que não permita mergulhos.
- Piscinas devem ser protegidas com cercas de 1,5 metro, que não possam ser escaladas e portões com cadeados ou travas de segurança. Alarmes e capas garantem mais proteção, mas não eliminam o risco de acidentes, por isso devem ser usados em conjunto com as cercas e em constante supervisão.
- Não deixe brinquedos e outros atrativos próximos a piscinas e reservatórios de água.
- Saiba quais amigos e vizinhos têm piscina em casa e, quando visitá-los com a criança, certifique-se de que ela será supervisionada por um adulto.
- Boias e outros equipamentos infláveis transmitem uma falsa segurança. Eles podem estourar, virar ou ser levados pela correnteza. O ideal é que a criança use colete salva-vidas quando estiver em embarcações, próxima a rios, represas, mares, lagos e piscinas e na prática de esportes aquáticos.
- Crianças devem aprender a nadar com instrutores qualificados, em escolas de natação especializadas. Se os pais ou responsáveis não sabem nadar, devem aprender também.
- O rápido socorro é fundamental para salvar quem se afoga – a morte por asfixia pode ocorrer em apenas 5 minutos. É importante que pais, responsáveis, educadores e pessoas que cuidam delas dominem as técnicas de primeiros-socorros.
Asfixia
- Corte os alimentos em pedaços bem pequenos.
- Bebês devem dormir em colchão firme, de barriga para cima, cobertos até a altura do peito com lençol ou manta presos embaixo do colchão e com os bracinhos para fora. O colchão deve estar bem preso ao berço (não deve haver mais do que dois dedos de espaço entre eles) e sem qualquer embalagem plástica.
- As grades de proteção do berço precisam estar fixas e não haver mais do que 6 centímetros de distância entre elas.
- Brinquedos, travesseiros e objetos macios devem ser retirados do berço enquanto o bebê dorme.
- Somente compre berços e brinquedos certificados pelo Inmetro, apropriados para cada faixa etária.
- Nunca deixe ao alcance da criança itens pequenos como botões, colar de contas, bolas de gude, moedas e tachinhas.
- Ao comprar cortinas ou persianas, procure modelos sem cordas para evitar que os menores corram risco de estrangulamento.
Fonte: ONG Criança Segura: www.criancasegura.org.br
ATENÇAO!
Em caso de acidente, o Ministério da Saúde recomenda chamar imediatamente o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) pelo 192. Os profissionais que fazem o atendimento orientam os procedimentos necessários para os primeiros-socorros e avaliam a necessidade de enviar ambulância.