MAIS UM RECORDE

SUS municipal atinge marca inédita com 838 mil pessoas

Sistema cadastrou 54 mil novos pacientes neste ano, 7% a mais do que em 2023

Luis Eduardo de Sousa/[email protected]
03/06/2024 às 23:55.
Atualizado em 03/06/2024 às 23:55
 (Kamá Ribeiro)

(Kamá Ribeiro)

Apesar do crescimento lento da população de Campinas, conforme o Censo Demográfico de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) continua a aumentar, destacando a crescente demanda pelos serviços públicos de saúde.

De acordo com dados divulgados pela Secretaria Municipal de Saúde, Campinas conta atualmente com 838.139 dependentes do SUS, o que representa 73,6% da população total de 1.138.309, segundo o IBGE. Este número inclui os usuários que dependem exclusivamente do sistema público para todos os tipos de procedimentos de saúde.

Os dados indicam um aumento de 26,86% na população dependente do SUS desde 2021, ano em que o total de usuários era de 660.637. Em números absolutos, isso equivale a um acréscimo de 177,5 mil pessoas, o que corresponde a três vezes a população de Jaguariúna necessitando exclusivamente da saúde pública em pouco mais de três anos. A administração municipal vê esse aumento de demanda como um desafio, mas atribui a maior procura a uma melhoria no atendimento. No entanto, usuários ouvidos pela reportagem discordam dessa avaliação, afirmando que enfrentam uma equipe cada vez menor para atender um número crescente de pacientes.

No primeiro quadrimestre deste ano, houve um incremento de 54,3 mil novos usuários cadastrados, um aumento de 7% em comparação com o mesmo período do ano passado. A evolução do número de usuários do SUS ao longo dos anos foi a seguinte: 2021 - 660.637; 2022 - 727.284; 2023 - 783.780; 2024 - 838.139.

Campinas tem enfrentado dificuldades para lidar com o aumento significativo de pacientes nos últimos meses, especialmente nos atendimentos de urgência e emergência realizados pelas unidades de pronto atendimento (UPAs) e hospitais municipais, administrados pela Rede Mário Gatti. Recentemente, o Correio Popular noticiou que os hospitais Mário Gatti e Ouro Verde estão operando com 100% de ocupação dos leitos, e pacientes relatam esperas de até 15 horas por atendimento nessas unidades. A Rede Mário Gatti justificou a maior procura pelos serviços devido ao surto de dengue que a cidade está enfrentando, atingindo a marca histórica de 100 mil casos.

Nos Centros de Saúde, responsáveis pelos atendimentos primários, a situação é mais controlada, embora também enfrente dificuldades devido à alta demanda.

Amado Ferreira de Almeida, de 64 anos, aposentado, sente falta do plano de saúde que possuía quando era mais jovem, como benefício de um emprego anterior. Ele destaca a agilidade nas consultas como o maior benefício do plano privado. "No geral, acho que hoje em dia está tudo parecido, tem que esperar de qualquer jeito, seja no público ou privado. Tudo demora, está difícil em tudo. No plano de saúde, pelo menos as consultas eram mais rápidas, na minha opinião. E mesmo que demorasse, ainda tinha de quem cobrar, já que é um serviço pago", comenta Almeida.

Carla Bueno, advogada, sempre teve plano de saúde, mas deixou de usá-lo há três anos por questões pessoais. Atualmente, usuária do Centro de Saúde do Taquaral, ela aponta diferenças significativas entre os serviços público e privado. "Sempre tive plano bom, sempre fui muito cuidadosa com isso. Quando passei a usar o serviço público, me surpreendi com o atendimento odontológico, que é muito bom no CS, e não posso reclamar do atendimento na unidade do Taquaral. Mas, há deficiências, sim. Não consigo endocrinologista, não consigo psicólogo, não consigo dermatologista, enfim, me parece que o acesso é difícil para a maioria dos especialistas enquanto na unidade fica apenas um clínico geral", diz Bueno, lembrando de uma eficiência maior nessas áreas no serviço privado.

Márcia da Silva, de 52 anos, e sua filha Suzana, de 22, afirmam categoricamente que optariam por um plano de saúde assim que possível. "Infelizmente, com a remuneração que tenho como empregada doméstica não consigo pagar, mas sem sombra de dúvidas gostaria de ter novamente. Não tem comparação, a demora no SUS é muito grande", afirma Márcia, que aguardava por atendimento no Centro de Saúde do Jardim Aurélia há cerca de duas horas. "Ela (Suzana) teve até 18 anos e, embora tenha usado pouco, ajudava muito", complementa.

DESAFIO

Apesar do aumento da demanda por serviços de saúde pública exigir mais financiamento, a Secretaria Municipal de Saúde de Campinas considera que a maior adesão ao sistema público reflete a crescente confiança no trabalho realizado.

"Assistencialmente, estamos cada vez mais demonstrando a eficácia da atenção primária. A população tinha um descrédito, e com o passar do tempo, está percebendo que o SUS resolve a maioria dos problemas", afirma a diretora municipal de Saúde, Mônica Macedo Nunes.

No entanto, ela ressalta que o contexto financeiro do Brasil pós-covid-19 é desafiador. "É normal que, diante de dificuldades financeiras, as famílias optem por cancelar convênios médicos primeiro", complementa Nunes.

O aumento da demanda, contudo, exige maior financiamento para acompanhar o crescimento no número de atendimentos. Os 68 centros de saúde de Campinas realizaram 982 mil atendimentos no primeiro trimestre deste ano, um aumento de 20,9% em comparação aos 811,6 mil atendimentos registrados de janeiro a março de 2023.

"É positivo o aumento da demanda, uma vez que a missão do SUS é atender a essa necessidade. No entanto, o município precisa de recursos para suprir essa demanda. Estado e União precisam responder a essa necessidade, mas, às vezes, há um intervalo considerável entre o aumento da demanda e o incremento do repasse de recursos, o que nos deixa por um período razoável arcando sozinhos com o aumento", explica Nunes.

Sobre a demora no atendimento apontada por usuários, Nunes defende que a epidemia de dengue, a maior da história de Campinas, contribuiu para os longos tempos de espera, já que casos mais graves foram priorizados. "Durante a epidemia de dengue, não conseguimos atender com normalidade, independentemente da estrutura do município. Precisamos atender a demanda com os recursos humanos disponíveis até que possamos melhorar, e isso é importante que a população entenda", conclui Nunes.

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