DISPENSAÇÃO DE MEDICAMENTOS

Uso inadequado de remédios preocupa Saúde de Campinas

Automedicação é questionada por profissionais do setor sobre hábito não recomendado

Ronnie Romanini/ ronnie.filho@rac.com.br
09/05/2023 às 08:50.
Atualizado em 09/05/2023 às 08:50

Nos momentos de renovação de receitas, a prescrição de Omeprazol necessita ser reavaliada de forma crítica, considerando-se os riscos evidenciados para o uso crônico da medicação (Alessandro Torres)

A dispensação de medicamentos nas farmácias dos 66 Centros de Saúde de Campinas aumentou 7% entre 2019 e 2022. A Prefeitura não considerou 2020 e 2021 por causa da pandemia, que afetou os números. A preocupação com o uso inadequado de medicamentos fez com que a Secretaria de Saúde organizasse nesta terça-feira (9), no Salão Vermelho do Paço Municipal, um encontro com profissionais da rede municipal em defesa do uso racional de medicamentos e para discutir e alertar sobre o uso inadequado e a automedicação.

Durante a semana, os farmacêuticos das unidades de saúde também farão ações educativas sobre este tema tanto para os servidores como para os pacientes das unidades de saúde da rede municipal. Em todo mês de maio esse debate é retomado por conta do Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos, celebrado no dia 5 de maio. Este ano, há uma atenção maior para abordar mais profundamente dois tipos de medicamentos: os de Saúde Mental, como a Sertralina, e o Omeprazol, voltado ao tratamento de úlceras e gastrite.

"Percebemos que em 2019 não havia nenhum medicamento para a área de saúde mental entre os dez mais dispensados. Em 2020, apareceram dois medicamentos, a Sertralina e a Fluoxetina", contou a coordenadora da Assistência Farmacêutica da Secretaria de Saúde, Vivian Cristina Matias de Oliveira Nunes. A Fluoxetina saiu da lista, mas a Sertralina se manteve entre os dez mais dispensados no ano passado. A coordenadora analisou que a pandemia de covid-19 pode ter tido influência na aparição dos remédios para a saúde mental na lista, já que essa foi uma área bastante afetada. Ela afirmou que, não apenas na Saúde Mental, a medicalização também favorece o uso inadequado de medicamentos importantes.

"Temos visto uma medicalização da vida muito grande, para qualquer tipo de problema. Mesmo que a pessoa não precise, ela vai atrás do medicamento, seja para beleza, para emagrecer, vitaminas... às vezes a pessoa nem tem deficiência de vitamina e compra para tomar." Em relação ao Omeprazol, a preocupação levou a Secretaria de Saúde a atualizar há menos de uma semana a nota técnica sobre dispensação do medicamento, nota que foi aprovada pela Comissão de Medicamentos e Terapêutica, comissão de caráter deliberativo e que auxilia a Secretaria nestas questões. Enquanto a nota afirma que o Omeprazol é um medicamento seguro e efetivo para o uso, algumas precauções e recomendações são feitas.

"Em casos de necessidade de uso contínuo, sobretudo em pessoas idosas, é necessário o monitoramento dos níveis de ferro, vitamina B12, magnésio e cálcio de forma periódica, avaliando a necessidade de suplementação. Nos momentos de renovação de receitas, a prescrição de Omeprazol necessita ser reavaliada de forma crítica, considerando-se os riscos evidenciados cientificamente ao longo dos últimos anos para o uso crônico da medicação."

Ainda há a orientação para a interrupção do uso após um longo período, o que deve acontecer de maneira gradual e com acompanhamento de um profissional de saúde para avaliação dos resultados. Há um alerta também para as interações medicamentosas do Omeprazol, que pode reagir de maneira grave com alguns medicamentos.

"Há uma série de riscos do uso em longo prazo, não é um medicamento que pode ser usado de forma crônica se não há a indicação. É um medicamento que tem que ser bem indicado, não é para ser utilizado de forma contínua como temos visto. É um medicamento que chamou a nossa atenção porque se olharmos desde 2019 até o ano passado, não há, por exemplo, nenhum medicamento para diabetes entre os mais dispensados, mas o Omeprazol está na lista em todos anos".Vale ressaltar que o Omeprazol permanece sendo o medicamento de referência "para o tratamento de ulcerações gastroduodenais, refluxo gastroesofágico e outras derivações e síndromes com características semelhantes", de acordo com a nota técnica.

"Estamos falando de uso racional, não é para assustar quem toma. É para que os prescritores avaliarem se realmente esse medicamento é adequado ao paciente, se há a indicação de fazer o uso ou se há alternativas que poderiam substituí-los. Tem paciente que realmente tem a indicação, aí é orientar os pacientes para que tomem a dose adequada, dentro do período determinado pelo profissional da Saúde, para que não haja nenhum risco", disse Vivian.

A menção ao período determinado também é importante, pois um dos grandes problemas de saúde pública em todo o mundo é a resistência bacteriana, muitas vezes por uso indevido de antibióticos. "Uma pessoa tem que tomar por sete dias, por exemplo, mas em dois ela para de tomar a medicação porque os sintomas melhoraram. Isso gera resistência bacteriana. Isso também acontece com os medicamentos de doenças crônicas, como para hipertensão e diabetes. O paciente tem que tomar todos os dias e às vezes para porque a pressão arterial está normal, mas não é bem assim. Os valores podem estar normais justamente pelo uso correto da medicação."

AUTOMEDICAÇÃO

Um hábito não recomendado, mas que faz parte do cotidiano de muitos brasileiros, é o de se automedicar. A prática, totalmente contraindicada, pode levar a reações alérgicas, intoxicações e até o atraso de diagnóstico de uma doença mais grave. Vivian usou o exemplo da Dipirona, o medicamento mais dispensado na rede no ano passado. "O paciente está com dor, toma Dipirona e aí a dor passa. Pode ser que tenha alguma doença mais séria que ele está camuflando o sintoma e atrasando o diagnóstico", alertou.

ARMAZENAMENTO

Outra recomendação para o uso correto dos medicamentos é armazená-los adequadamente, geralmente longe da luz, do calor, umidade e fora do alcance de crianças. Pessoas que tomam diversos medicamentos todos os dias e retiram das embalagens originais precisam estar atentas. Em alguns casos, os princípios ativos dos medicamentos são sensíveis à luz e a exposição pode diminuir ou eliminar o efeito terapêutico buscado.

O armazenamento de diversos medicamentos fora das embalagens também pode atrapalhar a fiscalização da data de validade ou mesmo confundir o paciente. Em alguns casos, como da insulina, os medicamentos são refrigerados e precisam ficar armazenados na geladeira, mas há locais mais adequados e menos mesmo dentro dela. A porta da geladeira, por exemplo, tem uma grande oscilação de temperatura por constantemente ser aberta, o que a torna um local mais inadequado para estes medicamentos.

Medicamentos mais dispensados na rede municipal

O medicamento mais procurado pelos campineiros, com boa margem para o segundo mais requisitado, foi o Dipirona, com 190,5 mil dispensações. Completam o top 10 os seguintes medicamentos: Losartana (116,1 mil), Hidroclorotiazida (81,9 mil), Sinvastatina (76,9 mil), Ibuprofeno (73,5 mil), Omeprazol (72,8 mil), Anlodipino (65,2 mil), Sertralina (64,4 mil), Dipirona - gotas (64,3 mil) e AAS (61,4 mil).

A Organização Mundial da Saúde estima que mais da metade dos medicamentos são prescritos, dispensados ou vendidos de forma inadequada. Além disso, a utilização incorreta atinge metade dos pacientes.

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