O baixo volume de chuvas afetou o habitat de aves aquáticas e comprometeu a reprodução
O baixo volume de chuvas desde o início do ano deixou rios, lagoas e represas com nível de água inferior ao normal para esta época do ano, e afetou o habitat de aves aquáticas. A situação compromete a reprodução, alimentação e migração de espécies que vivem na região, como socós, martins-pescadores, biguás, patos, gansos, e socós-bois, aves que dependem da água e umidade para sobreviver. Segundo especialistas, a dimensão dos prejuízos será calculada somente a médio e longo prazo. No entanto, algumas dessas espécies que habitam a região correm até o risco de extinção. “Não é possível saber agora quais efeitos, isso só a médio e longo prazo. No ano que vem vamos observar as espécies que não estão aparecendo. As aves aquáticas precisam de água para a deglutição e para a reprodução, desde o acasalamento. Interfere em todos os efeitos biológicos”, afirmou a bióloga Danila Torres. “Os danos são irreparáveis. Não sabemos o que está acontecendo com o clima e isso afeta todo o equilíbrio ecológico”, completou. A veterinária Bruna Helena Campos, membro da Organização Não-Governamental (ONG) Instituto de Manejo e Pesquisa de Animais Silvestres (Impas), diz que a reprodução já está afetada porque o período de acasalamento é de novembro a março. Com a escassez de água, diversas espécies não conseguem se reproduzir, causando uma lacuna na geração de novas aves. Essas espécies só voltarão a encontrar clima propício para a reprodução no final do ano. “Estamos na época da reprodução, em alguns meses nasceriam os filhotes. Mas como não houve condições propícias, abre um buraco e pode sim levar até a extinção. Vai demorar dois ou três anos para ter uma nova leva de filhotes. As aves migratórias, por exemplo, só se reproduzem na chamada época das águas e do calor”, destacou Bruna. Outros problemas enfrentados pelas aves com o baixo nível dos rios e lagoas são a proliferação de bactérias, que podem contaminar os animais, e a desorientação das aves migratórias. Segundo a veterinária, as aves não são as únicas afetadas pelo baixo nível das águas. Além dos peixes, que naturalmente dependem da água, o clima atípico compromete espécies de répteis e anfíbios. “Os répteis e anfíbios precisam de água e umidade. Os ovos desses animais dependem da temperatura da margem e podem morrer”, explicou. Outro problema apontado pela bióloga Danila Torres é a alimentação das aves aquáticas, que fica totalmente comprometida por causa do desequilíbrio do habitat. “Algumas espécies se alimentam de peixes pequenos, por exemplo, que sumiram da região”, reforça. No entanto, a veterinária faz uma ressalva e diz que não é apenas o clima que interfere na vida das aves e outros animais que vivem nos rios, lagoas e represas da região. Ela lembra que a ação do homem também é prejudicial e traz problemas para a sobrevivência das espécies aquáticas. “Falta conscientização e dar valor. No Rio Atibaia, por exemplo, vemos até crianças jogando lixo no rio. Animais engolem sacolas plásticas e morrem”, conta. “Além dos problemas climáticos, a questão do lixo é um problema sério. A culpa não é só da natureza”, finaliza Bruna.