PEDIDO DE APOIO

Unicamp busca alternativa para perda de recursos do seu complexo de saúde

Mudança feita pelo Estado na forma de remuneração dos serviços prestados fará com que setor perca até R$ 80 milhões por ano, calcula a universidade

Edimarcio A. Monteiro/ [email protected]
10/04/2024 às 09:15.
Atualizado em 10/04/2024 às 09:15
A Unicamp promoveu reunião com deputados estaduais da região para expor as dificuldades financeiras do seu complexo de saúde e pedir apoio para uma negociação com o Estado (Rodrigo Zanotto)

A Unicamp promoveu reunião com deputados estaduais da região para expor as dificuldades financeiras do seu complexo de saúde e pedir apoio para uma negociação com o Estado (Rodrigo Zanotto)

O governo paulista mudou a forma de pagamento dos serviços prestados pelo complexo da área de saúde da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), um dos principais do setor público do Estado de São Paulo, o que pode resultar em um corte nas verbas entre R$ 60 milhões e R$ 80 milhões por ano. O problema decorre da decisão do Estado de remunerar os serviços feitos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) pela prestação efetivamente realizada e não mais pelo valor do teto previsto em contrato. O alerta foi pelo diretor executivo da Área de Saúde da universidade (DEAS), Oswaldo da Rocha Grassiotto, ao participar de uma reunião com um grupo de dez deputados estaduais e representantes de outros dois parlamentares. O objetivo foi buscar apoio político para a abertura de um canal de negociação com o governo do Estado e evitar o agravamento das contas que sempre fecham no vermelho.

O raio de cobertura do complexo de saúde inclui 88 municípios, onde residem 6,98 milhões de pessoas. A estrutura é referência no atendimento de alta complexidade, como transplantes e câncer, mas também recebe pacientes de outros estados. O orçamento do setor em 2023 foi de cerca de R$ 1 bilhão, com a Unicamp, que cobre com recursos próprios em torno de 66% desse montante, tendo normalmente que destinar entre R$ 20 milhões e R$ 30 milhões adicionais por ano para cobrir o déficit nas contas no fechamento do exercício. Outros 33% das despesas são cobertos pelo SUS, com 1% tendo outras origens, como emendas parlamentares.

O complexo de saúde da universidade administra sete hospitais e sete Ambulatórios Médicos de Especialidades (AMEs), instalados em cidades a até 123 quilômetros de distância de Campinas, que é o caso de São João da Boa Vista. No passado, as unidades realizaram 34.287 internações, 35.469 cirurgias, 697.923 consultas médicas, 3.597 partos e 350 transplantes, além de outros serviços. Fevereiro passado foi o primeiro mês em que os serviços do SUS passaram a ser pagos pelo efetivamente realizado, o que resultou em uma redução de R$ 8 milhões no repasse de recursos.

REIVINDICAÇÕES

"Nós vamos fazer de tudo para não prejudicar o atendimento à população, mas é preciso encontrar uma solução", afirmou o reitor da Unicamp, Antonio José de Almeida Meirelles, o Tom Zé, que também participou da reunião. A reivindicação apresentada aos deputados para solução a curto prazo da redução das verbas foi a mudança do decreto estadual n° 67.095/2023 do SUS Paulista, para permitir que o complexo da área de saúde da Unicamp receba recursos desse programa. Atualmente, as verbas são destinadas apenas a santas casas e hospitais filantrópicos. A médio e longo prazos, a solução está na construção do Hospital Metropolitano em Campinas, para abertura de 400 a 600 novos leitos para atendimento de pacientes de baixa e média complexidades. "Essas medidas são complementares e não excludentes, uma tem que ser adotada em conjunto com a outra", afirmou o diretor do DEAS.

Os deputados apoiaram a reivindicação da Unicamp e se comprometeram a intermediar uma reunião com o secretário estadual de Saúde, Eleuses Paiva, ou com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) em busca de uma solução. 

