JOSÉ PEDRO MARTINS

Seca, APA, lixo

15/02/2014 às 05:00.
Atualizado em 26/04/2022 às 22:42

Escrevo na sexta-feira e, até agora, choveu um pouquinho, alegrou e refrescou rapidinho, mas a crise braba continua em toda região das bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ) e boa parte do País.No caso do Atibaia que abastece sete dos 19 municípios da Região Metropolitana de Campinas (RMC), é bom ressaltar que não se trata apenas de falta de chuvas. Não, o cenário devastador é resultado de muitas omissões, muitos equívocos.Podemos acentuar por exemplo a situação da Área de Proteção Ambiental (APA) de Campinas, criada em 2001 mas que ainda não tem um plano de manejo, quase treze anos depois. A APA abrange os distritos de Sousas, Joaquim Egídio e os bairros Carlos Gomes, Chácaras Gargantilha e Jd. Monte Belo. Área total correspondente a cerca de um quarto do território de Campinas.Na APA está a maior concentração de matas nativas remanescentes de Campinas (não inclui apenas a maior, a de Santa Genebra), sendo portanto onde está a maior biodiversidade, e a fonte de captação de água para 90% da população, no Atibaia, em Sousas. Sem falar no importante patrimônio histórico e arquitetônico e no Observatório Municipal de Campinas.O plano de manejo ainda não saiu por interesses econômicos, políticos e imobiliários, mas ele é fundamental para orientar a ocupação ordenada do território, evitando por exemplo mais assoreamento, destruição de matas ciliares e destinação inadequada de lixo, que muitas vezes acaba indo para os rios como o próprio Atibaia.Mas deve ser um plano elaborado de forma pactuada com toda sociedade, e não atendendo a interesses localizados. Até o próximo dia 18 haverá inscrição para candidatos ao novo Conselho Gestor da APA. Hora da cidadania se mobilizar, para assegurar visões melhores para a região de grande interesse ambiental e para a qualidade de vida.Do mesmo modo, a sociedade precisa refletir sobre o nosso sistema de destinação de resíduos, que está com sérios problemas conforme indica a recente e terrível estiagem. Fotos, e testemunhos pessoais, sobre o trecho do Atibaia no Distrito de Sousas mostraram toneladas de lixo no leito do rio, uma questão recorrente, há décadas.Claro indício de que o tradicional sistema de destinação de resíduos não funciona totalmente e de que a educação ambiental integral, permanente, crítica, transformadora, é um sonho bem distante.A situação não vai mudar, se não houver uma transformação completa de paradigmas na questão do lixo, com maior, muito maior investimento em redução, reciclagem e reuso, o que vai contra muitos interesses estabelecidos. Mas não há saída fora disso.E por outro lado, a educação ambiental - nas escolas, mas também na mídia e em todos espaços formadores - precisa ser muito mais intensa e qualificada. Sim, a população pode e deve fazer a sua parte, mas culpar apenas o cidadão é muito confortável para alguns poderes estabelecidos. Enfim, seja em relação à APA, seja em relação a resíduos e educação ambiental, muito, mas muito a ser feito, para evitar que situações como a atual se repitam e até em escala mais grave em futuro próximo.

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