Muita gente se surpreendeu com a notícia de que o hospital da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), pela primeira vez em 30 anos, suspendeu a internação de crianças com doenças respiratórias graves, que necessitam de monitoramento constante. O motivo: superlotação. Já havíamos comentado nesta coluna, há algumas semanas, que estávamos entrando no Outono, época de início na sazonalidade das doenças respiratórias, comum e previsível nesta época do ano. Mas este ano superou. Normalmente, têm-se aumentos da demanda nos serviços de pediátrica ambulatorial e hospitalar, que oscilam entre 20% e 30% acima da capacidade dos serviços; este ano, chegou a 100%. Estamos vivendo uma sazonalidade dentro da sazonalidade, com algumas peculiaridades. A maior prevalência sempre foi em bebês de seis a nove meses, mas, neste ano, bebês com poucos meses de vida já ocupam grande parte das estatísticas. Nesta época, circulam os tradicionais rinovírus, responsáveis pelo resfriado comum, e o temido vírus sincicial respiratório, responsável pelos quadros de bronquiolite. Os surtos de bronquiolite são comuns nos meses de abril e setembro, pela mudança na temperatura que deixa o ar frio e seco. Neste ano, porém, a doença chegou mais cedo e lotou consultórios, prontos-socorros, enfermarias e UTIs pediátricas. Novos vírus estão circulando, entre eles o metapneumovírus e o bocavírus, que causam quadros respiratórios mais graves do que seus antecessores. Bronquiolite é uma inflamação nos bronquíolos, pequenos canais que transportam o ar para dentro dos pulmões. Os sintomas começam parecidos com um resfriado comum (congestão nasal, tosse e espirro), evoluem para cansaço, chiado no peito, seguidos de tosse intensa e febre, que aparecem no segundo estágio da doença. A bronquiolite é comum em crianças de até dois anos, mas é mais agressiva em recém-nascidos de até seis meses, porque o sistema imunológico nessa faixa etária é imaturo. Bebês institucionalizados prematuramente em creches se expõem mais a esses vírus, aumentando o risco de adoecer. Outros grupos de alto risco são os prematuros, alérgicos e portadores de doenças crônicas (cardiopatias, por exemplo). Como prevenção, recomendamos o estímulo ao aleitamento materno exclusivo nos primeiros seis meses de vida e cuidados com hábitos pouco frequentes nesta época do ano: banhos de sol (qualquer hora do dia), janelas abertas para o ar circular, alimentação rica em vitaminas e minerais, com sucos, frutas, verduras e legumes, e a sempre importante higiene das mãos (dê preferência ao álcool gel) e narinas com soro fisiológico. Quando seu filho estiver “resfriadinho”, não o mande para a creche, pois ele pode transmitir vírus para os coleguinhas. Além disso, quando está doentinho, fica mais vulnerável à contaminação por outros vírus que os amigos levam e fica aquela “salada de vírus”. O último alerta: se você pensa que a situação está ruim, imagina no mês que vem, quando chegam os influenzas ou vírus da gripe. Não deixe de tomar a vacina contra a gripe.