CÁLCULOS

De acordo com projeção feita pela Diretoria Executiva da Área da Saúde da Unicamp, o pagamento por produção deverá representar um repasse de R$ 184,53 milhões este ano, valor 30,1% menor do que os R$ 264 milhões se os serviços fossem remunerados pelo SUS Paulista. Mesmo assim, esse último mecanismo traz uma perda em comparação aos R$ 276 milhões que a instituição receberia com a manutenção do pagamento pelo valor do teto previsto em contrato.

Segundo Oswaldo Grassiotto, a universidade é penalizada duas vezes com redução no repasse de recursos. No caso do Hospital de Clínicas, 60% dos atendimentos são do pronto-socorro, que realiza os serviços com as menores remunerações feitas pelo SUS. Porém, esse atendimento de emergência retira médicos que realizariam cirurgias eletivas de alta complexidade, como do coração e ortopédicas, que é a vocação natural do HC e que geram valores mais altos.

"Isso acontece porque trabalhamos com um pronto-socorro com as portas abertas, atendemos todos que procuram, e isso vai continuar. Temos que atender as pessoas que nos procuram", disse o reitor Tom Zé. De acordo com o DEAS, no segundo semestre de 2023 o PS realizou 27.728 atendimentos, dos quais 86,2% foram por procura espontânea, ou seja, os pacientes vão diretamente para a unidade, sem procurar um posto de saúde ou outro serviço em sua cidade. Outros 6,5% foram encaminhados pela Central de Regulação de Ofertas e Serviços de Saúde (Cross), órgão da Secretaria Estadual de Saúde que administra as vagas regionais; 2,8% foram levados pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu); 0,2% pelos serviços de emergências das rodovias que cortam a região ou pelo helicóptero Águia da Política Militar; e 2,7% têm outras origens.

MANIFESTAÇÕES

Para Oswaldo Grassiotto, essa demanda no pronto-socorro poderia ser reduzida se os pacientes permanecessem em suas cidades de origem ou fossem orientadas a buscar a rede básica de saúde, que seria o local correto para o atendimento. "É mais do que justa a reivindicação da Unicamp. Nós temos que resolver esse problema o quanto antes", disse o deputado Barros Munhoz (PSDB), lembrando que muitas pessoas de sua cidade de origem, Itapira, procuram o HC da Unicamp.

O parlamentar Dirceu Dalben (Cidadania) também defendeu a posição da instituição e ressaltou que a promessa do governo estadual de contratar serviços ociosos da rede particular para desafogar a rede pública de saúde não foi implantada na região de Campinas. "Faz quase um ano e meio que isso foi prometido, mas nada foi feito. Também não avançamos na criação do Hospital Metropolitano", afirmou.

O reitor da Unicamp, Tom Zé, reforçou que trabalha para que a universidade ceda a área para a construção do novo hospital para garantir sua viabilização. Para a deputada Ana Perugini (PT), ao criar o SUS Paulista, faltou ao governo do Estado ouvir todos agentes envolvidos e defendeu mudanças no decreto. "A Unicamp precisa ser ouvida. Ela tem expertise no SUS", disse.

A Secretaria Estadual de Saúde (SES) divulgou, por meio de nota oficial, que "os hospitais públicos não foram incluídos por já disporem de orçamento público", referindo-se ao SUS Paulista. De acordo com a pasta, "a Tabela SUS Paulista corrige o subfinanciamento da tabela SUS federal, complementando com recursos do tesouro do Estado o montante mensal de R$ 27.440.602,17, para aproximadamente 102 prestadores filantrópicos das Redes Regionais de Atenção a? Saúde de Campinas". Sobre o Hospital Metropolitano em Campinas, "o projeto está sob discussão e estudo entre o Departamento Regional de Saúde (DRS) de Campinas, os gestores locais e a SES", acrescentou.

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